Em um mundo globalizado e altamente tecnológico como o da atualidade é comum encontrar bebês brincando com celulares, pequenos de três ou quatro anos com seus próprios tablets e crianças de diferentes idades gastando horas em frente à TV. Essa aproximação das novas gerações à tecnologia não é proibida, mas pode acarretar diversos problemas se não for utilizada com equilíbrio.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, por exemplo, chamou a atenção para o fato de 58,2% das crianças com até nove anos passarem mais de três horas assistindo televisão, maior percentual para essa atividade entre todas as faixas etárias. Outra pesquisa divulgada pelo mesmo instituto em 2012 afirmou que 80% dos brasileiros são sedentários, o que mostra que a população não tem dedicado tempo aos exercícios e, consequentemente, não incentiva seus filhos a praticarem atividades físicas e se afastarem das telinhas.
De acordo com o médico pediatra Edson Luiz Sobânia, isso é preocupante porque o exercício na infância proporciona estímulos motores e de interação, e também é coadjuvante na prevenção de inúmeras doenças. “Por isso, é necessário que os pais incentivem os pequenos logo nos primeiros anos de vida com atividades como natação e, a seguir, no período pré-escolar e escolar com atividades que incluam esportes coletivos”, explica.
Segundo o educador físico Gustavo Tanaka Zelaga, pós-graduado em psicomotricidade relacional, essas atividades estão disponíveis em academias, núcleos esportivos e podem acontecer até mesmo em casa. “Você pode incentivar seus filhos a frequentar aulas de ginástica rítmica, balé, artes marciais ou aproveitar os momentos familiares para sair andar de bicicleta com eles”, comenta.
Isso, de acordo com o professor, melhora o tônus muscular, a flexibilidade e a coordenação das crianças, mas os principais benefícios estão em aspectos que contribuem para a educação e formação do caráter. “Atividades em grupo podem ajudar na capacidade social, a dança ajuda no desenvolvimento do ritmo, disciplina e consciência corporal, e as artes marciais proporcionam o desenvolvimento do respeito, limites e concentração. Assim, estaremos formando um cidadão ativo na sociedade ao distanciar esse pequeno de hábitos destrutivos como drogas e a violência”.
Como escolher
Ainda que os pais conheçam esses benefícios, muitos ficam receosos a respeito da escolha de uma modalidade em que o filho possa se machucar. No entanto, o professor de educação física Ivan Maia garante que os pequenos se adaptam facilmente a qualquer atividade. “Independentemente do porte físico da criança, ela corresponderá ao esperado se a atividade for apresentada de maneira interessante”, afirma.
Por isso, é importante procurar um profissional qualificado e também deixar o sedentarismo de lado para que a criança veja o exemplo dos pais e tenha vontade de seguí-los. “Eu comecei a fazer aulas de jiu-jitsu e levava minha filha Gabriela, de sete anos, para assistir. Aos poucos, ela foi percebendo que outras mulheres também praticavam a modalidade, e ficou com vontade. Eu a matriculei há um ano e hoje ela é aluna de jiu-jitsu e de natação”, conta o pai Evangelo Cardozo, que viu a filha deixar a timidez de lado para conversar com os coleguinhas e ainda adquirir mais respeito e disciplina em casa e na escola. “É uma alegria pra nós vermos que ela melhorou tanto e que se sente feliz fazendo essas atividades”, completa a mãe Arhadia Cardozo.
Andrea Gondek também percebeu mudanças. Mãe do pequeno Bernardo Rafael, de nove anos, ela queria uma atividade que lhe desse mais estímulos na parte de coordenação motora, então optou por algo diferente: aulas de motricidade. “Essa modalidade envolve atividades muito específicas com a mão e com o corpo, então ajuda na coordenação motora, na postura, auxilia na firmeza da mão para escrever, e ele ainda realiza atividades especiais para manter o peso”, explica Andrea, que hoje vê seu filho mais flexível, forte e com mais energia. “Sem contar que ele ficou bem responsável e melhorou na parte de sociabilidade afetiva e coordenação motora”, comemora.
Com exemplos assim, professores e especialistas da área apenas incentivam os pais a terem as mesmas iniciativas. “Leve seu filho para uma avaliação médica e receba as orientações necessárias a respeito das atividades que ele pode fazer”, aconselha o pediatra Edson. “Depois, identifique locais apropriados e principalmente profissionais capacitados para adequarem as atividades à idade da criança levando em consideração a fase do desenvolvimento dela, sua maturação física, emocional, psicológica e social”, completa o professor Gustavo. “Afinal, se seu filho desenvolver esses hábitos e levá-los para a fase adulta, você terá dado a ele um dos melhores presentes que um pai e uma mãe podem dar: uma vida mais longa e saudável”, garante o professor Ivan.
Texto: Raquel Derevecki / Fotos: Everson Santos