Estupro coletivo da dona Educação

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Participei na semana passada de uma audiência pública realizada pela Câmara de Vereadores sobre os desafios da estadualização das séries finais do Ensino Fundamental em Araucária. Como se sabe, somos um dos poucos municípios do Paraná que ainda mantém tal encargo. Arrisco-me a dizer, inclusive, que proporcionalmente somos a cidade paranaense que mais mantém alunos do sexto ao nono ano.

Alguns, neste momento do texto já podem estar se perguntando, “tá, mas qual o problema de se manter esses alunos, afinal eles não são moradores de Araucária?”. Bem, o problema é que – como se sabe – manter escolas têm custo e, considerando que os recursos públicos são finitos, é preciso que o Município concentre seus investimentos em áreas de sua responsabilidade e, ato contínuo, exija dos outros entes da federação que eles também assumam suas obrigações.

Confesso que me entusiasmei quando ouvi falar da audiência sobre estadualização. Pensei que, por se tratar de um tema muito presente em nosso dia a dia, o plenário da Câmara estaria lotado. Cogitei que professores da rede municipal e estadual estariam todos lá. Ingênuo, jurava que o espaço estaria ocupado por centenas de pais de escolas municipais, mães que aguardam por uma vaga num cmei, afinal, os recursos destinados para manutenção do ensino do sexto ao nono fazem falta na abertura de novas creches. Uma das principais interessadas em repassar o encargo do sexto ao nono ano ao Estado, tinha certeza que a Secretaria Municipal de Educação também se faria presente, com dezenas de números e dados comprovando a necessidade dessa transferência. Até alunos, que até por suas idades nem sabem direito as razões desta discussão, pensei que haveria naquele auditório. Mas, iniciada a reunião, decepção, meia dúzia de gatos pingados deram as caras.

Não é de hoje que acompanho a questão do ensino em Araucária. Já faço isso há pelo menos quinze anos. E o faço não com o objetivo de defender os interesses de quem comanda a Prefeitura, muito menos dos sindicatos e de seus professores, ou dos alunos e de seus pais. Meu interesse é muito maior. É com a Educação oferecida em nossa cidade, a qual deveria ser pensada antes de qualquer coisa, mas pensada de maneira séria, não como vem sendo feito hoje, seja pelos políticos, pelo magistério, pelos pais e pelos estudantes.

Atualmente, o que vejo é um estupro coletivo da Educação municipal. O poder público violenta a pobre da escola ao pensá-la meramente como uma obrigação, sim porque manter instituições de ensino não dá votos, malemá evita que eles sejam tirados. O mesmo vale para parte do magistério e suas entidades representativas de classe, que se acham os donos do conhecimento e vivem a nos chantagear com suas greves, paralisações e coisas do gênero, mas na verdade querem mesmo é manter benefícios sem se comprometer claramente em dar algo em troca. Da mesma maneira, temos os pais, cuja maioria, admitamos, não está preocupada se o filho se apropriou verdadeiramente de algum conhecimento em sala de aula e sim se ele ficou lá naquelas quatro horas trancado dentro dos portões do colégio, longe de confusão. E, claro, temos o aluno, que vai pra escola simplesmente porque assim o mandaram, mas que lá conta as horas para dar no pé, seja porque o currículo não lhe faz sentido algum, ou ainda porque a vida fora dos muros escolares é bem mais divertida.

E assim, cada um ao seu modo, estupra um pouco a pobre da Educação, alguns machucando um pouco mais a molambenta, outros nem tanto, mas todos se regozijam, todos têm um pouco de prazer, mesmo que terminado o ato, sintam-se um pouco culpados. O maior problema é que não demorará muito para que dona Educação sucumba a tanta violência. Machucada e humilhada como vem sendo por todos nós, logo ela não resistirá. Torço sinceramente que façamos alguma coisa para salvá-la antes do dia fatídico.

Comentários são bem vindos em www.opopulapr.com.br. Até uma próxima!

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