Casos de violência contra a mulher crescem na cidade

Foto: divulgação
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Casos de violência contra a mulher crescem na cidade

A falta de políticas públicas voltadas aos direitos da mulher e combate à violência é discutida diariamente. Porém, a falta de ações concretas e mais efetivas, acaba contribuindo para o aumento nos casos de feminicídio, e levanta a necessidade urgente de se discutir e executar políticas públicas de conscientização e prevenção da violência, seja ela doméstica, conjugal, racial, psicológica, entre outras. “O debate precisa ser ampliado nos mais diversos grupos. Esse ditado popular de que ‘em briga de marido e mulher ninguém mete a colher’, precisa urgentemente ser mudado. Devemos sim nos envolver, observar pequenos gestos da filha, da amiga, da vizinha. A omissão não deve existir, porque a mulher vítima de violência precisa se sentir acolhida, protegida, saber que tem oportunidades, por mais simples que sejam, de mudar a realidade e ser feliz”, comenta a presidente da Câmara de Vereadores de Araucária, vereadora Amanda Nassar.

Segundo ela, o Estado é omisso, não investe em estrutura, capacitação e ampliação de suas equipes, transfere responsabilidades aos municípios, que não possuem estrutura para atender e transformar a vida destas famílias. “Aqui em Araucária, por exemplo, temos uma Delegacia da Mulher onde as próprias mulheres não se sentem acolhidas, muito menos protegidas. Pelo contrário, o sistema atual faz com que a mulher, muitas vezes, se sinta envergonhada e responsável pela situação que se encontra. Isso precisa mudar. Se temos um serviço, ele tem que ser eficiente”, observa a vereadora. Ela complementa que o Estado precisa agir, com urgência. “Do jeito que está é uma vergonha. Do outro lado temos o agressor, que também precisa de tratamento, caso contrário só teremos a mudança da vítima. Diante de tudo isso, estamos propondo a criação de uma Procuradoria da Mulher no município”, pontuou.

Explicações

Sobre a questão da estrutura atual da Delegacia da Mulher de Araucária, que segundo a presidente da Câmara tem deixado a desejar, a Polícia Civil do Paraná informou que os profissionais que atuam no atendimento a mulheres vítimas de violência recebem treinamento continuado, visando aprimorar a qualidade do serviço e a promoção de um atendimento humanizado.

Citou ainda que já está na fase final o concurso público para o cargo de escrivão de polícia e os candidatos aprovados nas fases preliminares já estão sendo avaliados em investigação de conduta. Explicou ainda que o governo anunciou a abertura de concurso público para delegados, investigadores e papiloscopistas. Com isso, o problema da falta de policiais civis tende a ser equacionado em todo o Estado.

Ações de conscientização

A violência contra a mulher, tema que está sempre em evidência, voltou à tona esta semana, devido ao Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, instituído pela ONU, que foi comemorado em 25 de novembro. Em Araucária, uma ação diferente, executada pela Patrulha Maria da Penha, da Guarda Municipal e pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – Condim, está chamando a atenção das pessoas.

É a exposição de varais “Lavando a roupa suja”, com camisetas contendo frases impactantes. “As três primeiras camisetas são frases comumente ouvidas após agressões, a quarta camiseta é a promessa e a última, a mudança. A última camiseta, sem frase, representa o fim. ela está apenas manchada de sangue”, explica o coordenador da Patrulha, Jackson Leoni. Segundo ele, os varais foram confeccionados pela Guarda Mirim, Adolescentro Costeira e acadêmicas do curso de Administração da FAE Araucária. Ele já ficou exposto na Câmara de Vereadores e na FAE, e durante a semana será colocado em outros locais.

Papel da Patrulha

Leoni lembra que a Patrulha Maria da Penha iniciou suas atividades em maio de 2018 e, desde então, vem realizando mensalmente, em torno de 154 atendimentos, no acompanhamento de mulheres com medida protetiva contra seus agressores. “A ação da Patrulha faz parte de um atendimento em rede, que envolve o Fórum Criminal, o Centro de Referência de Atendimento à Mulher em situação de Violência (CRAM), a Delegacia da Mulher e setor operacional da Guarda Municipal. “O resultado é um cenário que fortalece as condições para que a mulher possa dar início a saída da situação em que se encontra, romper com o ciclo de violência e ser protagonista da sua nova vida. Sabemos que ainda existem mulheres que não se sentem seguras, ou até que não sabem o caminho. A informação é uma ferramenta muito importante nesse trabalho”, pontuou o coordenador.

Ele ressalta ainda que as visitas e rondas do serviço especial já geraram prisões em flagrante, além do próprio acionamento da vítima através do 153 ou pelo botão Maria da Penha. O atendimento funciona 24 horas por dia. “Temos sido muito bem recebidos pelas assistidas”, salientou Leoni.

A presidente do Comdim, Nanny Mello, também concorda sobre a importância deste apoio às mulheres, mas lamentou a falta de equipamentos sociais que garantam um suporte melhor nos atendimentos. “Araucária precisa urgente de uma casa especializada, para acolher essas vítimas, porque muitas delas continuam convivendo com seus agressores por não terem para onde ir”.

Ocorrências de violência doméstica estão no topo dos registros da PM e GM

De acordo com a Polícia Militar e a Guarda Municipal, a maioria das ocorrências registradas nos finais de semana é referente a casos de violência doméstica. Somente a GM teve cerca de 120 casos de agressões contra mulher registrados nos primeiros sete meses do ano, uma média de 17 por mês. Desses, nem todos acabaram em prisão dos agressores, isso porque a vítima não quis formalizar a acusação.

Os dados aproximados, levantados pela Polícia Militar, também são preocupantes. Entre janeiro e outubro deste ano, foram registrados 153 atendimentos de vítimas de violência, porém, algumas situações foram enquadradas apenas como lesão corporal. Somente os casos de lesão corporal, onde também aparecem casos de violência doméstica, totalizaram aproximadamente 437 casos, atendidos pelas policiais Militar e Civil. Somente da PM foram 165 atendimentos. Vale lembrar que nem todos resultaram na prisão dos agressores.

Texto: Maurenn Bernardo

Foto: divulgação

Publicado na edição 1191 – 28/11/2019

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