A colônia Polonesa de Thomaz Coelho e a Represa do Passaúna

Igreja de São Miguel antes do alagamento, s/d
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email

 

No iníco do século XIX, já instalados e adaptados à dinâmica econômica e cultural de Arau­cária, os imigrantes poloneses e seus descentes começavam a aquecer a economia da capital. A produção era comercializada principalmente em feiras nas regiões do Largo da Ordem, Água Verde e Portão, em Curitiba. Duas vezes por semana os colonos tomavam um gole de café, comiam um pedaço de broa com sperka (torresmo) e partiam ainda pela madrugada levando os produtos em carroças. Lá, encostavam 20 a 30 carroças, uma ao lado da outra, e vendiam tudo à granel: grãos, legumes, verduras, carne, embutidos, derivados de leite, de tudo um pouco. Na volta compravam nos armazéns aquilo que não era produzido em casa, como sal, querosene, café, capilé, uma pinguinha, às vezes alguma gasosa, e sempre uma rodela de salsichão.

A partir da década de 1960 essa dinâmica começava a mudar, Curitiba tornava-se uma metrópole, crescia e se industrializava. Na década de 1970 foram criadas a CIC (Cidade Industrial de Curitiba) e a CIAR (Cidade Industrial de Araucária), o que atraiu mão de obra das mais diversas regiões, aumentando consideravelmente a população. Ao mesmo passo não havia água encanada suficiente para tamanha demanda, o que fez Curitiba passar por racionamentos. Foi escolhido, então, em 1974, como local para a construção de uma nova barragem de abaste­cimento a bacia do rio Passaúna, localizada bem no coração da Colônia Thomaz Coelho, tendo sido iniciadas as obras no ano de 1982.

No momento em que iniciaram as primeiras desapropriações, na década de 1980, o Brasil passava por uma grave crise econômica, e a inflação da época fazia despencar vertiginosamente os valores indenizatórios oferecidos em questão de dias. O assunto foi amplamente tratado pela mídia, os colonos organizaram protestos, mas o alagamento seguiu e acabou concluído no ano de 1990. A maioria dos moradores tiveram de sair às pressas, parte deles não teria condições de remontar as casas de troncos que pertenciam às suas famílias havia gerações e acabaram por doá-las para o próprio governo do Estado, que as instalou no Parque Estadual João Paulo II (o Bosque do Papa), em Curitiba.

Essas casas de tronco foram tombadas, mas ainda não havia lei de proteção ao patrimônio imaterial e cultural, cujo decreto 3551 só seria publicado no ano 2000, portanto, não havia nada que pudesse salvar os aspectos cul­turais de Thomaz Coelho das águas do Passaúna. Comércios, olarias e a associação de moradores Santo Izidoro foram demolidos e suas áreas inundadas. A maioria dos antigos moradores partiu e levou consigo o sotaque carregado, a culinária típica, os costumes e tradições, e áreas antes de plantio deram lugar à especulação imobiliária e a novos proprietários de origem urbana e seus chacareiros, alheios à cultura da região, que se diluiu. Para resgatar a memória cultural de Thomaz Coelho, em 1995 a Prefeitura Municipal de Araucária fundou o Parque Romão Wachowicz e o Memorial da Imigração Polonesa, na região de São Miguel, contendo fotografias que contam a história, os costumes e o modo de vida na colônia desses imigrantes e seus descendentes, através do resgate e valorização da lembrança de quem tanto contribuiu para a miscigenação e formação cultural de Araucária. O Memorial encontra-se aberto à visitação de terça a sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 17h e finais de semana das 10h às 12h e das 13h às 17h.

 

 

Texto: Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Publicado na edição 1110 – 26/04/2018

Compartilhar
PUBLICIDADE