Ao longo da última semana, aconteceram no fórum da cidade as audiências da fase de instrução e julgamento da ação penal oriunda da primeira fase da operação de Fim de Feira, que levou à prisão, no final do ano passado, o ex-prefeito Rui Sérgio Alves de Souza (PT). Além dele, outras seis pessoas também são rés no processo.
Nas audiências da semana passada foram ouvidas 87 testemunhas. Destas, 21 foram arroladas pela acusação, que é feita pelo Ministério Público, e o restante pelos sete réus. O juiz do caso, Sérgio Bernardinetti, também ouviu todos os acusados pelo MP de terem praticados crimes como concussão e lavagem de dinheiro, em associação criminosa (exigência de dinheiro para liberar valores de contratos com a prefeitura e, até mesmo, para firmar contrato), entre outros.
As audiências foram divididas em três etapas. Na segunda e terça-feira (8 e 9 de maio) foram ouvidas as testemunhas de acusação. Quarta e quinta (10 e 11) aquelas pessoas arroladas pelas defesas e na sexta-feira (12) foi a vez dos réus falarem. De uma maneira geral, os trabalhos foram tranquilos, sendo que houve poucos momentos de tensão na inquirição das testemunhas e dos réus.
Das falas dos acusados, destaque para os depoimentos de Rui e daquele que é acusado de ser o seu sócio no comando da organização criminosa, Joasiel Guilherme Soares. Rui, de uma maneira geral, negou que tenha se aproveitado do cargo para obter vantagem ilícita. Quanto ao dinheiro em que aparece recebendo no vídeo, ele disse que a filmagem foi feita antes que ele assumisse o comando da Prefeitura e que o dinheiro seria uma doação do empresário para ajudar em sua campanha para vereador, que era a vaga que ele concorreria antes da renúncia do ex-prefeito Olizandro José Ferreira (PMDB).
Ainda conforme Rui, em momento algum ele desconfiou que Guilherme ou outros secretários estariam achacando fornecedores da Prefeitura e que, se isso realmente foi feito, não teve seu consentimento. Quanto ao dinheiro utilizado por ele para comprar um Jeep Renegade no final do ano passado, o ex-prefeito disse se tratar de uma espécie de empréstimo feito por Guilherme para que ele pagasse posteriormente “como pudesse”. Em vários momentos da oitiva, Rui caiu no choro e reafirmou nunca ter utilizado o cargo de prefeito para obter vantagem ilícita.
Outro depoimento que chamou muita atenção foi o de Guilherme. Aparentando tranquilidade, ele disse que investiu em torno de R$ 1 milhão na campanha de Rui, entre dinheiro e disponibilização de estrutura. Boa parte do valor, conforme informou, foi por meio de caixa dois. Só para constar, à Justiça Eleitoral, o então candidato Rui declarou ter gasto menos de R$ 300 mil.
Guilherme também afirmou que jamais houve achaque a empresários e sim doações desses, bem como “repasses normais” de uma porcentagem do valor do contrato que eles tinham com a Prefeitura, uma prática que em seu entender é comum em muitos municípios do país.
Tanto Guilherme quanto Rui se recusaram a responder as perguntas feitas pelo Ministério Público. Como eles são réus no processo, o silêncio lhes é permitido, bem como até mesmo mentir.
Próximas etapas
Conforme o juiz Sérgio Bernardinetti, as oitivas da semana passada ocorreram dentro do planejado. Ele ainda fez questão de elogiar a postura tanto dos advogados de defesa quanto dos promotores, que em momento algum tumultuaram os trabalhos, o que contribuiu para que a maratona de inquirições fosse menos desgastante.
O magistrado explicou também que o processo está agora numa fase em que tanto defesa quanto acusação podem pedir novas diligências, sejam elas perícias ou mesmo a oitiva de novas pessoas. Tão logo isso seja feito, ele analisará os requerimentos e se manifestará pelo seu deferimento ou não. Concluída esta etapa, será aberto prazo para que as partes apresentem alegações finais e, em seguida, o processo voltará para ele sentenciar.
Texto: Waldiclei Barboza / Foto: reprodução
