A melhor época da minha vida

EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO – 130 ANOS

Dorcel Manolo Fruet, 67 anos, é comerciante com descendência de italianos e portugueses, sua família é uma das mais tradicionais da cidade. Vieram para cá há cerca de cinco gerações. Foram eles que estabeleceram a primeira fábrica de café no município em 1949. Seu pai foi o primeiro distribuidor de bebidas da Brahma na região e expandiu para outras cidades.

A família sempre morou no mesmo lugar na região central de Araucária. O Café Filomena produzido pelos avós era muito conhecido e apreciado. Mais tarde tiveram um posto de gasolina. Miguel Bertolino Pizzato que denomina o nome de rua era seu bisavô. Manolo lembra que bem próximo da sua casa havia uma plantação de laranja, e o Seminário Sagrado Coração era bem menor e recebia alunos internos de outras cidades e estados. Manolo ficava em período integral na escola. “Eu estudei no Sagrado desde pequenino, ia a pé para a escola e voltava, pois era pertinho daqui de casa”. Ele confessa que aprontava muito e sempre estava de castigo, pois comia a hóstia que as freiras fabricavam.

Das lembranças que tem da infância, a mais significativa era do Rio Iguaçu, cujas águas eram limpas e cristalinas, onde Manolo adorava tomar banho de rio, passear de bote e pescar com seu pai. “Nossas brincadeiras incluíam bola de gude, futebol, corrida de carrinho de rolimã e soltar pipa na rua ou no campo de Araucária. A piazada era bairrista, tinha o grupo da Vila Nova, o grupo do centro, do Morro do Cupim, do Costeira, de vez em quando todos se encontravam, mas tinham os seus próprios grupinhos”.

Manolo conta que na praça, havia calçamento e que as famílias andavam de carroça e carroção e os colono mais abastados de Jeep. Na área rural, agricultura predominante era o plantio de batata.

Na juventude, frequentava o cinema, a matinê e os bailes nos clubes da cidade. “Eu gostava muito das festinhas americanas que fazíamos na casa de um ou outro amigo, cada um levava um prato ou uma bebida e seus Lps preferidos”. Também era fã dos bailes de carnaval, quando as famílias se fantasiavam e desfilavam em blocos no Clube União.

Manolo cita que a cidade tinha uma vida social intensa e que ele gostava muito de frequentar as festas juninas promovida pela igreja e a procissão de São Cristóvão que trazia gente de toda a cidade.

Sua avó Aurora Fruet era uma grande referência cultural para o município, responsável por organizar toda a festa junto a comissão da igreja. “Minha avó dava aulas de teatro na cidade, era professora de música, tocava piano e acordeom”.

As apresentações de teatro que ela conduzia eram realizadas na praça mesmo. “Lembra da época que ela fez uma peça sobre os africanos e me pintou de tinta preta para que eu pudesse participar”, comenta entre risos. Nas encenações sua avó arrecadava roupas e alimentos para doar aos pobres, ela fazia muita assistência social, por isso A Clínica da Mulher, quando foi inaugurada, recebeu seu nome, como uma homenagem.

Bom de bola, Manolo jogou pelo Araucária Futebol, mas futebol era só hobby, não dava dinheiro.

Manolo conheceu a esposa Iara quando jovenzinho. Ela era porta-bandeira da escola do Tindiquera e ele participava da fanfarra. Estão casados há 43 anos, têm três filhas e três netos.

Quando o presidente Ernesto Geisel esteve em Araucária, ele chegou bem perto da comitiva e estranhou tantos seguranças, foi uma grande festa na cidade. “Achei o presidente bem simpático em seu discurso, falou com as pessoas de uma maneira tranquila e agradeceu a cidade pela acolhida”.

Crescimento

A vinda da Petrobrás para Araucária foi um momento muito importante não só para o município, mas para a sua família, pois com a chegada dos novos moradores a venda de bebidas aumentou 300% e alavancou muito o comércio. Segundo ele, começaram a abrir lojas de material de construção, de sapatos, roupas e hotéis para hospedagem. Fato que se repetiu recentemente com a parada da Petrobrás, e que causou uma supervalorização no mercado imobiliário.

“Araucária é uma excelente cidade, suprida de bons comércios, grandes supermercados e faculdades, mas acredito que ela carece de bons restaurantes e áreas de lazer para as famílias se encontrarem no final de semana, sem precisar ir até Curitiba”.

Texto: Rosana Claudia Alberti

Foto: Marco Charneski