Conversa de feira

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Acordei cedo no domingo passado e fui até a quitanda pra minha mãe. Sim, ainda moro com ela! Mas este não é o assunto deste texto. A quitanda fica na rua Santa Catarina e na minha lista de compras estavam, entre outras coisas, tomate, batata, maçã, melancia, alface, laranja e rúcula. Peguei tudo certinho, coloquei no carrinho e fui pra fila do caixa. Eu estava bem tranquilo, não queria nem falar de política naquele dia, mas foi um senhor morador da região que puxou papo. “Esta rua Santa Catarina está uma vergonha. Aliás, todas as ruas da cidade estão uma porcaria. Cheias de buraco”. Eu me segurei e só respondi: “É, não é fácil!”. Entretanto uma outra senhora, também na fila, retrucou o primeiro a reclamar: “Quem dera fossem só as ruas. E a escola aqui do bairro (Terezinha Theobald) que pegou fogo no ano passado e até agora a Prefeitura não consertou. Tiveram que inventar um horário maluco para as crianças poderem estudar”, cutucou. Eu ainda resisti e soltei apenas um “é complicado!”.
 
Eis que surge uma terceira pessoa e joga mais lenha na fogueira, com a indagação decisiva para que eu entrasse no debate: “E este prefeito, o que anda pensando? Não faz nada. Está tudo abandonado nesta cidade!”, constata. Foi a gota d’água. Não consegui ficar quieto e acrescentei à discussão a seguinte informação: “e olha que o salário do prefeito é de R$ 15 mil por mês”. Seguiram-se manifestações de indignação: “O quê!?”. “Quanto!?”. “Tudo isso!?”. “É uma brincadeira mesmo!”. “Não acredito!. Tudo isso pra não fazer nada!”. “Esta Araucária perdida mesmo”.
 
O senhor que fez a primeira reclamação colocou ordem na conversa novamente. “E olha que dizem que Araucária é a segunda maior arrecadação do Paraná. Não era pra cidade estar abandonada deste jeito”. As pessoas na fila meio que se olharam e eu acrescentei mais uma informação: “é, só este ano o orçamento da Prefeitura é de mais de R$ 500 milhões!”. Seguiram-se manifestações de indignação. “Tudo isso!?”. “Pra onde vai esse dinheiro todo!?”. “R$ 500 milhões e as ruas estão deste jeito!?”. “Estamos perdidos mesmo!”.
 
A mãe que havia reclamado da situação da Escola Terezinha Theobald olha para os presentes, cada qual sua cestinha de frutas e verduras, e questiona: “E onde estão os vereadores que não fazem nada?” Todo mundo balança a cabeça meio que concordando e se lamentando. Acrescento mais um dado: “É, e este ano o orçamento da Câmara é de R$ 23 milhões”. Seguiram-se manifestações de indignação: “R$ 23 milhões pra não fazerem nada!?”. “Você está brincando!?”. “O quê? R$ 23 milhões para onze vereadores!?”. “Onde eles estão enfiando todo este dinheiro!?”.
 
A mulher do caixa grita “o próximo!”. É minha vez. Ela diz: “bom dia”. Eu respondo: “é, não fossem os problemas”. Ela começa a pesar as minhas compras e pergunta: “o abacaxi você pegou do qual?”. “Aquele lá do fundo, de R$ 2.50”, respondo. Depois de tudo pesado, ela fala o valor da conta: “tudo deu R$ 29”. Dou uma nota de R$ 20 e outra de R$ 10. Ela me devolve R$ 1. Pego minhas sacolas. Olho pros demais na fila e me despeço. “Até mais pessoal. Um bom domingo pra vocês!”. Recebo a réplica costumeira de despedida e vou embora com a consciência tranquila de que desta vez não fui eu quem ficou reclamando da Prefeitura, do prefeito e nem dos vereadores.
 
E, você, amigo leitor, se estivesse na fila da quitanda conosco, que comentário faria?
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