Depois de dez anos, Justiça absolve Hissam

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Empresário afirma que denúncia requenta fatos dos quais ele já foi inocentado
Empresário afirma que denúncia requenta fatos dos quais ele já foi inocentado

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São poucos os moradores de Araucária que nunca ouviram falar do empresário Hissam Hussein Dehaini. Um dos homens mais ricos da cidade, seu nome sempre esteve associado, pelo menos à boca pequena, à prática de um ato ilícito: o tráfico de drogas. Embora nunca tenha sido provado nada contra ele, a “fama” de traficante meio que foi incorporada ao imaginário popular araucariense. No entanto, a partir de agora, quem, em algum momento da vida, chamou Hissam de traficante terá que rever seu “pré-conceito”. Acontece que ele foi inocentado pelo juiz João Eduardo Staut Nunes, da 4ª Vara Criminal da Região Metropolitana de Curitiba, da acusação de associação para o tráfico de drogas, movidas contra ele desde o ano de 2.000.
Em sua sentença, o magistrado afirma que é impossível atribuir ao empresário a prática de crime de associação. Verificando as peças do processo, merece destaque ainda o fato de que o próprio Ministério Público, que havia acusado Hissam de associação para traficância, considerou, no decorrer do processo, que não haviam evidências que comprovassem o crime. Diante disso, o próprio promotor do caso, Dicesar Augusto Krepski, pediu que o juiz absolvesse o réu.

Entenda do processo
As acusações de tráfico de drogas contra Hissam ganharam corpo no início de 2000, quando ele compareceu espontaneamente a CPI Nacional do Narcotráfico, que esteve em Araucária, para prestar alguns esclarecimentos. À época, ele saiu do depoimento preso sob a acusação de tráfico de drogas. Ficou detido por sessenta dias. “Ele foi preso sem que houvesse qualquer prova contra ele. Tanto é que depois disso não houve qualquer acusação formal na Justiça contra o meu cliente”, argumentou o advogado de Hissam, Edigardo Maranhão Soares.
Ainda naquele ano, uma outra CPI foi instaurada para investigar o tráfico de drogas, só que desta vez pelos deputados estaduais paranaenses. Hissam foi ouvido pelos parlamentares na Assembléia Legislativa, de onde saiu novamente detido, sob a mesma acusação. Desta vez, ficou detido por 105 dias. “Ele foi à Assembléia de forma espontânea para auxiliar nos trabalhos, vez que seu nome continuava sendo citado. O que ele não esperava era que fosse de novo vítima de um show promovido pelos deputados estaduais, que acabou resultando numa prisão temporária para o meu cliente, mesmo que não houvesse qualquer razão para isso”, comentou o advogado.

4ª Vara Criminal
Desta segunda prisão, resultou o processo criminal do qual Hissan foi inocentado por não haver provas que indicassem que ele era traficante.

Montalvão, o acusador!
Nos autos do processo em que Hissam era acusado de tráfico, é interessante o fato de que toda a denúncia é sustentada no depoimento de apenas uma pessoa: José Maria Menezes Montalvão, que já havia sido condenado por tráfico. Foi com base no que ele disse que o empresário araucariense foi detido durante seus depoimentos nas CPIs e depois acusado formalmente pela 4ª Vara Criminal.
Segundo Montalvão, entre os anos de 1996 e 1999, ele atuaria no tráfico de drogas na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, sendo que na época ficou sabendo que Hissam seria um dos chefes do tráfico na região Sul. Montalvão disse ainda em seu depoimento que certa vez, isto em 1999, teria feito a entrega de certa quantia de cocaína a algumas pessoas, dentre elas Hissam, na cidade de Campo Largo. Montalvão afirmou ainda que juntamente com o empresário e outras pessoas teriam feito o refino da droga numa chácara situada no quilômetro 125 da BR 277.
A versão de Montalvão perdeu força porque nenhuma das outras seis pessoas que foram indiciadas juntamente com Hissam no processo disse conhecer o empresário. As testemunhas que depuseram na ação também inocentaram Hissam. Ainda no curso da ação, o próprio Ministério Público levantou em suas alegações finais que Montalvão havia sido considerado – em outra bronca – deficiente mental por médico-perito indicado pela Justiça. Ainda corroborou com a desqualificação da denúncia, o fato de que Montalvão “postulou por novo interrogatório…, argumentando que foi movido a contar fatos, seduzidos pelas benesses da lei de proteção a testemunhas”. É, como diriam: isto sim que é coisa de louco!

“Minha família sofreu muito com tudo isto”
Já absolvido das acusações de associação para o tráfico de drogas, Hissam recebeu nossa reportagem em sua casa esta semana. “Sempre trabalhei muito em minha vida para poder ter o que eu tenho. Abri meu primeiro comércio em 1982. Era uma pequena lanchonete na subida da Praça da Matriz. O que eu tenho hoje é fruto do meu suor e não das lágrimas de ninguém”, desabafou. Ainda segundo ele, as acusações causaram grandes problemas para a sua família. “Quando este processo todo começou, meus filhos ainda eram pequenos e sofreram muito. Na escola e nas ruas, as pessoas apontavam pra eles e diziam ‘este é o filho do traficante’. Quem consegue viver direito com isso?”, destacou.
Hissam diz que perdeu muitas oportunidades por conta do processo. “Muitas empresas deixaram de contratar minhas empresas por conta destas denúncias sem sentido. Isto fez com que eu perdesse muito dinheiro. Aliás, isto acontece até hoje. Mas espero que agora as coisas possam mudar”, acrescentou.
O empresário destacou ainda que a fama de traficante fez com que ele não pudesse participar mais do dia a dia da cidade e evitasse receber pessoas em sua casa. “As pessoas tinham receio de falar comigo. Tive que deixar em segundo plano muitos sonhos. Agora, quero mudar isso. Tenho muita vontade de contribuir de forma mais efetiva com o desenvolvimento da minha cidade”, finalizou.

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