A gravidade do momento nos convida a continuar refletindo sobre o verdadeiro objetivo da Educação Pública e reavaliar nossa postura diante da atualidade. Enquanto professor, eu sei que nós seremos cobrados no futuro por termos permitido esse descalabro e dessa vez acharei justa toda culpa que eventualmente seja imputada a nós, afinal, nada será feito sem a nossa assinatura e conivência.
Até aqui a culpa pela decadência da Educação não nos cabe, “A césar o que é de césar”, pois que o Estado assuma a culpa por ser omisso, corrupto, demagogo, racista, explorador e elitista, esse sempre foi o perfil de muitos governos que nos desgovernaram.
Já a nós professores e professoras além de nossas obrigações sempre nos coube a função oculta de combater a insurgência dos rebeldes, enfraquecer o mundo do crime, alimentar corpos franzinos, mentes vazias, almas perdidas e tudo sem gastar uma bala, sem precisar de um banquete, de um bisturi ou de dogmas religiosos. Nós sabemos fazer! Sempre fomos fundamentais ao sistema, mas em dado momento, não pela nobreza da profissão, mas por sermos ferramentas baratas e por termos nos tornado massa de manobra.
Hoje chego ao cúmulo de questionar quantas vezes fomos para as ruas empunhando a bandeira da Educação, quando na verdade era apenas uma justa luta salarial, nada que fosse muito além disso. Óbvio que uma boa Educação passa por funcionários bem remunerados e valorizados, mas em algum momento, por questões de sobrevivência colocamos em segundo plano a qualidade da educação.
Ao mesmo tempo que a escola particular filtrava sua demanda a pública absorvia todo o caos social gerado pela falta de políticas públicas.
Enquanto categoria sucumbimos ao individualismo do capital e nos permitimos trabalhar em ambientes insalubres, periculosos e improdutivos.
Ajudamos a eleger déspotas ignorantes e entramos no jogo de um governo que não investe um centavo em formação continuada.
Os tempos são sombrios e se a oportunidade faz o ladrão já deveríamos saber o que esperar de governos como os que aí estão. Um governo de cosmético, obcecado em maquiar números, um governador eleito pela fama do pai e que, portanto, conhece o poder da publicidade. Estão transformando a educação do estado do Paraná em uma rede social mal feita e nós professores em gerenciadores de rede. A aprendizagem que já tinha pouca relevância aos gestores agora importa menos ainda.
E por medo de prejuízos pessoais nós nos calamos. Bancamos a farsa com nossos próprios recursos e equipamentos. Assinaremos o fim do trimestre, daremos como concluído o ano letivo e seremos signatários de uma grande mentira.
Nossa defesa pela Educação deveria exigir que esse momento fosse aproveitado para melhoramento e adequação das unidades educacionais, para fortalecimento dos laços familiares, para desenvolvimento e acessibilidade de tecnologia para alunos e professores, para formação continuada e de qualidade, para identificação e solução dos problemas sociais que afetam a cognição do aluno, tal como a fome que o governador assumiu que existe. Enfim, muito poderia ser feito nesse momento difícil de pandemia, mas optamos por aceitar a pressão e fingir que o ano letivo não será perdido.
Quando na verdade tempo perdido não é o recuo para o impulso, mas sim o desperdício de movimento que nos cansa e não nos leva a lugar nenhum.
Não é ataque aos meus é auto critica funcionando.
Publicado na edição 1214 – 28/05/2020
