A melhor ligação do telemarketing

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Quanto o senhor gasta por mês com seu plano atual de telefone?, pergunta a simpática moça que me liga de um número privado.

Acho estranho receber essa pergunta assim, tão diretamente. Respondo que não costumo compartilhar informações sobre minhas finanças pessoais com quem eu não conheço, e que a despeito de sua simpatia não desejo mudar esse meu hábito.

Ela faz um “ah” um pouco surpreso e diz que seu nome é Natália e que trabalha em uma grande operadora de telefonia brasileira. Digo a ela que ainda assim não nos conhecemos. Ora, saber o nome e a empresa em que a pessoa trabalha não é conhecer alguém, é apenas saber dois dados sobre a pessoa.

Pergunto a ela de que Estado está me ligando. Minas Gerais, e eu experimento alguma alegria porque seu sotaque já me indicava isso. Digo a ela que só vou contar quanto eu gasto se ela me responder algumas perguntas. Ela ri e aceita, “dependendo das perguntas”. Digo que não se preocupe, não será nada obsceno.

Como eu sou conhecido entre meus amigos por entender e gostar de astrologia, minha primeira pergunta é seu signo. Ela é de Touro, e bem, todo mundo sabe como são os taurinos, então decido não alongar o assunto. Quero, então, saber o time pra que ela torce. Flamengo. E já emenda a explicação que eu não tinha pedido: o pai é carioca, flamenguista roxo. Mudou para BH antes de ela nascer por causa do trabalho.

Pergunto se ela coloca o arroz por baixo ou por cima do feijão. Percebo a tensão em sua voz quando ela diz, um pouco receosa, que coloca o feijão por baixo. Digo que conhecer alguém não é necessariamente concordar com alguém e que não seria isso que faria com que eu perdesse um novo e vantajoso contrato de telefonia.

Ela aproveita para dizer que odeia farofa e, supreendentemente, queijo. É a primeira vez que ouço alguém de Minas dizer que odeia queijo. Curioso. Nem pão de queijo? Nem pão de queijo. Natália me pergunta se eu gosto de queijo e menciona que tem uma prima que vende pão de queijo em Governador Valadares.

Digo que já fui a Pouso Alegre e que gostei bastante da cidade e do povo, muito gentil. Ela não conhece Pouso Alegre mas conhece Curitiba, adorou a Ópera de Arame. Já eu nunca estive na Ópera de Arame, embora meu trabalho fique a 10 minutos do local.

Então, como a conversa estava boa mas o tempo correndo, decidi fazer a pergunta cuja resposta, hoje, diz o suficiente para conhecermos uma pessoa. Não em detalhes íntimos, mas que dá uma boa ideia do conjunto de crenças e valores que alguém carrega consigo.

– Foi golpe, Natália? Ela ri alto e diz que foi claramente golpe.

Conto a ela que gasto bem pouco de telefone e não tenho interesse em trocar de plano, afinal de ruim pra ruim é uma troca sem sentido. Ela, baixinho, concorda: o plano oferecido nem é tão bom assim.

Antes de desligar, ela manda “um abraço e fora nós-sabemos-quem”. É minha vez de rir. Digo que mande um abraço à irmã que vende pão de queijo e recomendo que, quando puder, conheça Pouso Alegre: é uma cidade pequena e bonita.

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