Olizandro faz balanço de sua administração

Olizandro diz que crise o obrigou a mudar os projetos que havia pensado para a cidade
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Olizandro culpou a crise por não ter realizado o plano de governo que propôs
Olizandro culpou a crise por não ter realizado o plano de governo que propôs

Passados três anos e meio do início de seu mandato, o prefeito Olizandro José Ferreira (PMDB) recebeu a reportagem de O Popular em seu gabinete na última terça-feira, 28 de junho. Na oportunidade, falou sobre vários assuntos e não dei­xou de responder a nenhuma das perguntas, mesmo àquelas mais espinhosas.
Questionado sobre se exagerou ao fazer 365 promessas nas eleições passadas, ele afirmou que não e culpou a crise por não ter conseguido cumprir grande parte delas.

No bate-papo, ele ainda acusou os sindicatos que representam o funcionalismo municipal de promoverem ataques a ele com objetivos políticos, mas fez questão de isentar o “indivíduo” servidor. Olizandro ainda falou sobre cargos em comissão, o fechamento do NIS, a suspensão temporária da integração no transporte coletivo e a não reabertura do armazém da família.

Como não poderia deixar de ser, também falou sobre as eleições municipais deste ano e sobre seu estado de saúde atual. A seguir os principais trechos da entrevista, que foi inteiramente gravada em vídeo e poderá ser assistida em nosso site a partir da tarde desta sexta-feira, 1º de julho.

Texto: Waldiclei Barboza / FOTO: Marco Charneski
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O Popular: Prefeito, três anos e seis meses de administração, as pessoas nas ruas já sabem o que a Prefeitura fez, o que o senhor fez, como o senhor conduziu a administração. Mas, o que as pessoas gostariam de saber é o que não foi feito e o motivo pelo qual não foi feito. O que o senhor pode dizer para essas pessoas?

Olizandro: Primeiramente eu quero agradecer a oportunidade que vocês estão nos dando de falar para a nossa população. Nós tivemos uma campanha muito intensa em 2012, campanha em que nosso grupo foi vitorioso, pois ganhamos a eleição. E, ao ganhar a eleição, durante a campanha nós apresentamos um plano de governo, que, inclusive, levamos a registro de cartório. O objetivo naquele momento que nós vivíamos, que o Brasil vivia e que Araucária vivia uma situação especial, um momento pujante da sua história. Aqui estava sendo investido mais de 11 bilhões de reais através da Petrobras na remodelação da nossa refinaria e circulou muito dinheiro na cidade. O ISS, que é o Imposto Sobre Serviço, chegou a 300 milhões durante o período, isto quer dizer que houve um acréscimo que triplicou o imposto que todos conhecem. E, ao final de 2012, encerrou-se a obra da Petrobras. Nós assumimos o governo trazendo a responsabilidade de executar aquele plano de governo, e, de repente, nos deparamos com 300 milhões a menos no caixa da prefeitura para o mandato. Por outro lado, iniciava-se a crise mais perversa da nossa história e que nós estamos presenciando hoje, em que o país está curvando-se diante disso, não só aqui em Araucária, como no Paraná e em todos os municípios do Brasil. Nós estamos vendo hospitais fecharem as portas, a saúde vivendo o pior caos da sua história, a educação se esfacelando no país inteiro. No Paraná, não é diferente disso, e em Araucária também, em que pese a arrecadação ser um pouco privilegiada, mas sentimos esse impacto. Portanto, respondendo a tua pergunta, levamos à população uma proposta de governo, mas infelizmente como todo brasileiro, todo empresário, toda família mudou o rumo dos investimentos ou cortou a possibilidade de investimento. A família que gostaria de um carro novo, deixou de comprar o carro novo. O pai que pagava a faculdade particular para o filho, mandou o filho para a faculdade pública. Enfim, o empresário que estava programando a ampliação da sua empresa com a contratação de mais funcionários, acabou recuando e também adiou os planos. O Brasil inteiro suspendeu os planos, e para nós aqui não seria diferente. Tem muita gente dizendo “mas, prefeito, você não cumpriu o seu programa de governo”… Quem cumpriu os seus planos nos últimos quatro anos? O Brasil inteiro parou. E tem muita gente, inclusive, que cobra “mas por que você mudou o rumo?”. Nós mudamos o rumo para poder sobreviver. Nós hoje vivemos as realizações importantes de urbanização nos bairros, investindo em outros setores que não dependem dos funcionários públicos, da contratação de funcionários em função da folha de pagamento. Enfim, dando uma resposta global a sua pergunta, o que nós fizemos e o que nós deixamos de fazer. Nós urbanizamos a cidade inteira, que não era uma proposta de governo. Nós viemos com investimentos na saúde, na área do uniforme escolar e outros setores, compra de ônibus, reformando o sistema de transporte escolar e outros setores importantes nós avançamos. Mas aquele plano de governo especificamente nós não conseguimos realizar, como o Brasil inteiro não conseguiu realizar os seus planos elaborados há quatro anos atrás.

O Popular: Prefeito, mas mesmo assim, a gente tem que considerar, e o senhor há de concordar, que era um plano bem robusto, eram 365 propostas. E o senhor já está na vida pública há três décadas. Não foi exagerado aquele plano de governo? Porque, querendo ou não, a gente tinha uma noção de que a receita do ISS era temporária. Houve certo exagero, um excesso de otimismo por parte da campanha do senhor em propor aquelas 365 promessas?

Olizandro: Não era, porque aquela proposta que nós apresentamos em cartório, num custo real para que a população entenda, é uma proposta que custaria algo em torno de R$ 30 milhões. Toda aquela minha proposta custaria investimento de R$ 30 milhões. E, nós tivemos uma queda, só no ICMS, algo em torno de 120 milhões. Quer dizer, eu não arrecadei o dinheiro para poder realizar. Pelo contrário, eu poderia até ter encorpado mais a proposta se continuasse a arrecadação nos índices que se executava na época. Portanto, não foi exagerada. O que aconteceu é que nós, inclusive, em termos de investimento, superamos aquelas propostas. Se você for colocar em números, eu coloquei mais dinheiro no investimento do município nesses três anos do que se eu cumprisse basicamente aquelas propostas. Aquelas propostas custavam menos do que nós investimos hoje de uma forma diferente. Trazemos recursos de fora, mais de 120 milhões. Hoje nós estamos investimos na cidade, um pouco da prefeitura e dinheiro do governo federal e do governo estadual. Quer dizer, nós não paramos. Essa história de que o “prefeito deixou de cumprir o plano de governo dele”, foi que eu deixei de cumprir uma parte das propostas. Mas eu compensei com muito mais investimos trazendo dinheiro de fora. Jamais eu imaginava que no meio da crise mais perversa da nossa história, eu pudesse estar urbanizando a cidade inteira. Você acha que o seu João, que mora lá no Sol Nascente, lá no Marcelino, lá no Moteleski, ali no Pequim, aqui no Cachoeira, no Costeira, em qualquer bairro da cidade, ele imaginaria, que depois de trinta anos que ele estava pedindo o asfalto, a calçada, a iluminação, enfim. Por isso que eu entendo que a população, acredito que a população esclarecida, está entendendo este momento de crise e sabe que nós trabalhamos muito para poder compensar alguns itens que nós não pudemos cumprir no nosso plano de governo.

O Popular: Prefeito, nos últimos anos o país está passando por uma crise financeira e uma crise ética, e, é natural que todos os políticos sofram com isso. Todos os políticos são criticados, têm suas posturas questionadas em todas as esferas. Aqui em Araucária é fato que nos últimos anos a gente não teve nenhum grande escândalo ou caso de corrupção. Mas, mesmo assim, o senhor acha que acaba pagando por este momento, esse momento político nacional, essa crise ética que os políticos estão passando no país como um todo?

Olizandro: Pago, na verdade pago pelo seguinte, que por mais que nós passemos três anos e seis meses no nosso governo sem uma acusação ou sem nenhuma denúncia de corrupção, que isso para nós até num momento desses é razão de orgulho, por outro lado é obrigação fazer com que a gente evite qualquer tipo de ato de corrupção no governo… Mas, somos atingidos no governo porque o cidadão que está vendo o que aconteceu nos últimos anos, e o povo de um modo geral, o trabalhador que sai de manhã pra trabalhar e volta à noite. De manhã ele liga a televisão ou o radinho dele no ônibus e escuta só corrupção, mais um ato de violência no país, mais um ato de violência contra o erário público, contra o dinheiro que ele está indo suar o dia todo pra ganhar, volta à noite e novamente mais uma notícia de corrupção… O que leva um cidadão desses pensar? É a classe política como um todo. Até porque ele não está percebendo que o município, que o prefeito está trabalhando, que está fazendo. É muito difícil essa notícia chegar a ele. Ou a notícia que vem até ele é a notícia da imprensa maior, da rede Globo, das outras redes de televisão. E ele sai de casa imaginando, ele passa a régua geral, e para nós isso é muito difícil. Pra “você” que trabalha o dia todo e chega em casa e vê aquilo, imagina que o povo também está te colocando na mesma caçarola, no mesmo pacote, te deixa triste. Há tempos atrás quando eu fui prefeito, eu até nem realizava tanto, a gestão passada eu realizei menos que essa. Com todas as obras grandes, que fui conhecido como prefeito das grandes obras, mas eu saia na rua, a recepção eu sentia que era diferente, o povo tinha uma consideração maior pelo seu prefeito. Hoje não, hoje o povo olha desconfiado. Por que? Porque ele está vendo o ministro importante ir pra cadeia, corrupto. Ele vê o Presidente da República ser acusado das “lava-jatos” e outras investigações. Ele vê o problema da política maior, do governo do país sendo atacado pela corrupção, e ele compara. Ele nivela todo mundo como igual. Isso nos deixa triste. É difícil você falar com uma população desconfiada. Mas eu tenho superado isso. Tenho superado com as obras, com os investimentos, com a minha coragem de enfrentamento dessa situação. Então realmente, e infelizmente, a corrupção que atinge o país também acaba atingindo nós aqui no município de uma forma direta.

O Popular: Não raramente o senhor tem dito que considerando a crise nacional e que assola também o município, já é uma grande coisa não ter interrompido os serviços, os funcionários continuarem com os salários em dia, com décimo terceiro em dia, com algumas progressões. Mas, mesmo assim, o senhor tem sido muito criticado e atacado pelos sindicatos. Como explicar isso para a população comum de Araucária?
Olizandro: Eu entendo que os sindicatos mudaram muito. Antigamente, o sindicato representava tão somente o seu sindicalizado, o seu trabalhador. A vontade do trabalhador era respeitada na íntegra. E não existia o sentimento, a ideologia política dentro dos sindicatos. Hoje não. Hoje o sindicato continua, claro, “representando” seu trabalhador, mas prevalecem infelizmente as ideologias políticas. Por mais que você faça, que você atenda, ainda que em um momento difícil da gestão pública em função da crise, e, também no quadro funcional, mas aqui em Araucária nós estamos avançando repondo salários, pagando em dia os avanços por tempo de serviço, inclusive o triênio, que deve ser um dos poucos municípios que paga, nós estamos pagando décimo terceiro em dia. Estamos respeitando o servidor na questão salarial. Quanto às condições de trabalho, estamos fazendo o possível para manter as melhores. Isso na visão do trabalhador é clara, por isso eu tenho tranquilidade que o servidor público está respeitando o nosso governo. Mas, o lado político dos sindicatos, que têm interesse em candidaturas a prefeito, a vereador, pode-se fazer de tudo, criar programas, fazer investimentos de toda ordem que não vai mudar. Porque quando se existe uma vontade política contrária a que se está governando é impossível avançar nesse lado.

O Popular: E, prefeito, obviamente não são só os servidores que estão insatisfeitos com algumas ações do governo. Ao longo desses últimos três anos e meio houve algumas situações específicas que geraram certo desgaste junto à comunidade, como o fechamento do NIS, como a não reabertura do Armazém da Família, como as mudanças no transporte coletivo, que, embora continuou integrado houve mudanças que mexeram no dia a dia da comunidade e do usuário deste transporte, a falta de vagas em creches, e outros. Não faltou a prefeitura lidar melhor com isso, rever esses fechamentos, não faltou sensibilidade com essas questões que atingem diretamente a população?
Olizandro: A sensibilidade e a vontade política existiram e existem. O que ocorreu, e é bom que fique claro. Primeiro, o Armazém da Família: quando eu recebi o governo, em primeiro de janeiro de 2013, nós não tínhamos mais o governo com Curitiba. Quem coordena os Armazéns da Família da região é a capital que estabelece através da Secretaria de Abastecimento convênios com os municípios. Houve um pedido de cobrança, através de um pedido judicial, que no final do governo anterior a prefeitura de Curitiba acusa o município de Araucária de uma dívida, de um desvio de recurso, de algo em torno de dois milhões de reais hoje corrigidos. Com isso, o cidadão se pergunta por que o prefeito não reabriu o Armazém da Família? Eu fui atrás da prefeitura de Curitiba e quando eles pediram para que eu pagasse esses dois milhões de suposta corrupção praticada por membros do governo anterior, jamais eu faria isso, porque legalmente eu não posso, pois passaria a responder por isso. Foi aí que nós entramos na Justiça para tentar resolver essa situação e reabrir o Armazém. E, acredite ou não, qualquer um que procurar a Secretaria de Abastecimento de Curitiba vai ouvir a mesma coisa, que não foi autorizada a reabertura do Armazém da Família de Araucária enquanto não forem pagos os dois milhões que foram desviados. A Prefeitura de Curitiba afirma isso, desse dinheiro que supostamente foi desviado, e nós não podemos fazer nada. E outros prefeitos que vierem, outros mandatos, se não pagarem esta conta, não vão poder estabelecer convênios com a Prefeitura de Curitiba. Portanto, o Armazém da Família foi um bloqueio que foi realizado na gestão passada que nós não conseguimos reabrir.

O Popular: O senhor está falando de corrupção e corrupção é crime. O que foi feito por parte da prefeitura para investigar essa corrupção?
Olizandro: A prefeitura elaborou uma sindicância, colhemos todos os dados, a Prefeitura de Curitiba afirmando que houve desvio. Então fizemos todo o levantamento e todo o alimento que saiu da capital não tem registro de ter chego a Araucária. Nós fizemos nossa parte, denunciamos ao Tribunal de Contas, mas o processo ainda está em andamento. As defesas foram feitas e todos sabem que são lentos os processos judiciais, principalmente em uma situação dessas que envolve uma acusação da Prefeitura de Curitiba para Araucária, na gestão passada, e não há um registro claro de como isso foi feito. Não podemos entregar algo que afirme que está aqui o ato de corrupção, não podemos e nem temos como fazer isso. Por isso que o Armazém da Família não foi reaberto e dificilmente será reaberto com convênio com Curitiba. Aí você pode me dizer “mas você teria outra alternativa, por que não reabriu por conta própria?”, e eu te respondo porque é muito difícil em um momento de crise abrir um programa desses, sabendo que a saúde e a educação precisam de prioridade, nós acabamos levando o Armazém como uma segunda prioridade para ser colocada em prática mais para frente. Mas, não faltou vontade nem determinação. Porém, infelizmente a gestão anterior encerrou este convênio e nós não conseguimos mais reaver este investimento.

O Popular: A gente estava falando e o senhor começou a pontuar. Primeiro era o caso do Armazém da Família, na sequência o senhor ia falar da questão do NIS e da integração…
Olizandro: O NIS também se tornou uma polêmica. Já no meu mandato anterior como prefeito, a Vigilância Sanitária vivia questionando as condições físicas do prédio do NIS. Quando eu assumi o governo em 2013, tive um laudo da Secretaria do Trabalho e da Secretaria de Obras do município, outro da Vigilância Sanitária do Estado do Paraná e também da Vigilância Sanitária aqui da prefeitura condenando o prédio como um todo. Rachaduras enormes, local impróprio da sua construção em um banhado na década de 1990, que fatalmente será demolido futuramente. Por mais que você reforme, dois anos após as rachaduras voltam a aparecer. O investimento é muito grande para conseguir reformar o NIS do jeito que ele está. Então nós procuramos concentrar todo o atendimento 24h na UPA, temos as dificuldades que estão se apresentando, mas hoje temos um quadro dobrado de profissionais que tínhamos no NIS. Também temos o PAI que alivia os atendimentos na UPA por atender crianças no antigo hospital. Mas, não descartamos ainda o encaminhamento de um projeto novo para a construção de um novo 24h. Se não for agora, terá que ser construído com um novo 24h para o atendimento da população de Araucária.

O Popular: Prefeito, e a questão da integração?
Olizandro: A integração no transporte coletivo nos pegou de surpresa. A Comec resolveu reestruturar o transporte coletivo da região metropolitana de Curitiba, e, como Campo Largo e São José dos Pinhais não tinham a integração, então eles resolveram cortar a integração de Araucária também, alegando que era muito caro para continuar mantendo. E, aí, surgiu o caos que todos lembram, os ataques aos ônibus, a população revoltada. Nós tínhamos outra alternativa de buscar recursos, nós fomos esgotar todas as cobranças do governo estadual da Secretaria de Desenvolvimento Urbano para que mantivesse a integração em Araucária, mas não foi possível. Eles não nos atenderam. A partir daí, nós tomamos a decisão de bancar a integração. Claro que tivemos a colaboração, em parte, da Comec. Hoje nós investimos 400 mil reais por mês para manter a integração e esse transporte de qualidade que temos em Araucária. Portanto, se a integração existe hoje foi porque existiu vontade política. Nós poderíamos ter deixado como está São José dos Pinhais, Campo Largo e outras cidades, mas bancamos essa despesa e hoje mantemos a integração com a capital.

O Popular: A questão das vagas em creche…

Olizandro: Quando eu recebi a prefeitura, havia um déficit de cinco mil vagas. Em função de diversas dificuldades, que no primeiro ano de mandato houve a greve dos funcionários, enfrentamos dificuldades financeiras, visto que o choque foi muito grande no primeiro ano, mas hoje avançamos muito. Já resolvemos 50% desse déficit e agora estamos com a implantação de mais sete novos Cmeis, entre locados e novos que estão sendo construídos, nós não vamos conseguir zerar a fila, porque sempre está chegando mais gente, mas vamos nos aproximar, com certeza, de um número aceitável de atendimento às crianças que precisam estar nas creches hoje. Avançamos muito, hoje já temos um déficit bem menor. Não chega a duas mil vagas, para quem recebeu com cinco mil… Então nós já avançamos e vamos continuar.

O Popular: Como o senhor disse, nós estamos falando em uma gestão que investiu de forma pesada em reurbanização. O grosso desses recursos é oriundo de financiamento da SEDU, do Paraná Cidade, recursos vindo de empréstimos que o governo municipal terá que pagar ao longo dos próximos anos para o Estado, ou seja, que os próximos prefeitos terão que pagar. Não faltou, por parte do senhor nesses quatro anos, um choque de gestão nas finanças do município para que a cidade recuperasse sua capacidade de investimento e não dependesse tanto desses financiamentos externos para poder realizar novos investimentos?

Olizandro: Não faltou porque o choque de gestão interna foi feito. Nós recebemos uma prefeitura que gastava quase quatro milhões por ano em pagamento de aluguéis, e hoje não chegamos a um milhão de aluguéis. Nós recebemos a Companhia do Transporte Coletivo com um subsidio monstruoso. O ano de 2012 fechou o orçamento em 42 milhões, hoje, se seguisse o mesmo padrão, nós estaríamos com 70 milhões. Continuamos reduzindo, estamos com 38 milhões de gastos lá. Enfim, nós tivemos cortes, desde a contratação de carros, como um exemplo simples, pois a prefeitura quando eu assumi o governo estava com 156 veículos leves rodando por aí nas mãos dos funcionários, gastando gasolina, batendo carroceria para Curitiba, às vezes sete ou oito carros encontravam-se em Curitiba. Hoje nós funcionamos com 50 veículos, reduzimos em mais de 100%. A merenda escolar, que é algo que é preciso sempre ser ampliada, nós mantemos com mais qualidade e com menos custo. O transporte escolar da mesma forma. O simples cafezinho da prefeitura foi cortado. A luz, água diminuiu. Enfim, a gestão interna sofreu um choque muito forte. Houve uma economia ao ano, em torno de 20 milhões de reais só na situação interna. Considerando a CMTC e outros cortes maiores, nós podemos chegar a cortes verdadeiros que passaram e 100 milhões. Então, isso é gestão interna. Agora, o choque de gestão externa você tem razão… porque diminuir postos de saúde, reduzir a malha viária do transporte coletivo, enxugar todo esse sistema que foi criado ao longo dos anos é difícil. Nós temos uma cultura, a população de Araucária sabe que nós conseguimos dar estes benefícios. Manter hospital com qualidade, com três milhões por mês, conseguir manter o melhor transporte coletivo da região metropolitana, que duvido que encontre outra assim. Estou conseguindo manter, ainda, investimentos importantes em todas as áreas, que é um privilégio de quem mora no Guajuvira, no Bela Vista, ter sua unidade de saúde. Portanto, ainda não é momento de cortar da população. Internamente o choque de gestão foi feito. O que foi possível, foi feito. Você fala da contratação de empréstimos, não tínhamos outro jeito. 20% o município banca e vai atrás de recursos, que não se consegue de forma fácil. Araucária foi a única cidade da região metropolitana que conseguiu 120 milhões de investimentos. Todos os municípios fazem fila aguardando recursos, porque esses recursos serão pagos ao longo de 20 anos com juros muito baixos. Então a gente comemora poder passar um governo, comparando a outros, não que existam adversários passados, nem adversários políticos futuros. O que existe é uma comparação simples: o governo anterior investiu aproximadamente 18 milhões em toda a cidade, nós estamos investindo 120 milhões. Aí você me pergunta “mas o povo continua falando, reclamando, falando mal, prefeito?!”. O momento da crise cega todos nós. Onde falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão. Infelizmente é isso que está acontecendo. Uma fala lá do tempo da minha avó, a crise nos prejudica tanto que, por mais que você esteja fazendo muito, o povo não consegue ver. Em função de tudo aquilo que já falei: o quadro político desastroso a nível de Brasil que estamos presenciando hoje.

O Popular: Prefeito, mas esse choque externo, considerando o quadro atual das finanças do país, terá que ser feito em algum momento e terá que ser enfrentado, seja agora ou na próxima administração independente do prefeito. Há solução para isso? Há como continuar sem fazer esse choque externo?

Olizandro: Não. Eu acredito que o choque externo terá que ocorrer. Infelizmente, vai ter que surgir uma proposta menos agressiva à população mas terão que ocorrer alguns ajustes, seja no transporte coletivo, que leva um subsidio muito alto, o sistema de saúde nosso precisa ser repensado e até mesmo reavaliado em termos de atendimento. Tem que buscar manter a qualidade e reduzir custos, isso é muito difícil, nós temos trabalhado nisso. Mas, infelizmente, alguns cortes necessários podem desagradar à população. Mas, no futuro, isso será inevitável e terá que ser feito.

O Popular: Mudando um pouco de assunto. No primeiro ano de administração o senhor ficou afastado por 40 dias para tratar de um problema de saúde. Desde então, sempre surgem boatos de que o senhor não está bem, que terá que se afastar novamente. Como está sua saúde hoje? O senhor está em plenas condições de exercer o mandato de prefeito?
Olizandro: Desde a campanha em 2012, surgiu o diagnóstico de uma doença rara e grave. Na época eu fui até orientado a me afastar da campanha, por sugestão dos médicos em função de todo o estresse que é administrar uma cidade e viver essa guerra que acaba sendo a vida pública nos diversos enfrentamentos e embates. Nesses três anos e seis meses tive um afastamento, mas hoje minha saúde está controlada. Claro que há sempre uma preocupação, até devido às decisões futuras em relação à política, passam principalmente pela avaliação da saúde. Mas, hoje estou trabalhando normalmente, em condições de trabalho. Sempre com a preocupação de que essa doença não venha a evoluir de uma forma mais rápida. Não é também o que se fala por aí, encontro pessoas na rua e me perguntam “mas o senhor está bem, está aí de pé?!”. Mas é claro, a questão da saúde, em função desta doença, acaba atrapalhando um pouco.

O Popular: Em Araucária, existe uma cultura de colocar a culpa de tudo o que não está dando certo nos cargos em comissão. Araucária já chegou a ter 600 cargos em comissão. Hoje nós temos 320 cargos criados e 280 nomeados. Mesmo assim, há por parte da população, a percepção de que existe um exagero no número de cargos comissionados. O senhor concorda com isso? Ainda é possível diminuir o número de cargos em comissão no município?

Olizandro: É possível. Na gestão anterior, quando eu assumi, nós tínhamos 630 cargos comissionados. Eu reduzi para 330. E, é possível reduzir mais ainda, mesmo porque, diante da folha de pagamento, é o caminho mais fácil que nós temos. Nós não podemos diminuir salário de servidor concursado, nós não podemos retirar vantagens que o servidor conquistou ao longo do tempo, mas nós conseguimos diminuir estes cargos. Eu estou enviando para a Câmara um Projeto de Lei que reduz. Hoje, nós temos uma Lei que estabelece até 10% da nossa receita, do que nós gastamos com a folha de pagamento, nós podemos gastar com o servidor comissionado. E 7% do número de servidores concursados nós podemos contratar como comissionados. Isso quer dizer, dos 5 mil servidores que temos, essa porcentagem totaliza os 330 cargos que temos hoje, mas nomeados os 280. Nesse PL eu estou reduzindo os 10% para 7%, e os 7% para 5%. É mais um passo que estamos dando, sem demagogia, acreditando que o cargo de confiança também é um cargo especial. Esse negócio de que o CC não serve para nada, não é verdade. Em alguns setores específicos da prefeitura, nós precisamos dos cargos de confiança em funções técnicas. E, até mesmo, em questões políticas da cidade. Ela é contemplada muitas vezes, por pessoas que tem a força política ter aqui dentro um representante. Enfim, comparando Araucária a outros municípios, temos um dos índices mais baixos de CC’s e nós vamos reduzir mais ainda.

Olizandro diz que crise o obrigou a mudar os projetos que havia pensado para a cidade
Olizandro diz que crise o obrigou a mudar os projetos que havia pensado para a cidade

O Popular: Prefeito, um convite para uma reflexão: se o senhor tivesse a oportunidade de voltar para 2012 e reelaborar o seu plano de governo, conhecendo as condições do município hoje, o senhor faria as 365 promessas?

Olizandro: Não. Hoje nós não faríamos 365 promessas. Hoje nós faríamos um plano de governo em que eu viesse atender um momento de crise. Aquela época era um momento de expectativa, um momento pujante na nossa história. Hoje não. Hoje eu faria um plano de governo restrito à realidade da prefeitura, diante da situação financeira que estamos vivendo e dos números eu conheço. Conheço o orçamento e tenho a previsão do que nós vamos arrecadar. Então eu faria um plano de governo muito mais enxuto, dando sempre mais qualidade dentro das propostas, mas mais objetivo.

O Popular: E para finalizar, prefeito. Estamos às vésperas de mais um período eleitoral. O senhor pode ser candidato à reeleição, a legislação permite isso. E, essa é uma pergunta que as pessoas têm feito por aí, embora o senhor dê indícios de que não pretende ser candidato à reeleição. Então, uma oportunidade de o senhor falar aos nossos leitores: o senhor é candidato a reeleição?

Olizandro: Essa é uma questão que ainda temos que definir. Nós temos até o dia 30 de julho para realizar as convenções. E nós vivemos um quadro político diferente em Araucária, em uma situação difícil de ser observada até politicamente. Eu pretendo, até no máximo dia 15 de julho, decidir isso, se eu saio candidato ou não saio candidato. Ou se vamos lançar um candidato especificamente, apoiado por nós, ou, se vamos deixar o quadro como está e simplesmente seguir uma orientação política a partir de agosto que é o prazo de registro de candidatura. Nesse momento, voltaria a dizer para você a mesma pergunta que você me fez é o quadro que vou devolver: nada está definido.

O Popular: Qual a porcentagem? Quais as chances de o senhor ser candidato?
Olizandro: Não tenho. Não consigo avaliar a porcentagem.

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