As recentes ações penais propostas pelo Ministério Público local contra dezenas de políticos e assessores desses por conta de suposto repasse de parte de seus vencimentos em troca da manutenção do emprego comissionado demonstra que Araucária não é mais a mesma.
A constatação é necessária porque, admitamos ou não, é notório que a tal política do “rachide”, do “repasse” de parte dos vencimentos de cargos em comissão aos seus padrinhos políticos sempre existiu nesta cidade e, embora muita gente tratasse com naturalidade a prática, ela sempre foi ilegal, nefasta e suja.
Pensamentos mais simplistas acerca dessa prática podem fazer com que acreditemos que, se o salário era do comissionado, ele poderia fazer o que quiser com ele, inclusive, ceder parte ao líder do grupo político ao qual estava vinculado sob o pretexto de manutenção de políticas assistencialistas praticadas por esse e assim por diante.
A realidade dura e crua, porém, não permite tal constatação. Isto porque a cessão de parte do salário nunca se deu de maneira espontânea, pelo menos segundo sustentam as acusações do MP. Ou seja, o comissionado que não repassasse parte de seus vencimentos, iria para a rua. Mais do que isso, o percentual entregue ao padrinho político, não permite – nem aos mais puritanos – acreditar que a entrega era feita “de coração”. Afinal, quem trabalha para ao final do mês ter que repassar até 70% de seus ganhos a um padrinho político.
Outro prejuízo desta situação, que não será recuperado jamais pela administração pública é o potencial intelectual que se pagou com dinheiro público, mas que nunca se recebeu. Afinal, convenhamos, com certeza, esses comissionados que eram remunerados com salários astronômicos e que se sujeitavam a devolver quase a totalidade dele aos seus “senhores” não tinham potencial intelectual compatível à remuneração original que deixou os cofres municipais para os seus bolsos.
Por todas essas situações, é inegável que o momento pelo qual passa a cidade é extremamente necessário para o seu desenvolvimento, não só pelo caráter punitivo das medidas, mas também pela variável pedagógica para os políticos atuais e seus assessores. Afinal, se existe alguém ainda fazendo repasse, é bom que fique esperto. Pense nisso, boa leitura, boas festas e até 10 de janeiro de 2019, quando as edições impressas de O Popular voltam aos pontos de venda!
Publicado na edição 1144 – 20/12/18