Belquis deixa a Secretaria de Assistência Social

Belquis de Fátima Ferreira atuou por 10 anos na Secretaria de Assistência Social
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A primeira-dama sempre esteve à frente de projetos e atividades
A primeira-dama sempre esteve à frente de projetos e atividades

Belquis de Fátima Ferreira atuou por 10 anos na Secretaria de Assistência Social
Belquis de Fátima Ferreira atuou por 10 anos na Secretaria de Assistência Social

Quem olha para a araucariense Belquis de Fátima Ferreira pode, em um primeiro momento, visualizar apenas a figura de uma primeira-dama. No entanto, em suas cinco décadas de vida, essa mulher construiu uma carreira como professora do município, passou pelo cargo de diretora do departamento da criança, atuou por 10 anos como secretária de assistência social, foi empresária e ainda ergue com orgulho os títulos de filha, irmã mais velha, esposa e mãe.

Com tanto trabalho, ela teve a alegria de chegar à tão sonhada aposentadoria no final de 2014 e, enfim, descansar. No entanto, ainda que tivesse essa chance, Belquis decidiu continuar atuante sem qualquer remuneração. “Isso era um sonho e, se hoje tenho essa escolha, escolho ser voluntária”, conta. Abaixo, os principais trechos de uma entrevista que O Popular fez com ela no final do ano passado.

Tempos de estudante

Eu nasci na área rural de Araucária, na região da Lagoa Grande, e comecei meus estudos no Capinzal. Ali, os alunos sentavam de dois em dois durante as aulas, então sempre tinha um coleguinha comigo. Só que, quando eu completei oito anos nós viemos para a cidade, e a primeira diferença que me marcou foram as carteiras individuais. Achei aquilo estranho!

Eu sempre gostei de estudar e aqui na cidade eu passei pela Escola Capitão Aristóteles Moreira, pelo Sagrado Coração de Jesus – que na época era público – cursei a 5ª e a 6ª no Szymanski e também fui para o Werka, onde estudei a 7ª e a 8ª”.

Decisão pelo Magistério

Minha mãe era professora, então ela foi minha musa inspiradora para que eu seguisse essa profissão. Só que, quando chegou minha época de ingressar no Magistério, o Szymanski estava sem a formação de professores, então eu e um grupo de amigas tivemos que sair batendo de porta em porta para conseguir 30 alunas interessados no curso. Foi um trabalho difícil, mas montamos uma turma com 36 estudantes.

Comecei o curso e, logo no 2º ano, tive uma grande oportunidade. Minha mãe estava grávida e pegaria licença maternidade por três meses na Escola David Carneiro, então ela conversou com o Departamento de Educação e perguntou se a filha poderia substituí-la nesse período. Eles aceitaram, e eu me apaixonei.

Dentro da sala de aula

Ser professor naquela época era muito difícil porque você precisava limpar a sala e preparar a merenda das crianças, mas também era muito gratificante porque você era alfabetizadora. Como não havia Jardim ou Pré, os alunos chegavam na escola sem saber pegar no lápis, e você precisava sentar com o aluno, colocar ele no colo, pegar na mãozinha e fazer cada contorninho com ele. Isso me marcou bastante.

Eu sempre fiz meu trabalho com muito amor, então, até me formar em 1985, fui chamada para substituir várias professoras. Três anos depois da formatura, tive a alegria de passar em 2º lugar no concurso para dar aula de História nas turmas de 5ª a 8ª e de ser aprovada em 6º lugar para lecionar de 1ª a 4ª.

Eu dei aulas de História até 1999, e sempre fiz questão de trabalhar questões sobre comportamento, além de estar próxima aos pais e à frente de formaturas de 8ª série. Minha ligação com os alunos era tão forte que alguns até foram meus padrinhos de casamento.

Mamãe Belquis

Eu dava aula nos dois padrões, mas quando meus filhos chegaram na idade escolar decidi abrir mão de um período em sala de aula. Eu sabia que meus filhos precisavam muito de mim naquele momento, então o ano 2000 foi o momento que eu tive para levá-los à escola e conversar com eles, nem que fosse para dar bronca. Além disso, sempre gostei de preparar o lanchinho e fiz isso até que eles chegassem ao segundo grau.

Infelizmente, era difícil me desligar totalmente do trabalho e dizer que em casa eu só seria mãe porque o professor leva os trabalhos e provas para corrigir fora do horário. Só que eu também não me desligava do trabalho de mãe porque, independentemente de onde eu estivesse, eu estava antenada no que eles estavam fazendo. É coisa de mulher ocupar todas as funções ao mesmo tempo.

A primeira-dama

Em 2001, o Olizandro ganhou para prefeito pela 1ª vez, e eu deixei a sala de aula para ser diretora do Departamento da Criança. Foi um período muito bom porque, enquanto na escola eu trabalhava o conteúdo e a formação dos pequenos, ali eu podia trabalhar o outro lado, ajudando a família de cada criança, então foi muito enriquecedor. Fiquei nessa função até 2005, quando aceitei o cargo de Secretária de Assistência Social.

Na nova função pude participar ativamente da implantação de diversos projetos como os Adolescentros, que atendiam quem saía das Casas da Criança e não tinha para onde ir, e também o Adolescente Aprendiz que, em parceria com o SENAI, dava a esses adolescentes a oportunidade do primeiro emprego. Era um trabalho bem especial com crianças que precisavam de atenção porque seus pais trabalhavam fora ou estavam em mães sociais, então para eles foi nossa dedicação.

Empreendedora

Só que em 2008 eu precisei encerrar meu trabalho aqui, então voltei para a sala de aula, cuidei da minha saúde e decidi partir para o ramo do empreendedorismo. Abri a loja CakiCafé, que foi a pioneira na cidade no ramo de presentes, bolsas e acessórios, e foi uma experiência bem legal. Hoje não tenho mais a empresa, mas ela foi a primeira a mostrar que isso tinha espaço na cidade, e outras lojas vieram para ocupar esse lugar.

Novos alunos

Enquanto cuidava da loja, também atuei como professora na Escola Papa Paulo VI e na Senador Marcos Freire. Foi interessante perceber a transformação dos alunos porque hoje eles cobram muito mais. Antes, o que o professor falava não se discutia, mas agora eles têm internet e toda informação na mão, por isso questionam mais. Já a questão do respeito e da educação é a mesma de 1980: ela vem de casa. A gente só tenta lapidar e incutir alguma coisa boa nessa criança para que ela se torne uma pessoa melhor. Foi isso que eu sempre procurei fazer.

De volta à Secretaria

Em 2013 eu voltei para a Secretaria, mas foi diferente dessa vez. Quando você tem dinheiro é possível fazer seu projeto, aplicar o valor necessário e ver a coisa acontecer. Sem recursos é mais difícil, então nossa equipe precisou ser muito criativa. Mesmo assim, criamos melhorias, tornamos os conselhos mais atuantes, implantamos o Conselho da Mulher e ainda deixamos elencados dois projetos, que é o Espaço da Mulher e a Patrulha Maria da Penha.

Além disso, também temos uma grande preocupação com os idosos porque a população está envelhecendo e todos precisam de qualidade de vida, então adiantamos um convênio com o Caminhos do Sol, ao mesmo tempo em que fizemos outro convênio com a entidade Quatro Pinheiros para atender crianças que precisam sair de suas casas e ir para a mãe social.

Estou aposentada!

Enfim, estou de malas prontas, mas vou com a sensação de que fiz o meu melhor. Tive falhas? Tive, mas sempre com a intenção de acertar, achando que estava no caminho certo. Eu reconheço isso e também deixo meu cargo com a consciência tranquila porque os profissionais da secretaria estão comprometidos em dar continuidade ao trabalho.

Como professora, posso dizer que aprendi muito com muitos e também pude passar um pouco da minha experiência para outros. Hoje tenho alunos médicos, dentistas, advogados, alunos que se tornaram trabalhadores autônomos e todos são pessoas de bem. Então, sinto que contribuí um pouquinho com isso e fico muito orgulhosa. Inclusive, vi esses dias o depoimento de um antigo professor e me emocionei porque ele falava exatamente o que estou sentindo ao me aposentar: alegria e tristeza. Alegria porque sei que a missão foi cumprida e tristeza porque acredito que ainda poderia fazer mais. Só que nossa vida é feita de escolhas, e hoje eu escolho me afastar e deixar espaço para outros profissionais tão apaixonados como eu.

Serei voluntária

Eu passei por muitas dificuldades na minha vida, mas fui privilegiada com uma grande oportunidade e soube aproveitá-la. Por isso, quero ajudar outras pessoas a receberem oportunidades de qualificação e do primeiro emprego. Também vejo que muitas ONGs de nossa cidade poderão ser fortalecidas se caminharmos mais próximas, então farei um trabalho voluntário auxiliando essas instituições.

Isso era um sonho e, se hoje tenho essa escolha, escolho ser voluntária. Serei presidente de honra da APMI com o compromisso de estar atuante sem qualquer remuneração.

Só quero agradecer

Esse é um momento muito importante da minha vida, então só tenho que agradecer aos colegas de trabalho, a todos os alunos, aos meus pais, ao meu marido que sempre me apoiou em todas as minhas decisões, aos meus filhos que foram compreensivos na minha ausência e a Deus. Hoje eu morro de orgulho da minha família e dos meus filhos, e posso dizer com certeza que sou uma mulher realizada.

Texto: Raquel Derevecki / Fotos: Divulgação / ACS

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