Debate transoceânico

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email

O premiê chinês Li Keqiang repetiu, nesta semana, as afirmações do presidente do país que é a segunda maior economia do mundo, Xi Jinping, que também esteve aqui em visita oficial no mês de janeiro. Assim, confirma-se a decisão do gigante asiático em investir R$ 759 bilhões(250 bilhões de dólares americanos) na América Latina, nos próximos dez anos. Após reunião com a presidente Dilma Roussef, em Brasília, os dois líderes fecharam 35 acordos em várias áreas. Os tratados envolvem áreas de infraestrutura, energia e mineração, onde atuam gigantes brasileiros como Petrobras, Vale e Embraer. Companhias do setor bancário, telecomunicações, ex­por­tação de carnes e energia nuclear também serão beneficiadas, neste momento de dificuldades econômicas em que o país necessita de novos investimentos. Segundo o governo brasileiro, os acordos recém firmados envolvem mais de US$ 53 bilhões (R$ 160 bilhões). A Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e de Comércio da China (ICBC) firmaram outro acordo, que criará um fundo destinado a projetos de infraestrutura, com recursos chineses da ordem de R$ 150 bilhões. Porém, o projeto que mais chama a atenção é o que prevê o início de estudos para a construção da ferrovia que ligará os oceanos Atlântico e Pacífico. A iniciativa facilitará sobremaneira o transporte de mercadorias entre os dois países, sendo que a China já é o maior parceiro comercial do Brasil. Além dos óbvios obstáculos de engenharia e dos impactos sociais ao longo do trajeto da ferrovia, certamente a iniciativa suscitará forte reação de ecologistas e de defensores de direitos indígenas ou até de pessoas com objetivos inconfessáveis. O provável traçado cortará um longo trecho da floresta amazônica, cruzando os estados de Tocantins, Mato Grosso e Acre. Por se tratar de um caminho de ferro, o impacto é certamente menor do que o causado pela abertura de uma rodovia. Uma estrada asfaltada desloca um número muito maior de pessoas para a região abrangida e modifica a região por onde passa de forma mais forte e permanente. Este tema exigirá um grande debate na sociedade brasileira, vez que seus reflexos se sentirão por muitos anos. O espantoso gigantismo dos números e as consequências econômicas, sociais e políticas, trarão forte impacto ao Brasil e ao mercado mundial. Todos os brasileiros deveriam se informar sobre o tema e reunir condições de opinar sobre fatos tão decisivos para nosso desenvolvimento como nação e como potência econômica mundial. É óbvio que os custos ambientais e sociais não podem ser menosprezados e precisam ser reduzidos ao máximo. Evitemos copiar discursos de pretensos salvadores da pátria, pois não podemos simplesmente deter nosso desenvolvimento. Precisamos encontrar o caminho que nos leve ao lugar que merecemos no cenário mundial. Um comércio exterior que consolide nosso país como mero exportador de matérias primas em estado bruto deve ser evitado, embora as dimensões continentais brasileiras nos permitam forte presença no mercado de commodities. Desenvolvimento a qualquer preço não é positivo, mas o Brasil tem condições reais de avançar muito mais e o debate de como esse avanço será feito diz respeito a todos os brasileiros.

Compartilhar
PUBLICIDADE