Casos de suicídio não param de crescer em Araucária

Vários métodos são utilizados pelas pessoas que tentam ou conseguem tirar a própria vida
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Casos de suicídio não param de crescer em Araucária
Vários métodos são utilizados pelas pessoas que tentam ou conseguem tirar a própria vida

 

Diante dos recentes casos de suicídio e de tentativas registrados em Araucária, o médico Luciano Sankari, que trabalha no Centro de Atendimento Psicossocial – CAPS II aponta possíveis razões para esse fenômeno. Para ele, entre os fatores que podem levar a pessoa a tirar a própria vida estão os transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar de humor, transtorno de personalidade; quando a pessoa não consegue encontrar de forma lógica, uma saída para os seus problemas e vê o suicídio como a última saída; e em situações mais raras, quando a pessoa tem alucinações e ouve uma voz de comando ordenando ela a se matar. “Mesmo que seja uma pessoa normal, precisamos sempre encarar o suicídio como um transtorno mental. No centro atendemos uma média de 3 a 4 pacientes novos por semana, que chegam no emergencial com ideação ou após já terem tentado o suicídio. Todos devem ser tratados com a devida gravidade. Quando o paciente tem ideias fixas e permanentes, o caso é mais grave, e se ele tem ideia e já fez alguma tentativa, o nível de gravidade é ainda maior”, explica.

O médico exemplifica os passos de quem tem propensão ao suicídio e os enumera: 1) Pensamento, 2) Pensamento com planejamento e 3) Execução. O tratamento, de acordo com ele, é sempre feito com psicoterapia e, em casos mais graves, com o uso de medicações. “A maioria dos casos acontece no início da idade adulta ou entre adultos jovens. A boa notícia é que a maior parte de quem já tentou o suicídio sempre se arrepende”, diz o médico.

Possíveis gatilhos

Luciano Sankari também aponta algumas situações que podem estar contribuindo com o crescente número de casos de suicídio. Um deles seria a revisão dos benefícios do INSS, que está fazendo com que muitas pessoas fiquem abaladas com a ameaça de perder o benefício. O desemprego também é um vilão e pode representar cerca de 30% dos casos de pacientes que chegam até o CAPS com este quadro. A crise financeira do país aparece na lista, porque é responsável pelas dívidas que muitos contraíram e não estão conseguindo pagar. O fato de algumas famílias estarem com todos os seus membros desempregados é outro fator que tem levado muitos ao desespero.

Balanço

Hoje o CAPS II atende cerca de 5.900 pacientes adultos, com idade acima de 18 anos, destes, cerca de 80% já tentaram ou tem ideação forte para o suicídio. Outro fator interessante que o médico do sistema aponta é que as mulheres tentam mais suicídio que os homens, mas conseguem menos, enquanto os homens tentam menos que as mulheres, mas conseguem mais.

Além de todos esses fatores, o médico explica que a falta de limites e de atividades para o jovem, que acaba não vendo muito sentido na vida e fica desmotivado, faz com que ele, ao se deparar com um desafio muito grande, acabe ficando com medo e tentando o suicídio. A auto-agressividade também aumenta este risco. “Por isso é importante alertar os familiares para que tratem com seriedade os casos de pessoas que dizem que vão se matar e fiquem atentos às mudanças de comportamento. Hoje a falta de diálogo tem levado as famílias a desconhecerem os riscos, a desconhecerem o que está acontecendo com o filho, por isso, é importante que todos conversem. Isso sem contar que a Internet também está contribuindo com a difusão de conhecimentos e isso tem colaborado para as pessoas conheçam vários tipos de auto agressão para resolverem seus problemas”, elucida.

Depressão foi o estopim que levou um idoso a tentar tirar a própria vida

A depressão foi o gatilho para o idoso A.K., de 73 anos, tentar o suicídio. Aposentado por invalidez, ele passa os dias em casa, em silêncio profundo, quase não come e nem conversa. A esposa conta que o marido começou a apresentar sinais da doença há cerca de cinco meses. “Ele foi ficando cada vez mais estranho, estava quieto demais, nem televisão ele assistia mais. Um dia cortou todas as árvores de frutas que tínhamos em casa, deu fim nos nossos cães, mandando meu filho levá-los para uma chácara. No começo achei que era consequência de um pequeno AVC que ele havia tido há tempos atrás, mas dias depois do corte das árvores ele teve uma crise forte de tremedeira, seus rins paralisaram e o levamos para o pronto socorro. O médico então revelou que ele estava com uma depressão profunda, e a partir daí os tratamentos com psiquiatra, neurologista e psicólogo começaram. Meu marido passou a tomar muitos remédios, até que um dia o pior aconteceu”, relatou a mulher.

Ela conta que precisou se ausentar de casa por alguns minutos para ir até o banco e o marido ficou sozinho. Quando voltou, presenciou a pior cena da sua vida: ele estava pendurado com um fio de varal em uma viga de madeira, com a corrente do cachorro enrolada no pescoço. “Ele já estava todo roxo, mas ainda respirava. Corri até a rua e pedi ajuda. Conseguimos socorrê-lo e levá-lo para o hospital, onde tiveram que serrar a corrente. Ele não falava coisas coerentes, dizia que o mundo iria acabar e por isso tinha cortado todas as árvores. Graças a Deus consegui impedir que ele tirasse a própria vida”, disse a mulher.

Ainda relatando a situação do marido, a esposa acredita que a depressão tenha começado quando ele teve que fechar a própria empresa por conta de dívidas que até hoje não conseguiu saldar. Agora ele fica em casa sem fazer nada e ainda tem os filhos que moram longe e o único que está por perto não dá atenção pra ele. Não tem sido fácil. Tenho medo de ir até a esquina comprar pão e ele tentar o suicídio de novo”, lamentou.

Mais de 10 casos foram consumados entre setembro de 2016 e agosto de 2017

Casos como o da mulher que morreu após se jogar no Rio Iguaçu, de um senhor que tentou se enforcar usando uma corrente para cães, de uma moça que tentou se jogar de um viaduto, chama a atenção para os vários métodos que as pessoas estão utilizando para tirar a própria vida. De acordo com o delegado de polícia de Araucária, Messias Antônio da Rosa, o aumento nos casos de suicídio não pode ser encarado como uma estatística corriqueira. “Hoje temos casos envolvendo pessoas de várias idades, de vários níveis sociais, isso precisa ser encarado com mais cautela. Desde que assumi a delegacia da cidade, em setembro de 2016, até a presente data, já foram registrados mais de 10 casos de suicídio consumados em Araucária. Acredito que entre os motivos mais relevantes estão as dívidas, casos passionais, brigas entre familiares e depressão”, diz.

O delegado explica que mesmo em casos de suicídio, sempre é aberto um inquérito para apurar se alguém auxiliou ou instigou a vítima. Geralmente aguardamos passar o luto da família e iniciamos as investigações”, ponderou. Na opinião dele, entre os meios mais utilizados estão o disparo de arma de fogo, enforcamento e queda de ponte, viadutos e outros locais de grande altitude.

 

Texto: Maurenn Bernardo / Foto: divulgação

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