Os olhos do coração

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Pior cego é aquele que tem olhos perfeitos, mas não vê. Pode parecer até contraditória esta afirmação, mas ela reflete a diferença que existe entre a visão física e a visão espiritual. Quantas pessoas que tem a visão perfeita, fisicamente falando, mas incapazes de ver a dor, o sofrimento, a realidade do outro; e quantos outros, que não veem absolutamente nada, mas tem uma percepção profunda daquilo que se passa no interior do seu irmão. Para alguns, os olhos da fé estão simplesmente abafados pelos olhos puramente materiais. Na verdade, cada um vê as coisas, as pessoas, a realidade que o cerca a partir do seu coração, e tantos, tem um coração frio, insensível, egoísta, fechado, individualista, voltado somente para os seus próprios interesses. Outros apresentam um coração compassivo, amoroso, misericordioso, capaz de dar a vida, se preciso for pelo próximo.

Jesus chama a atenção dos fariseus e dos doutores da lei, que eram incapazes de perceber o sofrimento do irmão. Eram pessoas totalmente voltadas para si mesmas, para os seus próprios interesses, e faziam de tudo para serem vistos e elogiados pelos homens. Estavam fechados no seu mundo pessoal, passando ao largo do problema do outro. É como se a realidade dolorosa do próximo não tivesse a ver absolutamente nada com eles. Falavam de Deus, faziam longas orações, jejuavam até duas vezes na semana, pagavam o dizimo de tudo o que recebiam, mas isto não os comovia diante do drama do irmão. Eles eram simplesmente incapazes de amar, sobretudo, àquele que mais precisava da sua ajuda e do seu conforto.

A atitude de Jesus era totalmente diferente daquela dos sacerdotes e dos fariseus. Estes, simplesmente ignoravam a dor e o sofrimento dos pobres e doentes. Ele, pelo contrário, percebe a miséria dos pequenos, dos abandonados e excluídos da sociedade do seu tempo, e vai ao encontro deles. Seu gesto é de compaixão, como ele mesmo disse, porque eram como ovelhas sem pastor. Para Jesus, as longas orações externas não tem sentido nenhum, se não levarem a amar o irmão, especialmente àquele que está caído no solo duro da existência. Do seu coração brotavam gestos, palavras e ações de conforto e de esperança. O seu coração era misericordioso e compassivo.
O papa Francisco chama a atenção para a realidade atual, onde tantas pessoas sofrem a exclusão de um capitalismo selvagem. Tantos continentes marcados pela miséria, faltando o básico para viver com dignidade. Na tentativa desesperada para sustentar seus filhos, muitos deixam sua pátria em busca de novos horizontes, atravessando fronteiras e tantos dramas e obstáculos atrás de um pedaço de pão. Diante desta situação, alerta o papa, precisamos superar a indiferença que reina em tantos corações. Tantos cegos que não querem enxergar esta dura realidade, totalmente indiferentes ao drama vivido pelos irmãos.

Mais do que olhos físicos, precisamos abrir os olhos do coração, para acolhermos àqueles que batem à nossa porta em busca de um consolo ou de uma ajuda material. O problema do outro é também meu problema, pois ele é filho do mesmo Pai e é também meu irmão. Isso exige da parte de cada um de nós, uma verdadeira conversão. A solidariedade e o voluntariado são fundamentais para a construção de um mundo mais irmão. Ao nosso lado, tantos pedem um minuto de atenção, para serem amados e acolhidos no seu drama emocional ou material. Abramos os olhos do coração, a fim de sermos um pequeno facho de luz e de esperança na vida destas pessoas. Isto sim é ser cristão. Isto sim é seguir Jesus no cotidiano de nossa vida.

 

 

Publicado na edição 1103 – 08/03/2018

Os olhos do coração

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