Há tempos atrás os trens representavam o mais significativo meio de transporte do Brasil. Sua história iniciou-se ainda na época do império, através de um sistema de concessões, e se expandiu durante a república, quando foi gradualmente transferida para o controle do governo federal. Durante o governo de Getúlio Vargas foi criada a Rede Ferroviária Federal S.A. – a RFFSA, e, entre sua malha encontrava-se a Rede de Viação Paraná-Santa Catarina – RVPSC, que atravessava os trilhos de Araucária e empregou muita gente dessas terras, até voltar a ser concessionada, a partir de 1992, o que levou à dispensa da maior parte de seus funcionários e à liquidação da RFFSA, em 1999.
Até o final dos anos 1970 os trens transportavam cargas e também passageiros, inclusive comenta-se entre os mais antigos que o próprio Getúlio Vargas, quando presidente, passou em um trem por Araucária acenando para o povo!
Para mover esses trens eram necessários os trabalhos de toda uma equipe, de gente que ficava nos trens, nas estações e nas oficinas (o que deu o nome à Vila Oficinas, em Curitiba). O foguista, como podemos deduzir, alimentava o fogo para produzir vapor na locomotiva, carinhosamente chamada de “maria fumaça”. Mas você sabe o que fazia um guarda-chaves? Não tem nada a ver com fechadura, se é o que imaginava. Esse profissional era o responsável por acionar a chave de desvio de trilhos na estação através de uma alavanca, de acordo com a direção que deveriam seguir. Muita prática e disposição física deveria ter o guarda-freio, pois antes de existirem os trens com freios a vácuo, os vagões eram freados por manivelas, só que elas ficavam na parte de cima do vagão, e o guarda-freio deveria se deslocar de um vagão para outro, por cima do trem, para freá-los à mão. Uma verdadeira aventura!
Antes da era do telefone a comunicação entre as estações era feita via telégrafos, e o telegrafista tinha que ter o ouvido tão treinado a ponto de ouvir os códigos como se ouvisse alguém falando. Para tanto, eram meses de treinamento não remunerado antes de tornar-se um telegrafista. Já o maquinista só podia seguir viagem depois de receber o “pode”, através da informação que chegava via telégrafo de uma estação para outra, informando a posição dos trens para que não se encontrassem, podendo provocar grave acidente. Por falar em maquinista, segundo o relato de testemunhas da época, alguns deles quando passavam perto das casas das namoradas, “choravam” o apito para elas saberem que seu amor estava passando.
Essas histórias encontramos nas lembranças de quem vivenciou a magia dessa época, e que aos poucos desvendamos como se fosse uma velha caixa que até então se encontrava esquecida, mas que quando aberta revela reluzentes os tesouros das memórias do passado.
Texto: Cristiane Perretto e Luciane Czelusniak Obrzut Ono
Pulicado na edição 1094 – 04/01/2018