Armazéns de secos e molhados

Armazém de Alceu Novitski, em Thomaz Coelho, 2008, acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Armazéns de secos e molhados
Armazém de Alceu Novitski, em Thomaz Coelho, 2008, acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

 

Você se lembra do tempo em que ao invés de grandes redes de supermercados existiam em Araucária os armazéns de “secos e molhados”? Muito comuns até meados da década de 1980, esses pequenos comércios vendiam de tudo um pouco – de salame a querosene, de banha de porco a panela, de sabão a tecido, de chinelo a chineque. Os grãos eram acondicionados em sacos, comprados diretamente do produtor, e eram apanhados em conchas, pesados (geralmente em uma balança vermelha Filizola, que se destacava no balcão) e acondicionados em pacotes de papel, ali mesmo preparados. Por isso dizia-se que eram vendidos “a granel”. Não havia sacolas de plástico, geralmente as sacolas de pano ou tiras trançadas eram trazidas de casa para acondicionar as compras, e sempre reaproveitadas.

O proprietário conhecia todos os seus fregueses e tinha sempre um caderninho para “pendurar” a conta, vendia fiado para receber depois sem qualquer garantia. Pendurados também sempre estavam os salames, que não podiam faltar nesse tipo de comércio, assim como as “voltas” de “xaxixo”, como era popularmente chamado o salsichão, que sempre ia bem quando acompanhado de uma garrafa de gasosa (de preferência vermelha, sabor framboesa) ou uma pinguinha, e que podiam ser consumidos ali mesmo, em meio a uma boa conversa.

O senhor Oswaldo Raksa, em entrevista concedida ao programa Boca da Saudade, em 1996, contou algumas das coisas que vendia em seu armazém de secos e molhados: “Vendia de cachaça até salsicho. Matava dois porcos por semana às vezes (…) e açúcar, sal, café, até camisa e cinta e sapato, tamanco, vendi alguns pares de tamanco, Alpargata Roda, nossa vida!”.

Quase tudo ficava atrás de um grande balcão de madeira, não era possível o consumidor acessar sozinho os produtos da lista de compras, e quem atendia no estabelecimento – que geralmente era o proprietário ou algum de seus familiares – conhecia a lista de compras e os gostos de cada freguês.

Nesse balcão sempre tinha um baleiro que rodava, ostentando aos olhos da criançada balas de todos os tipos. Ali também sempre tinha doces comuns daquela época – maria-caxuxa, maria-mole, doce de leite de copinho, suspiro colorido, doce de abóbora em formato de coração, doce de amendoim, e outras delícias que povoam a mente e trazem água na boca das crianças que habitam o interior de quem testemunhou essa época.

Em Araucária poucos desses pequenos comércios familiares remanescentes sobrevivem à concorrência das redes de supermercados e de lojas especializadas, que oferecem uma gama muito superior de variedades em produtos, marcas, embalagens e preços. Também os hábitos de consumo foram mudando e o tempo para comprar e conversar foi dando espaço à pressa e à necessidade de agilidade no atendimento. O ca­derninho de fiados deu lugar ao parcelamento no cartão de crédito, e a relação entre vendedor e cliente hoje se resume, muitas vezes, a um mero “é débito ou crédito?”.

Publicado na edição 1154 – 14/03/2019

Texto: Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono

Compartilhar
PUBLICIDADE