Clínicas não conseguem se credenciar com operadoras

Usuários reclamam dos planos de saúde que, a cada dia, reduzem mais o número de profissionais e clínicas credenciados
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Usuários reclamam dos planos de saúde que, a cada dia, reduzem mais o número de profissionais e clínicas credenciados
Usuários reclamam dos planos de saúde que, a cada dia, reduzem mais o número de profissionais e clínicas credenciados

A qualidade dos serviços prestados pelos planos de saúde no Brasil ainda está longe de agradar os consumidores. As dificuldades em agendar consultas e exames, prazos máximos para marcação de procedimentos não cumpridos e, principalmente a cons­tante redução da rede credenciada, são apenas alguns dos pro­blemas enfrentados diaria­mente pelos usuários.

Em Araucária, além dessas dificuldades, os usuários enfrentam outro grande obstáculo: a falta de clínicas que ofereçam determinados planos de saúde. Segundo eles, é bastante comum ter que procurar atendimento em Curitiba por falta de opções na cidade.

“Aqui não temos pediatras que atendam emergências no horário noturno, se uma criança precisar de um médico, tem que correr para a capital. Com tantas clínicas na cidade e os usuários não têm opções”, criticou um paciente. Outro paciente disse que, quando precisa consultar com determinados especialistas, nem se dá ao trabalho de procurar em Araucária. “Vou direto pra Curitiba, lá temos muitas opções. Aqui é um absurdo o que acontece em uma cidade tão grande, com tantas condições, e que deixa tanto a desejar em termos de saúde”, denunciou.

As barreiras

A reportagem do Jornal O Popular conversou com algumas clínicas e laboratórios locais para descobrir porque alguns planos de saúde estão recusan­do novos credenciados. Segundo eles, não existe interesse por parte das operadoras em aumentar a rede credenciada.

A gerente administrativa da Clínica DIA, Priscila Emy Ogido, explica que o processo do credenciamento é muito complicado, as operadoras exigem uma documentação extensa e, na maioria dos casos, a resposta sempre acaba sendo negativa. “Eles fazem uma série de visitas na clínica, analisam tudo criteriosamente e, por fim, não fazem o credenciamento. Pra piorar, muitos planos ainda pagam muito mal”, explicou. Priscila comentou ainda que a Clínica DIA recebe diariamente cerca de 10 pacientes de convênios que não atende.

No Laboratório São Carlos a situação não é diferente. Os únicos convênios atendidos são a Medprev e Global Saúde, isso porque o local não conseguiu se credenciar com outras operado­ras. De acordo com o proprie­tário João Paulo Pereira, a explicação da negativa dos planos é de que a demanda na cidade já é suficiente. “É claro que essa justificativa não é real, pois todos os dias somos procurados por pelo menos dois pacientes de planos que não atendemos Unimed, Amil, Paraná Clínicas, Bradesco, Clinipam, entre outros. Não sei se a proximidade com a capital acaba atrapalhando um pouco. O fato é que a falta de interesse das operadoras acaba deixando o paciente sem escolhas”, acusou.

Na CDTO, o sócio-proprie­tário Guilherme Nicodelli comenta que optou em trabalhar com médicos cooperados, devido à dificuldade em credenciar a clínica. “É mais fácil as operadoras credenciarem pessoa física e não jurídica. Já iniciamos vários processos de credenciamento junto às prestadoras, no início elas demonstram interesse em novos clientes, mas o trâmite demora cerca de seis meses, e não dá em nada. A alegação deles é de que não existe interesse em aumentar a carteira”, explica Guilherme.

Ainda segundo o médico, todos os dias, pacientes de planos que a clínica não dispõe, procuram por atendimento. “Fica difícil pros pacientes, eles não conseguem optar por um médico, só encontram os profissionais que o plano oferece, eles estão sendo enganados”, critica.

A situação no Centro Médico é um pouco mais tranquila. A clínica oferece quase todos os planos disponíveis no mercado, com exceção da Unimed. O proprietário Anderson Gotfrid conta que a Unimed foi a única operadora que não demonstrou interesse em credenciar o Centro. “Na ocasião que fizemos o pedido eles alegaram que a área que abrange a cidade já está coberta de prestadores e que este número é suficiente para atender a população local. A Unimed dá preferência para médicos coope­rados e não clínicas. Só lamentamos pelos usuários, que ficam reféns do plano de saúde”, disse.

De acordo com Anderson, o Centro Médico recebe cerca de 500 usuários por mês que procuram a Unimed, esse número apenas para Clínica Médica, isso sem contar as especialidades. “Clinipam não temos também, mas eles possuem uma unidade própria e isso os isenta da falta de interesse em novos credenciados”.

Da mesma opinião comparti­lha o diretor técnico do IMA – Ins­­tituto de Medicina de Araucária, doutor Janiro Zattoni Barbosa quando diz que a clínica atende praticamente todos os planos de saúde (Uni­med, Paraná Clínicas, Amil, Bradesco, Sul América, Petrobras, Correios, exceto a Clinipam, que possui clínicas e hospital próprio. “O IMA já é uma clínica estruturada e já está no seu 10º ano de atendimento, até então não tivemos maiores dificuldades de credenciamento. O que ocorre é que os planos de saúde são fiscalizados pela ANS – Agência Nacional de Saúde e também são co-responsáveis pelo atendimento das clínicas credenciadas, portanto visando sua proteção exigem que uma série de normas legais (diretor técnico responsável, confirmação de registro no CRM de todas as especialidades anun­ciadas, etc.) e técnicas (registro da clínica, estrutura adequada, conformidade com normas da vigilância sanitária, etc.), sejam cumpridas para firmar o contrato. Outro fator é o custo financeiro, pois no ambulatório dos convênios os médicos são contratados com uma remuneração fixa e nos consultórios e clínicas recebem por atendimento prestado. Com isso o custo para os atendimentos nas clínicas e consultórios é maior para o convênio. Sendo assim. eles preferem que o paciente vá nos ambulatórios e não nas clínicas para serem atendidos“, esclareceu doutro Janiro.

Ainda de acordo com ele, a proximidade com Curitiba facili­ta esta exigência que os planos fazem para que os seus usuários se dirijam até os ambulatórios e não diretamente nas clínicas. “Alguns convênios não liberam as consultas ou exames para serem realizados em Araucária, forçando o paciente a se dirigir até Curitiba, reduzindo assim os seus custos operacionais”, revela o diretor.

Operadoras se explicam
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A reportagem de O Popular também entrou em contato com algumas prestadoras de planos de saúde para conferir se, de fato, exis­te falta de interesse em credenciar clínicas de Araucária. A Unimed Curitiba justificou, de forma sucinta, que todos os pedidos para o credenciamento de novos prestadores são recebidos e analisados, tendo como diretriz os requisitos de demanda pela especialidade e a documentação legal, dentre outros. Explicou ainda que o proponente que tiver interesse em enviar uma solicitação para avaliação deve mandar um email para srp@uni­medcuritiba.com.br

Já a Clinipam justificou que possui unidade própria em Araucária e que a rede credenciada atualmente está de acordo com a demanda da cidade. O aumento de clínicas credenciadas só deverá ocorrer quando houver necessidade.

A reportagem de O Popular também entrou em contato com a Bradesco Saúde, mas até o fechamento desta edição não tivemos um retorno.

Vereador está de olho no problema
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O vereador Paulo Horácio está acompanhando de perto a situação do pequeno número de clínicas de saúde que atendem planos na cidade e, principalmente, da falta de uma clínica ou hospital 24 horas que atenda usuários dos planos de saúde. Ele explica que já faz algum tempo que vem fazendo uma pesquisa minuciosa para fazer um levantamento exato da real situação da saúde pública e privada na cidade.

“Minha pesquisa começou desde a época em que a Repar iniciou as obras de ampliação e trouxe para cá milhares de traba­lhadores de outras cidades e, aproveitando esse nicho, a Uni­med iniciou a construção de um empreendimento para montar uma clínica para atender essa população flutuante, que certamente viria já com seus planos de saúde. O fato é que a Unimed deve ter percebido que a cidade oferecia uma boa estrutura de atendimento pelo SUS que supria boa parte das necessidades da população e decidiu mudar seu foco e abrir apenas uma unidade para liberação de consultas e laboratório próprio. Esse procedimento não foi correto uma vez que a cidade carece de uma clínica especializada em atender planos”, explicou.

Para o edil, a falta de investimentos na cidade por parte das operadoras e a falta de credenciamento das poucas clínicas que existem precisa ser melhor investigada. “Se compararmos Araucária com qualquer outra cidade do Paraná que tenha o mesmo número de habitantes (131.356) vamos perceber que o município oferece uma minoria em clínicas privadas enquanto os demais oferecem o dobro ou muito mais que isso”, exemplifica. Segundo ele, a falta de ações mais rígidas do poder público em cobrar uma postura diferente destas operadoras também contribui com este quadro. “Talvez o poder público pudesse criar políticas de incentivos fiscais para que novas clínicas se interessem em investir na cidade. A nossa estrutura de SUS acaba financiando o setor privado, isso porque, por falta de opções, muitos usuários de planos de saúde acabam utilizando o sistema público”, observa.

Diante de tal situação, o vereador Paulo Horácio disse que pretende tomar algumas providências, entre elas oficiar a Unimed para saber o porquê da mudança na proposta inicial de montar uma clínica que acabou se transformando numa simples unidade de atendimento. Outra medida seria oficiar a Anvisa, solicitando dados oficiais que possam dimensionar o tamanho do mercado que cada ope­radora abrange na cidade e qual a extensão da rede credenciada aos planos de saúde. “Por último, quem sabe, possamos firmar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com as operadoras e estas possam ajudar o Município e investir no fundo municipal de saúde, o que poderá ampliar a oferta de serviços para a população”, concluiu.

FOTOS: DIVULGAÇÃO / EVERSON SANTOS / MARCO CHARNESCKI

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