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Sim, nós temos bananas

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“Yes, nós temos bananas/Bananas pra dar e vender/Banana menina tem vitamina/Banana engorda e faz crescer” dizia a marchinha de carnaval composta por João de Barro/Braguinha, que animou muitos bailes de carnaval nos salões dos clubes sociais de nosso país. A bananeira, cujo nome científico é musa paradisíaca, não é nativa do Brasil e tem sua origem no continente asiático. Tamanha foi sua adaptação às nossas condições de clima e solo, que disputamos o primeiro lugar na produção do fruto com a Índia e temos na banana o segundo maior consumo, superado apenas pela laranja. O fruto ganhou as manchetes recentes pelo ato racista de que foi vítima o jogador de futebol Daniel Alves, em um estádio da Espanha. O atleta saiu-se de forma altaneira ao comer a fruta e seguir jogando bem como rotineiramente o faz e a polícia espanhola já anuncia a punição do agressor. Do episódio, vejo que uma lição deve ser destacada: a posição de destaque sabidamente ocupada pelo astro do futebol e que lhe garante altos salários foi fundamental para que se desse grande repercussão ao fato e surgissem muitas manifestações de solidariedade à vítima da agressão racista. Não foi por ser brasileiro, portanto de um país onde a banana tem grande importância, mas pela cor da sua pele que Daniel Alves sofreu o ataque e a maioria dos brasileiros se sentiu ofendida. A tentativa de diminuí-lo com a referência aos nossos ancestrais símios, só reforça a falta de argumentos legítimos por parte do agressor e a absoluta indignação com a sua competência em campo e se mostrou totalmente ineficaz para o objetivo do agressor. O combate ao preconceito faz parte da evolução da humanidade e vejo que ele ainda existe pelas profundas diferenças existentes na sociedade, onde os negros ocupam com freqüência as posições de menor destaque e de reduzido poder aquisitivo. Nesta linha de raciocínio é que consigo entender a adoção de políticas afirmativas, como as cotas raciais no vestibular, como medida necessária para acelerar a redução das diferenças sócio-econômicas e acelerar a democratização da sociedade. Repudiar o preconceito que atingiu o famoso jogador é importante, porém é ainda mais eficaz apoiar medidas que fortaleçam as potenciais vítimas e as levem a suportar as agressões com altivez. Os racistas e preconceituosos deixarão de atacar suas costumeiras vítimas quando estas estiverem em reais condições de reagir de igual para igual, não se intimidando com atitudes de desqualificação, como muito sabiamente fez Daniel Alves. Quando este dia chegar, aí sim as cotas para negros nos vestibulares das universidades federais deverão acabar, até para que não se transformem em medida que leve a perenidade da discriminação.

Júlio Telesca Barbosa
Engenheiro Agrônomo