Não existe cura sem dor

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Às vezes, para consertar um osso fraturado, é preciso, antes, terminar de quebrá-lo. E, como vocês devem imaginar quebrá-lo deve doer pra caramba. Mas é algo que precisa ser feito, pois a cura não virá sem essa dor. Acredito que é justamente isso o que estamos vendo acontecer com a questão das mudanças no transporte coletivo em Araucária, principalmente em linhas que atendem a área rural.

Uma análise apaixonada da situação faz com que consideremos desumana essa adaptação. Afinal, um trajeto encurtado, significa alguns quilômetros a mais que um trabalhador terá que andar para chegar a sua casa. Um horário de ônibus cortado obriga o morador da área rural a acordar duas horas mais cedo. E esses são apenas dois exemplos.

O que está por trás desses problemas, no entanto, são anos e anos de uso indevido da nossa cidade para atender a interesses politiqueiros desse ou daquele grupo político. O que aconteceu em Araucária foi uma completa deturpação da função tanto da área rural quanto do próprio transporte coletivo. Deturpação esta que está cobrando seu preço hoje.

Podemos pesquisar por aí e, aposto com vocês, não encontraremos uma cidade que mantenha tantas linhas atendendo a área rural como em Araucária. E, ao contrário do que possa parecer, isto não é bom. Não é sinal de política pública de transporte plena. Muito pelo contrário. O que aconteceu aqui foi que o campo se tornou uma extensão da cidade. Extensão não. Um puxadinho. Logo, temos milhares de pessoas residindo em sub-propriedades rurais, mas que não vivem da agricultura, da pecuária e assim por diante e que, por esta razão, veem diariamente a área urbana para trabalhar nas mais diferentes funções.

Ao longo de décadas, a especulação imobiliária em Araucária tornou os terrenos da cidade caros demais, o que deu margem a uma urbanização criminosa do campo. Proprietários de áreas no interior, cujo caráter é duvidoso, simplesmente parcelaram indevidamente o solo rural e levaram para lá famílias inteiras que não tem e nem nunca tiveram interesse em viver de atividades primárias. Só foram morar no interior porque o imóvel lá era mais barato.

Esses sujeitos que parcelaram indevidamente o solo rural se aliaram ainda a políticos locais que, enxergando o voto desses moradores e aproveitando que Araucária sempre foi muita rica, foram levando para lá linhas e mais linhas de ônibus para diariamente baldear esses moradores para a cidade e vice-versa. Alguns, claro, podem estar se perguntando “tá, mas qual o problema nisso?”. Primeiro, a característica natural do campo é o cultivo da terra. Logo, quem lá mora deve viver disso. Não tem que vir diariamente para a cidade. Este êxodo diário que se vê em Araucária é sinal de que está havendo uso inadequado do solo rural. Outro problema nisso é a dimensão da nossa zona rural. Se dermos uma olhada no mapa, veremos que o interior representa praticamente 90% do tamanho do Município. Logo, as linhas do interior percorrem distâncias muito superiores do que linhas metropolitanas. E, não adianta, quanto maior a distância maior é o custo da linha.

Voltando ao início deste texto, o que precisa ficar claro é que, por mais desumano que possa parecer, já havia passado da hora de readequar as linhas que atendem a área rural. Não havia recursos públicos suficientes para manter as coisas do jeito que estavam. Exemplifica bem isso a constatação de que o custo do transporte coletivo da área rural é hoje superior ao orçamento inteiro de toda a Secretaria de Agricultura. Na prática, gastamos mais para baldear os trabalhadores do interior para a cidade diariamente do que na própria promoção do campo. Tem ou não tem algo de muito errado aí?

É óbvio que precisamos ficar atentos para que a economia que será gerada nessa readequação seja revertida em políticas públicas para manter o homem do campo vivendo dele e/ou em projetos habitacionais para que essas famílias que hoje residem no interior, mas que tem características urbanas, possam morar se mudar para a cidade. Do contrário, estaremos falando de uma economia burra!

Comentários são bem vindos em www.opopularpr.com.br. Até uma próxima!

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