Caso de Suzano reacende discussão sobre segurança nas escolas

No Colégio Szymanski as câmeras ajudam a detectar a entrada de estranhos. Foto: Everson Santos
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Caso de Suzano reacende discussão sobre segurança nas escolas
No Colégio Szymanski as câmeras ajudam a detectar a entrada de estranhos. Foto: Everson Santos

 

Casos como o que aconteceu em Suzano, no estado de São Paulo, no dia 14 de março, quando dois ex-alunos invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, mataram oito pessoas e depois tiraram a própria vida, trouxe à tona a discussão sobre a segurança nas escolas. No Paraná, um dia após a tragédia, o governador do Estado, Ratinho Junior,  anunciou a antecipação do projeto Escola Segura, que prevê policiais militares da reserva para fazer a segurança das instituições educacionais e estava prevista para o final de maio. A previsão é de que, na segunda quinzena de abril, 100 escolas estaduais já estejam recebendo o projeto. A lista ainda não foi definida, pois serão selecionadas as áreas mais vulneráveis, em que as escolas apresentam um maior número de ocorrências, como casos de uso de drogas e violência.

Em Araucária, mesmo antes da tragédia de Suzano, algumas escolas já tratavam a questão da segurança como prioridade, outras nem tanto. No Colégio Estadual Professor Elzeário Pitz, no Campina da Barra, por exemplo, o trabalho de prevenção é no corpo a corpo, a instituição não possui câmeras de segurança, pois as mesmas foram vandalizadas.

“Sempre tomamos cuidado para não deixar pessoas estranhas entrar na escola, não deixamos o portão aberto até às 19 horas e após, temos uma funcionária que abre para o acesso dos pais quando necessário, em virtude do horário da secretaria do colégio, normalmente tanto eu como a pedagoga também realizamos a abertura deste portão quando solicitado. Os portões só são abertos no final do horário das aulas. E estamos sempre observando quem chega e qual a necessidade para adentrar o colégio, que funciona em regime de dualidade com a Escola Municipal Azuréa Belnoski”, comenta a diretora Sandra Aparecida Boeno Luciano.

Ela ressalta que o trabalho da Patrulha Escolar também tem sido fundamental. “Sabemos que o efetivo da Patrulha é pequeno para atender a demanda de colégios, mas na medida do possível sempre nos atendem prontamente”, salientou, acrescentando que a instituição está sempre pensando em ações que possam não apenas garantir a segurança dos estudantes, mas também conscientizar a comunidade escolar em relação ao que está acontecendo com os jovens.

No caminho certo

No Colégio Estadual Professor Júlio Szymanski, no Centro, a realidade é a que mais se aproxima do que seria o ideal para manter a segurança dos alunos. O diretor André Gotfrid conta que há anos o colégio adotou alguns protocolos, por exemplo, qualquer pai, prestador de serviço ou outra pessoa qualquer, precisa, obrigatoriamente, se identificar na secretária, onde tem um balcão de atendimento e só então será liberado ou não para acessar a direção ou pedagogia. “Uma das medidas também é proibir o acesso ao pátio, onde os alunos estão. No horário do intervalo também mantemos todos os portões fechados e não fizemos atendimentos. Algumas pessoas até reclamam, porque são mais ou menos 20 minutos de espera, tem até uma placa, antes mesmo do ocorrido, escrita que, visando a segurança dos alunos, os atendimentos só serão feitos após o intervalo. Então a gente fecha inclusive a secretaria, e ninguém tem nenhum acesso aos serviços da escola. No balcão fizemos uma triagem por questões de segurança e também para impedir propagandas e vendas dentro da escola. Ainda temos o porteiro, que acompanha o visitante”, esclareceu o diretor.

De acordo com ele, o colégio também está fazendo o orçamento para colocar crachás para os visitantes. “ Ideia é que todos usem crachás, professores, funcionários e visitantes. De início as medidas de segurança até receberam algumas críticas por parte de alguns pais, que não gostavam de ficar esperando para serem atendidos, mas creio que as tragédias como a de Suzano estão fazendo com que as pessoas se conscientizem dessa necessidade”, pontuou André.

Além dessas medidas, o Szymanski também conta com câmeras nos portões de entradas, corredores, pátios, exceto nas salas de aulas. Os equipamentos ajudam a combater o vandalismo e a baderna. Existe ainda o reforço da Patrulha Escolar, que acompanha a entrada e saída dos alunos.

Vulnerabilidade

Já no Colégio Estadual Profª Agalvira Bittencourt Pinto, localizado no Capela Velha, os alunos ficam mais vulneráveis, isso porque os portões nem sempre ficam fechados, e quem cuida da segurança geralmente são as inspetoras. “Não temos ninguém para cuidar, nenhuma câmera, só lá dentro do colégio que existe monitoramento feito por uma empresa particular, que nós mesmos bancamos. Se alguém tentar aqui armado, vai passar só pela inspetora. Nos dias da entrega de leite é ainda pior, porque até às 9horas a escola fica completamente aberta. Na abertura de todos os turnos ela também fica aberta, as tias só fiscalizam se não está entrando nenhum estranho. Então, partimos do seguinte princípio, se for para acontecer alguma coisa, vai acontecer, porque o colégio é muito inseguro”, analisou o diretor Alessandro Vieira Rosa.

Ele conta que o problema tem sido motivo de muitas discussões, sabe-se da necessidade de melhorar a segurança, mas as ações acabam esbarrando na falta de funcionários e na estrutura física precária. “Até hoje nosso quadro de funcionários não está completo, a gente se vira da maneira que dá, procuramos manter o portão fechado sempre que possível, mas às vezes não tem muito que fazer”, lamenta o diretor.

Situação semelhante tem sido vivida pelos alunos do Colégio Estadual Maria da Graça, no bairro Costeira, onde não existe uma segurança adequada, com câmeras ou outras medidas. Segundo o diretor Alexandre Blot, a entrada e saída de visitantes é feita pelo portão da frente, e o primeiro contato é com a secretaria, direção e pedagogia. Mas não tem ninguém fazendo a segurança, até porque a escola tem que estar aberta para a comunidade. O que temos é um controle maior na entrada dos alunos, que é feita por um outro portão, onde duas funcionárias conferem se eles estão de uniforme, o que facilita a identificação. Uma dificuldade é que não conseguimos abrir o portão muito antes de bater o sinal, isso porque não temos funcionários suficientes, então costumamos abrir apenas cinco minutos antes do início de cada turno”, explica.

O diretor comenta ainda que a instituição aguarda pelo novo projeto do governo do estado, de colocar policiais da reserva para fazer a segurança dos alunos e também monitorar os arredores da escola. “Às vezes o aluno não tem problemas de segurança dentro da escola, porém, do portão pra fora ele corre perigo. Também estamos sempre conversando com os alunos, orientando eles a sempre usarem o uniforme, porque isso ajuda a identificar quem é aluno e quem não é, orientamos também que no término das aulas sigam ndo assaltos e outros problemas. Felizmente temos o apoio da Patrulha Escolar, que é uma parceira importante na questão da segurança que, ale de patrulharem a região no entorno, sempre nos atendem quando solicitamos”.

Escolas municipais

Dentro de sua área de atuação pedagógica, a rede municipal de ensino de Araucária tem diversas ações que visam a promoção de uma cultura de paz, de tolerância e do respeito às diferenças. Desde a educação infantil, as crianças aprendem regras importantes de convivência e de respeito. Há ações multidisciplinares e que contam com a orientação da equipe pedagógica. No 5º ano do ensino fundamental, os alunos recebem as orientações do Proerd, programa da Polícia Militar que visa a conscientização sobre os riscos das drogas (lícitas e ilícitas) e também sobre a importância de não fazer uso da violência.

A Secretaria Municipal de Educação informou que está preparando uma formação para professores sobre o ‘bullying’. Outro trabalho de formação com professores, já realizado há alguns anos, é a educação para as relações étnico-raciais, um importante trabalho de valorização e respeito às diferentes culturas. Ainda de acordo com a SMED, é importante registrar também a relação de diálogo entre a unidade educacional e as famílias como meio eficaz de buscar soluções para os diversos desafios que se apresentam.

Reforço importante

A atuação da Patrulha Escolar tem sido fundamental para reduzir a violência e a criminalidade nas escolas e nas suas proximidades, proporcionando a sensação de segurança para alunos, professores e funcionários. Em Araucária, o Batalhão de Patrulha Escolar Comunitária – BPEC possui uma equipe exclusiva para fazer este trabalho junto as escolas, o que não acontece em outros municípios, onde a Patrulha só vai quando acionada.

Segundo o BPEC, o trabalho de policiamento deve ser contínuo, não pode se restringir a momentos de comoção como este, gerado após a tragédia em Suzano. “Estamos há 11 anos fazendo este serviço, através de rondas, palestras, visitas, dando consultoria em segurança para os gestores educacionais para atuarem em conflitos escolares, que podem vir a se tornar atos infracionais. Termos ainda nossa equipe do Proerd, que ajuda a instruir os alunos para situações de conflito”, esclareceu o BPEC.

A Guarda Municipal é outra aliada das escolas na questão da prevenção contra a violência. Através do seu Departamento de Assuntos Sobre Drogas (DASD), que inclui a Guarda Mirim, promove a semana de prevenção ao uso indevido de drogas, palestras sobre violência escolar, bullying, valorização feminina, entre outros. Além disso, a GMA inclui as escolas nos seus patrulhamentos e está sempre a postos, caso seja acionada para alguma situação de conflito.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1155 – 21/03/2019

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