Água, malte e lúpulo – a trajetória da cerveja em Araucária

Representante da Companhia Antartica Paulista em plantação de lúpulo no Gayerovo, s/d. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
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Água, malte e lúpulo – a trajetória da cerveja em Araucária
Representante da Companhia Antartica Paulista em plantação de lúpulo no Gayerovo, s/d. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.

 

Segundo a Reinheitsgebot – lei de pureza alemã instituída em 1516 pelo duque Guilherme IV, uma boa cerveja deve levar apenas os seguintes ingredientes básicos: água, malte e lúpulo. Na época as leveduras eram desconhecidas e foram acrescentadas posteriormente, mas sem comprometer a qualidade da cerveja conhecida como puro malte. O malte, por sua vez, pode ser de cevada ou trigo, mas existem cervejarias que substituem a fonte de carboidrato por milho ou arroz (cereais não maltados), os belgas ainda acrescentam sabores frutados, mas o consenso do que não deve faltar em uma boa cerveja é o lúpulo.

Araucária iniciou a produção de lúpulo e cevada no início do século XX, após a Primeira Guerra Mundial. Embora o consumo de cerveja no Brasil tenha se ampliado com a imigração alemã, a partir da segunda metade do século XIX, em Araucária foram principalmente os poloneses que aqui se estabeleceram, por seu maior número, que difundiram uma receita simples de cerveja caseira, que preparavam apenas para consumo familiar, especialmente em épocas festivas como Natal e casamentos.

A primeira fábrica a ter registro em Araucária foi a Cervejaria Favorita, que produzia a cerveja Diana, pertencente a Antônio Alves Pinto. Natural de Portugal, ele estabeleceu-se em Araucária em 1902 para montar a cervejaria em Botiatuva, após aprender as técnicas com o tio de sua esposa e proprietário da Cervejaria Providência, de Curitiba. A cerveja Diana era produzida com mão de obra familiar e levava rolha em sua vedação. Em 1912 a fábrica mudou para a área urbana de Araucária, no terreno onde na década de 1920 seria construído o Colégio Sagrado Coração de Jesus, e funcionou até 1918, quando, por conta da guerra, se tornou mais difícil importar a matéria-prima que vinha da Alemanha.

Foi justamente essa dificuldade na importação de gêneros necessários à produção de cerveja que a produção de cevada e lúpulo tiveram início em Araucária. O cultivo de cevada para maltagem teve como pioneiros os engenheiros agrônomos Zdenco e Carlos Gayer, em 1918, e, até a década de 1940 foram cultivados e testados 23 tipos de cevada na Escola de Agricultura Gayerovo, acompanhadas de criteriosos estudos e experiências referentes à sua mais apropriada forma de produção, tudo cuidadosamente anotado em um relatório de experimentação. Na época, a variedade Hanna, procedente da Moldávia, foi considerada na Europa e aqui a melhor das variedades para a fabricação de cerveja.

Esses experimentos faziam parte de um contrato firmado com a Companhia Antártica Paulista, e eram acompanhados também pela Cervejaria Atlântica, de Curitiba, maior fábrica de cerveja do Paraná na época (tendo sido fundada em 1901, funcionou até 1942 quando foi comprada pela Brahma). A partir da década de 1930 constava nos Registros de Indústrias e Profissões da Prefeitura Municipal um depósito da cervejaria Atlântica no bairro Estação, e, em 1957 surge no nome da Cia Cervejaria Adriática S.A. Em entrevista ao Arquivo Histórico em 1990, a senhora Cecília Grabowski Voss contou que a família Voss, de origem alemã, possuía uma fábrica de cerveja em Guajuvira só para atender o consumo da família, tamanho era o apreço.

Após um longo período dominado pelas grandes redes de cervejaria, a partir do final da década de 1990 o consumidor brasileiro voltou novamente seus olhos para o mercado de cervejas artesanais, que passou a ganhar cada vez mais espaço, tanto que sua fabricação cresceu 130% nos últimos 5 anos. Atualmente existem várias opções entre pequenas e grandes fábricas investindo na bebida de qualidade, com menos conservantes, mais variedade de combinações e com preços variados, apostando tanto nas engarrafadas quanto no envase por growlers in loco, refletindo um consumo mais sustentável e o retorno à receita da boa cerveja tradicional.

Texto: Luciane Czelusniak Obrzut Ono e Sebastião Pilatto dos Santos

Publicado na edição 1162 – 09/05/2019

 

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