Ela foi ao show dele, e ele se apaixonou

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Ela foi ao show dele, e ele se apaixonou

O casal Lídia e Gláucio Karas são muito conhecidos na cidade, seja pelo empreendedorismo, ou pelo envolvimento com as causas empresarias e culturais da cidade, afinal quem nunca ouviu falar no polaco irreverente, Isidório Duppa, o personagem mais famoso criado e interpretado por Gláucio?

Entretanto, se o caro leitor ainda não conhece pessoalmente o famoso polaco de Araucária, provavelmente já almoçou ou passou em frente a Cantina da Lídia, tradicional restaurante localizado, na subida da Avenida Vitor do Amaral nº 66 em uma simpática construção dos anos 50 pertinho da praça matriz, que pertenceu ao famoso médico araucariense Dr. Álvaro Cantador.

Pois é desse simpático casal, que estão juntos há mais de 30 anos, que vamos contar um pouco da história, nessa edição especial dos 130 anos de Araucária.

Gláucio, 58 anos, faz parte de uma tradicional família de polacos que vieram para o Brasil em 1876 e se instalou na região do Thomas Coelho. Lídia Godoy (56) é natural da cidade de Faxinal (PR), mudou-se para Araucária com a mãe viúva e os irmãos no ano de 1975. “Cerca de um mês depois minha mãe faleceu e eu fui trabalhar com uma família em Curitiba. Em 1980 retornei para a Araucária, para morar com minha irmã que já era casada”, relembra. Seu primeiro emprego foi na Labra – Industria Brasileira de Lápis, e no ano de 1984, começou a trabalhar na Prefeitura Municipal até a recente aposentadoria.

Nas década de 80 e 90 Gláucio participou ativamente do movimento cultural da cidade, foi um dos responsáveis pela direção do “Showcante”, um programa de talentos que era realizado no auditório do Seminário São Vicente de Paulo. “Eu estava na coordenação dos shows e no intervalos das apresentações, fazia a divulgação dos patrocinadores e animava a plateia”. Em 1985, Lídia estava com as amigas assistindo a uma das apresentações e concedeu uma entrevista para a produção do evento. “Quando eu vi a filmagem fiquei encantado por ela, e pensei que eu gostaria muito de conhece-la”, entrega Gláucio. O destino deu uma ajudinha e pouco tempo depois, o casal se encontrou no Baile do Chopp da Sociedade Operário.

A ideia de abrir um restaurante surgiu quando o casal ficou noivo, Lídia achou que seria possível conciliar o trabalho na prefeitura com o restaurante, eles teriam onde almoçar diariamente e uma fonte de renda. “Comecei com um pequeno restaurante em frente à prefeitura, com o passar do tempo e o aumento da clientela mudei para um ponto maior na rua Vitor do Amaral e depois para a sede atual”, explica Lídia. A Cantina da Lídia tem 31 anos de história, o casal mantem outros dois restaurantes em parceria com o filho Leo Karas, o Niti Grill, sendo um em Araucária e outro em São José dos Pinhais. O filho mais novo João, trilhou outro caminho e cursa faculdade de Psicologia.

O casal sempre se dedicou ao desenvolvimento social e econômico de Araucária, atuando junto à Associação Comercial, Industrial e Agropecuária (ACIAA), da qual Gláucio já foi presidente e Lídia, membro integrante do Conselho da Mulher Empreendedora.

Ponto de Encontro

Os pais de Gláucio, Leocádia e Luiz Onofre Karas são proprietários de uma das mais antigas lojas de roupas da cidade – A Graciosa, localizada na praça matriz. “Nós morávamos em cima da loja, então toda minha infância e a dos meus três irmãos aconteceu no centro de Araucária, que era bem pequeno e modesto”. Ele estudou no Instituto Sagrado Coração de Jesus, foi aluno da lendária professora Irmã Filó.

Dos tempos de infância, Gláucio lembra que a gurizada se dividia em turminhas de acordo com o lugar onde residiam. “Eu era da turma da praça, andava de bicicleta, jogava bola de gude e presenciava aos domingos o maior evento social de Araucária – a missa das 10 horas que reunia toda a sociedade araucariense. Os colonos vinham de toda a região, a igreja ficava lotada”, conta. Após a celebração, as famílias se dividiam e iam confraternizar nos famosos bares e mercearias da praça. “Eram cinco, o da Angela Durau, do Seu Atilio Pereira de Souza, conhecido como Bar do Sezino, do Donato, do Leo Karas e o bar do Plickt, e o fervo durava até a hora do almoço, depois a praça voltava a tranquilidade habitual”.

Na juventude Gláucio frequentava os bailes e festas realizados nas sociedades locais, e foi um dos últimos integrantes de um grupo de rapazes lendários de Araucária: “No sábado de Aleluia, após respeitar os 40 dias de Quaresma, nós saíamos de madrugada para roubar os portões das casas e os levávamos até a praça. De manhã, era aquele movimento de gente procurando o seu portão, na enorme pilha que se acumulava na frente da igreja”. Gláucio explica que o pessoal levava na brincadeira, pois já era tradição: “Lembro como se fosse hoje, seu Lincoln Coimbra, dizendo: Piazada, já que me fizeram vir até aqui, ao menos me ajudem a carregar o portão na Kombi”.

Considerado agitador e ativista, “com muito orgulho”, em 1986 foi um dos organizadores da primeira passeata da cidade em prol do Meio Ambiente, com a participação de mais de 1000 estudantes das escolas locais.

Deixando de lado a malandragem, Gláucio sempre foi um importante nome da cultura local. Desde criança queria ser artista, mas seu pai era contra e dizia que ele tinha que trabalhar em algo que o sustentasse. Assim o fez, concluiu o 2º grau e cursou Química pela Universidade Federal do Paraná, depois Administração, pós graduação em Marketing pela FAE, mas nunca deixou de lado o lado artístico nas composições musicais e nas peças de teatro e stand ups., considerando-se um autodidata, pois nunca frequentou aulas de música nem de teatro.

O artista

Com os amigos Luiz Biscaia e Jair Biondo, o jovem Gláucio foi um dos idealizadores do Festcar – Festival da Canção de Araucária, que por muitos anos foi um dos mais importantes festivais de música do Paraná.

Em 1989, se envolveu com os preparativos para a comemoração do Centenário de Araucária que aconteceria em 11 de fevereiro do ano seguinte. O movimento cultural, considerado por ele como o maior já realizado em Araucária, fez surgir o LP “Pelo Verde Que Nos Resta – Araucária Somos Nós”, com músicas de sua própria autoria, interpretadas por artistas locais. O disco de vinil foi produzido pela prefeitura, com distribuição gratuita na cidade.

Da coletânea musical, foi escrita a peça que foi exibida na inauguração do Teatro Da Praça, em novembro de 1990 – “Pelo Verde Que Nos Resta” dirigida por Fátima Ortiz, com um elenco constituído por artistas locais.

Gláucio também participou do DVD “Os seresteiros” no ano de 2005. “O projeto é o resgate cultural do tempo em que o Bar do Leo era a toca dos boêmios de Araucária, que se reuniam para uma prosa, jogar e principalmente para promover um encontro de amigos ao redor de um violão.

Entre seus feitos destaca-se ainda a Gravação do CD “Pedaços de Sonhos” lançado em 2001 com as composições que mais marcaram sua vida e participantes de Festivais pelo Paraná, São Paulo e Santa Catarina, dentre elas a Música “Nas Varandas” interpretada pela saudosa cantora de Festivais Angélica Pires”

Isidório Duppa

Gláucio criou o personagem Isidório Duppa, livremente inspirado nas histórias que a família contava e no jeito de ser do “polaco” – palavra de uso comum para designar todos os descentes de europeus de pele e olhos claros com jeito “amarrado” de falar.

Colunista do Jornal O Popular, desde 2007, Gláucio assinando suas publicações como o irreverente e bem humorado, Isidório Duppa e reuniu as primeiras 100 colunas que escreveu para o jornal, num livro publicado em 2009: “Isidório Duppa em Semo Polaco Non Semo Fraco”, com ilustrações de Roque Sponholz.

As peças baseadas nas aventura de Duppa, ficaram em cartaz por mais de 10 anos no Teatro Barracão em Cena, em Curitiba e foram apresentadas em eventos públicos e corporativos, tanto em Araucária como em outras cidades. “O Gláucio é um poeta, um autodidata que nasceu artista, ele é uma pessoa admirável”, se derrete em elogios a esposa Lídia, em reconhecimento ao trabalho e dedicação do marido.

Gláucio lamenta que todas as manifestações culturais, tão importantes nos anos 80 e 90, se perderam no tempo e que na cidade não se veem projetos que promovam e incentivem o artista local.

“Araucária se desenvolveu muito desde a nossa juventude, a população aumentou e é bem diversificada”, recebemos importantes empreendimentos, grandes redes de supermercados e universidades, somos uma cidade rica, mas pobre em cultura e lazer”, complementa Lídia.

Infelizmente Gláucio Karas deu uma pausa em sua carreira artística, e ainda não sabe se um dia Isidório Duppa voltará aos palcos, para alegria do público. Todavia, você pode acompanhar os causos desse malandro na coluna semanal que ele escreve aqui no jornal O Popular.

Texto: Rosana Claudia Alberti

Foto: Marco Charneski

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