Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email

Imagine você ter uma empresa e a sobrevivência financeira dela depender exclusivamente da aglomeração de pessoas. Agora tente imaginar como fica a situação dessas empresas diante da pandemia do coronavírus, cuja principal recomendação das autoridades de saúde é evitar a reunião de várias pessoas em um único espaço. Este tem sido o drama dos empresários araucarienses que trabalham com eventos, pois o setor está parado desde meados de março, quando decretos suspenderam todo e qualquer tipo de evento social.

Foram centenas de contratos cancelados, eventos remarcados por uma, duas, três vezes e sem qualquer perspectiva de nova data, e muitos funcionários dispensados. A crise financeira foi inevitável. Os que ainda não encerraram a empresa, encontram sérias dificuldades para conseguir mantê-las, sempre com a esperança de que a pandemia vai passar logo e tudo vai voltar ao normal, quer dizer, a um “novo normal”.

O Jornal O Popular conversou com empresários do setor de eventos e percebeu a unanimidade entre os depoimentos, principalmente com relação a incerteza do futuro e o medo de que o setor de eventos jamais se recupere. Outra preocupação que a maioria citou, diz respeito à falta de apoio por parte dos governos municipal, estadual e federal, para que o setor saia do sufoco. Acompanhe os depoimentos.

Mimalu Brinquedos

Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos
Fernanda Aparecida Novinski

“Referente ao setor de eventos, do qual fazemos parte, uma palavra define: ‘incerteza’. São vários eventos cancelados, uma agenda de aproximadamente 20 a 24 festas semanais e agora estamos fazendo 1 ou 2 eventos pequenos. Tivemos que nos reorganizar e fazer pacotes semanais, onde o desgaste do brinquedo acaba sendo maior e aumenta o gasto com manutenção. Um verdadeiro caos. Felizmente temos outra renda que vem de um food truck que temos no CSU, mas com a pandemia o movimento também caiu cerca de 60%. É claro que diante disso tudo, também estamos muito preocupados diante do que vem acontecendo, com esse vírus perigoso. Mas essa é a realidade que nos cabe, estamos à beira da falência, vivendo um dia de cada vez”.

MB Eventos

Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos
Marilei Bovo

“Trabalhamos com grandes eventos como casamentos, festas de 15 anos, festas de aniversário, tudo que envolve aglomerações de pessoas. Por isso, estamos sofrendo bastante, principalmente porque acreditamos que o setor de eventos será o último a voltar. Muitas noivas e debutantes não cancelaram, que tinham festas programadas para março, adiaram para setembro e agora estão nos procurando para remarcar a data de novo. Estou correndo atrás de empréstimos, mas os juros para os microempreendedores estão absurdos. Estou beirando o desespero, já joguei algumas dívidas pra frente. Pra ter uma ideia do prejuízo da empresa, no final de março tive três eventos cancelados na semana em que iriam acontecer. Teve um deles que era no sábado, e na quarta-feira as flores estavam chegando, e de repente veio o decreto e cancelou todos os eventos sociais. Joguei as flores no lixo e ali encerrou tudo. Aproveitamos aquele tempo fechado para organizar tudo, pintar, lavar, esperando que voltaríamos em dois meses. Isso não aconteceu. E pior, além de ainda estarmos parados, não há previsão nenhuma de retorno. Eu vivo exclusivamente da renda da minha empresa, então imagine o quanto está sendo difícil. Continuo atendendo as noivas, remarcando alguns eventos, mas só isso, o dinheiro não entra no caixa. Felizmente costuma pegar apenas um sinal quando fecho o contrato, o restante pego 10 dias antes do evento, então não tive muitos problemas com estornos. É um cenário desesperador, mais ainda porque não sabemos o que o futuro nos reserva, não sabemos como vai ser o retorno, como vão ficar os eventos, quantas pessoas poderão participar, como terão que se portar. Tenho casamentos agendados para 2022, mas como ficarão os valores das flores e outros materiais que precisamos adquirir de fornecedores, serão superfaturados? As noivas não querem casar de máscaras e ficar longe dos convidados. Sabemos que vai ser bastante complicado. Já pensei em investir em outro ramo, mas por enquanto ainda estou me virando, só não sei o que o futuro nos reserva”.

Faça a Festa

Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos
Maria Márcia V. Paluski

“Trabalhávamos com locações de louças. Digo trabalhávamos porque desde fevereiro estamos parados, sem renda, e apreensivos para que essa situação tenha o melhor desfecho. A pandemia nos levou a uma situação de dificuldade financeira e as reservas estão esgotadas. Penso que estamos no começo do fim desse segmento, pois eventos aconteciam e as pessoas locavam razoavelmente, o que nos dava um certo conforto, e nos ajudava a compor o orçamento de casa. Hoje vemos pessoas morrendo, uma tristeza sem fim e muitos continuam sem acreditar no vírus, que está confrontando a natureza com algo que ainda não temos expectativas de se resolver. Se as pessoas cumprissem com rigor as normas, se conscientizassem que a higiene é fundamental e não tratassem a pandemia com descaso, tudo poderia ser diferente. Quem sabe pudéssemos manter tudo funcionando, tomando os cuidados necessários. Penso em voltar a fazer bolos, e tentar voltar à normalidade dentro do que a atual situação nos permite, mas ainda é muito prematuro, pois tudo que penso em fazer, remete a eventos. Só nos resta aguardar com resignação, até que possamos pensar no que fazer”.

Meri Ruvinski Decorações

Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos
Meri Ruvinski

“Atuo como decoradora de casamentos e outros eventos sociais há 20 anos. Tenho a empresa e o salão A Fábrica Festas e Eventos, onde acontecem casamentos, festas de 15 anos e aniversários e outros eventos em geral. Começamos 2020 com a expectativa de um ano campeão em festas, a agenda estava abarrotada e estávamos fazendo novos investimentos, de repente, fechou tudo, e desde o dia 21 de março estamos parados, quase fechando 4 meses sem renda. Costumamos dizer que fomos os primeiros a parar e seremos os últimos a voltar, e sabe Deus quando isso vai acontecer. O fato é que tive que tomar decisões drásticas já no primeiro mês, dispensando alguns funcionários fixos, cortando todo gasto possível, mas com a esperança de que até agosto voltaríamos, por fim, pelo percurso que estamos vivendo, as festas provavelmente não retornarão este ano. Nossa agenda foi quase toda adiada e muitos eventos cancelados. É uma das piores sensações que existe quando você se vê sem soluções, sem expectativas. A organização de eventos envolve muitas pessoas, desde freelancer como garçons, assistentes, seguranças, cozinheiras e toda mão de obra necessária, e todo esse pessoal está desempregado. É de cortar o coração ver estas pessoas passando por dificuldades e a gente sem ter como ajudar, porque temos que pagar as contas de água, luz, para manter o imóvel funcionando, mesmo sem fluxo de caixa. É preciso fazer malabarismo todo mês, além de desapegar de peças que menos usamos para levantar capital. E vendo a epidemia se alastrar por mais tempo que imaginávamos, decidimos voltar com o segmento de alimentação, que já trabalhamos antes, e estamos fazendo sopas e caldos em formato delivery, para alavancar capital e assim manter a estrutura em pé e também ajudar funcionários que dependiam da gente antes”.

Star Produções

Com eventos cancelados, empresas do setor amargam prejuízos
Talita Pazian

“Qual data está disponível? E o ensaio fotográfico? A iluminação? O som? A rotina agitada dos eventos tem início muito antes do grande dia. Casamentos, aniversários, festas infantis, batizados, eucaristias e tantas outras datas especiais. Há quase 20 anos temos a honra de participar de momentos importantes na vida de tantas pessoas, eternizando-os nas fotografias e vídeos. Trabalhamos com fotografia e vídeo, produção audiovisual, sonorização e iluminação, serviços dedicados exclusivamente a eventos, uma das áreas mais afetadas pela crise econômica decorrente da pandemia. Com a recomendação médica de distanciamento social, as festas e confraternizações ficaram para depois. Reunir a família e amigos para comemorar a alegria de uma união, do nascimento de um filho, da conquista do diploma de um ensino superior, são sonhos e celebrações que foram adiados. Diante dessa crise sanitária, estamos há mais de 100 dias sem eventos. Foram aproximadamente 40 contratos cancelados ou adiados, entre os meses de março a setembro. E, ainda que a perspectiva atual é que essa decisão precise ser tomada até dezembro de 2020, o futuro se revela repleto de incertezas. O momento de crise exige que nos reinventemos. Considerando que muitos momentos não podem ficar para depois, como as gestantes que esperam ansiosas a chegada do filho e as fotografias de bebê, ampliamos nossos ensaios em estúdio e oferecemos maior variedade de cenários externos. Para empresas que desejam ampliar a visibilidade de sua marca, criamos conteúdo através de fotografias e vídeos corporativos. No ramo do entretenimento, produzimos vídeos, som e luzes para a realização de lives de cantores locais e, ainda, o proprietário Adilson Ribas criou uma rádio online, a Star System, contribuindo com a valorização da música e cultura. Enfim, está sendo um grande desafio manter uma empresa voltada para a produção de eventos num período em que não se pode produzí-los. Contudo, por mais que o futuro pós-pandemia se apresente incerto, acreditamos que, com fé, criatividade e união, conseguiremos superar mais esse desafio”.

Texto: Maurenn Bernardo

Foto: divulgação e Marco Charneski

Publicado na edição 1221 – 16/07/2020

Compartilhar
PUBLICIDADE