Seguimos tratando os sintomas, não a doença

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Temos uma sociedade violenta e doente, para recuperá-la investimos em mais policiamento, aumentamos o armamento, instalamos câmeras de segurança, aprimoramos nossas leis de punição, terceirizamos os serviços médicos para atender “mais e melhor” (?), adquirimos mais remédios, medicamos nossos crianças desde muito cedo, sempre em busca de evitar o pior.
Só não nos damos conta de que estamos tratando só os sintomas. Para um diagnóstico preciso leva-se muito tempo e tempo é coisa que não temos. Temos pressa. Precisamos produzir, trocar de carro, de celular, de namorado, ou arrumar um namorado. Precisamos pegar o ônibus, pagar a conta, buscar o filho na escola.
Talvez nossa falta de tempo seja parte do problema. Com pressa não tratamos bem nossos filhos, nem nós mesmos. Os assassinos, os assaltantes e os estupradores já foram crianças, possivelmente filhos de pais apressados. Os doentes, em sua maioria, já foram pessoas saudáveis sem muito tempo para se preocupar com a saúde.
Precisamos parar. Algo em nossa cultura está muito errado. Deveríamos estar desenvolvendo nossas habilidades em viver bem, em tratar bem o próximo. Talvez com calma, com consciência crítica para perceber que a sociedade doente nasce dentro da casa da gente, possamos em longo prazo curar a doença e diminuir os gastos com os sintomas.
Creio que as mudanças sempre começam do micro para o macro. Precisamos primeiro nos vigiar. Estamos sendo honestos? Estamos nos responsabilizando por nossas ações? Ou continuamos batendo na esposa, tratando mal as crianças, abandonado cães nas ruas e trocando voto por gasolina? Depois precisamos nos ver num contexto maior, seja ele no bairro ou na cidade em que moramos. Estamos cobrando das pessoas que elegemos para administrarem nosso dinheiro mais do que “saúde e segurança”? Mais do que paliativos para os sintomas?
A mudança em uma sociedade é demorada, mas precisa começar a ser construída. Precisamos ver um passo à frente. Não adianta lutarmos para mantermos uma linha de ônibus para nos levar para outra cidade e não enxergamos que existe alguma coisa errada no fato de não conseguirmos viver com dignidade dentro do nosso próprio município. Por que não podemos ter um negócio próprio no bairro onde moramos? Por que não reconhecem a música que fazemos? Por que não há um grande leque de opções de empregos na nossa cidade? Por que não temos uma cidade pensada para pessoas, aonde pudéssemos ir de bicicleta, de forma segura, para o trabalho?
Nos falta à cultura do engajamento político. Talvez essa seja a cura pra doença.
Vamos realizar uma conversa, organizada pela sociedade civil, hoje, em frente ao Museu Tingüi-Cuera, às 18h30, para uma avaliação da atual gestão na área da cultura. Queremos criar também um Fórum Permanente de Cultura, de iniciativa popular, para discutirmos a cidade para além dos sintomas.
Aproveito esse meu pedacinho no jornal para convidá-los para juntos começarmos a cura da enfermidade.

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