Amor gratuito

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A sociedade atual tende a produzir um tipo de homem que não é solidário com o próximo, consumista, de coração mesquinho e horizonte estreito, incapaz de generosidade. É difícil ver gestos gratuitos. Às vezes até a amizade e o amor aparecem influenciados pelo interesse e pelo egoísmo. Tudo tende a ser feito à base de troca, material ou emocional. A pergunta de Pedro ecoa fortemente nos corações de muitas pessoas: ‘e nós, que deixamos tudo, o que vamos receber em troca?’ O próprio Pedro precisou de uma grande conversão, até compreender a mensagem de Jesus.

Por isso, é duro aos nossos ouvidos escutar o convite desconcertante de Jesus: ‘Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos, porque eles retribuirão convidando-te e tú ficarás recompensado. Quando deres um banquete, convida os pobres’. Esta mensagem de Jesus evoca a pessoa do papa Francisco, que no dia do seu aniversário, convidou os pobres de Roma para sentar à mesa com ele. Que gesto realmente evangélico da parte do nosso papa!

Jesus nos convida a refletir sobre a verdade última de nossa conduta. Amar aquele que nos ama e ser amável com aquele que é amável conosco pode ser ainda o comportamento normal de uma pessoa egoísta, que sempre busca o seu próprio interesse. Ele mesmo vai dizer que até os pecadores amam aqueles que os amam; recompensam aqueles que os agradam. Mas amar e querer o bem àqueles que nos odeiam, que nos desprezam, torna-se algo realmente muito mais difícil e exigente.

Seria um equívoco crer que alguém sabe amar com generosidade pelo simples fato de portar-se corretamente no círculo de seus amigos e familiares. Também o egoísta ‘ama’ muito os que o amam muito. É um amor interesseiro, que requer e exige retorno. Quantas pessoas simplesmente ignoram o próximo, porque o ajudaram, mas não foram recompensadas. Frases como esta: ‘depois de tudo o que eu fiz por você, você ainda me ignora?’ Claramente demonstra que a minha ação foi com cunho interesseiro, e, não na gratuidade. E a proposta revolucionária de Jesus é amar, fazer o bem, querer o bem do outro, simplesmente, sem esperar absolutamente nada em troca. Quanta exigência do evangelho!!!

Jesus buscava uma sociedade na qual cada um pensasse nos mais fracos e indefesos. Uma sociedade muito diferente da atual, na qual aprendêssemos a amar não a quem melhor nos paga, mas a quem mais precisa de nós. É bom perguntar com sinceridade o que buscamos quando nos aproximamos dos outros. Procuramos dar ou procuramos receber? O que realmente está por detrás da minha ação, seja na família, no trabalho ou na comunidade? Faço com amor, ou busco sempre alguma compensação?

Jesus vai nos pedir que a mão direita não saiba o que a esquerda fez, ou seja, fazer tudo na gratuidade, sem esperar troca. Não é nada fácil, pois, o nosso instinto egoísta e individualista, parece naturalmente pedir um retorno, mesmo que seja uma palavra de agradecimento ou de reconhecimento. Esta máxima do evangelho é muito mais difícil do que possa parecer, mas, ela nos liberta e nos realiza profundamente. Em tudo o que fizermos, Jesus nos convida a fazer com amor gratuito, espontâneo, na alegria de fazer o bem e alegrar-se com a alegria do outro. Ali reside a felicidade, aquela verdadeira, a cristã.

Publicado na edição 1178 – 29/08/2019

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