Hissam faz avaliação de seus primeiros sessenta dias no comando da Prefeitura

Foto: Arquivo O Popular
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Hissam faz avaliação de seus primeiros sessenta dias no comando da Prefeitura
Hissam ressalta nova gestão da CMTC e afirma que está abrindo a caixa preta da companhia

O prefeito de Araucária há dois meses, Hissam Hussein Dehaini (PPS), recebeu a reportagem de O Popular na última quinta-feira, 2 de março, para uma entrevista exclusiva sobre os seus primeiros dois meses ocupando o cargo de chefe do Executivo municipal.
O local escolhido para a entrevista é um exemplo do jeito Hissam de ser. Ao contrário de outros mandatários, que concentravam os trabalhos no quarto andar da Prefeitura, onde está instalado o gabinete do prefeito, o empresário conversou com O Popular na sala do secretário de Finanças, Luciano Stall. Com Hissam, o famoso quarto andar foi reduzido a coadjuvante. Há quem diga, inclusive, que ele passa menos tempo lá e mais batendo cartão em outras secretarias.
Durante a conversa com nossa reportagem, Hissam estava acompanhado de alguns secretários. Além de Luciano, também estavam lá, Preto Franceschi (Comunicação Social), Samuel de Almeida (diretor-presidente da CMTC) e o servidor da Secretaria de Finanças, Eliezer Cordeiro. A entrevista durou pouco mais de duas horas. Neste período, o prefeito falou principalmente das mudanças que está promovendo na CMTC. Enfatizou várias vezes que está abrindo a caixa preta da companhia e que acredita que ela estava sendo utilizada menos para servir aos usuários do transporte coletivo e mais a interesses particulares de empresários e políticos.
Hissam ainda afirmou que, no momento, não está preocupado com eventuais desgastes que sua imagem pode estar sofrendo em virtude de medidas impopulares, como a readequação das linhas de ônibus da área rural, a iminência da transferência das unidades 24 horas para o prédio do Hospital Municipal de Araucária e o corte do abono dos aposentados da Prefeitura. Ressaltou, inclusive, que já na posse, avisou que o remédio para colocar a cidade nos trilhos seria amargo e que, ou ele promovia esse choque agora ou o Município se tornaria inviável em poucos meses. Abaixo, você confere os principais trechos da conversa que tivemos com o prefeito.

Hissam faz avaliação de seus primeiros sessenta dias no comando da Prefeitura
Acompanhado de alguns secretários, prefeito recebeu O Popular na Secretaria de Finanças

Herança
Não é novidade para ninguém que recebemos a Prefeitura com dívidas da ordem de R$ 25 milhões. Deste total, mais de R$ 22 milhões eram devidos a fornecedores e algo em torno de R$ 2,5 milhões em rescisões de cargos em comissão. Justamente por essa razão, me reuni com a equipe para decidir como estancarmos esse passivo para que pudéssemos ter tranquilidade para tocar a nossa administração, esta que se iniciou em 1º de janeiro de 2017. Optamos então pelo decreto da moratória. Isso foi necessário para colocarmos a casa em ordem. Nenhum prefeito gosta de decretar uma moratória, mas não havia outra saída. Ou era isso ou continuaríamos pagando nossos fornecedores com atraso.
Hoje, com dois meses de governo, temos a certeza de que a decisão foi acertada e já devemos interromper a moratória, que inicialmente era pelo prazo de três meses. Conseguimos organizar os pagamentos atrasados. Iniciamos agora o pagamento das rescisões dos comissionados. Mas, deixo claro, estes acertos só estão sendo feitos se os CCs da administração passada conseguiram comprovar que efetivamente estavam trabalhando. Em casos onde há desconfiança com relação a isso, estamos informando o Ministério Público. Não vamos pagar quem não trabalhou.
Além da herança financeira, também pegamos uma Prefeitura desacreditada. Todos sabemos onde está quem era prefeito até o ano passado e isso só aumenta a nossa responsabilidade e o nosso desafio de recolocar Araucária nos trilhos.
Transporte coletivo
Sempre ouvimos dizer que o transporte coletivo em Araucária era uma caixa preta. Afinal, como pode uma companhia como a CMTC gastar o que ela gastava e mesmo assim oferecer um sistema de ônibus que deixava a desejar tanto quanto o nosso. Quando assumi, minha determinação para o presidente da CMTC foi: “abra essa caixa preta”. É isso o que estamos fazendo: abrindo a caixa preta e com apenas sessenta dias já avançamos muito lá. E ainda vamos avançar muito mais e, garanto a toda a nossa população, se houve coisa errada sendo feita lá e nós descobrirmos, os responsáveis terão que responder por isso. Se dinheiro público foi desviado nós vamos atrás dele e ele terá que voltar para o Município.
Só para termos uma ideia do que fizemos na CMTC nestes sessenta dias, de cara conseguimos renegociar com a Viação Tindiquera, responsável pelo TRIAR, um desconto de mais de 50% na dívida que eles diziam que a companhia tinha com eles. A dívida era de quase R$ 8 milhões e fechamos um acordo por menos de R$ 3 milhões e, de quebra, ainda encerramos cinco ações judiciais entre nós e eles. Outra renegociação foi no custo do quilômetro rodado, que caiu de R$ 8,38 para R$ 7,29. Também estamos revendo outros vários itens da tabela que compõe o preço do quilômetro.
E não paramos por aí. Também fizemos algo que muita gente por aí dizia que não poderia ser feito, que era acabar com aquele contrato ilegal que a CMTC tinha com a Transtupi. Um contrato para gerenciar uma única linha e que levava dos cofres públicos quase R$ 10 milhões por ano. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. E, ainda, acabamos com o contrato sem fazer com que a linha saísse de circulação, pois a COMEC assumiu o compromisso conosco de passar a gerenciar esse trajeto, até porque estamos falando de uma linha intermunicipal.
Ainda na CMTC, cancelamos os contratos com as empresas que cuidavam dos serviços de vigilância e limpeza. Contratos absurdos, que sangravam o Município. Por enquanto, revisemos essas contratações por meio de contratos emergenciais e estamos gastando muito menos sem que tenha havido prejuízo na qualidade do serviço realizado. Para se ter uma ideia, ao final de doze meses, só com a segurança e limpeza da CMTC teremos economizado R$ 6 milhões.
Enfim, é tanta coisa que mexemos lá, que levaria muito tempo só para falarmos disso. Mas, para resumir, o que estamos fazendo na CMTC é abrir a caixa preta. É claro que algumas mudanças geram desgaste, como no caso daquelas que tivemos que fazer no transporte coletivo da área rural. Mas eram mudanças necessárias. E tenho certeza, muito em breve, as pessoas que ainda não entenderam essas mudanças, nos darão razão.
Saúde
Já iniciamos a gestão com aquele pepino da dívida do HMA para resolver. Uma dívida confusa, que ora era sete, ora era oito, ora era dez milhões de reais. Ao final de muita negociação, conseguimos fechar um acordo com o instituto que administra o hospital e tudo ficou por R$ 3,1 milhões parcelados em três vezes, das quais duas já pagamos. E, a partir de janeiro, estamos pagando religiosamente em dia os R$ 3,2 milhões do contrato. Ou seja, resolvemos a dívida passada e não criamos débitos para o futuro.
Simultaneamente a questão da dívida do HMA, também passamos a discutir a função dele e de toda a estrutura que sua operacionalização envolve. Afinal, não podemos ter um hospital que não sirva àquilo que é mais urgente à saúde da nossa gente. Mas essa discussão é uma discussão ampla e envolve uma melhor ocupação de toda aquela área do HMA. E aí entra a unificação dos serviços do UPA e PAI lá naquele espaço. Estamos com esses estudos avançados e, tenho convicção, a nossa população, que é pra quem eu governo, irá aprovar as mudanças que faremos. Mas as pessoas não precisam ficar preocupadas, pois nada disso será feito sem que as pessoas sejam avisadas com antecedência.

 

Imóveis locados
A questão dos imóveis locados pela Prefeitura também foi outro ponto que dedicamos uma atenção especial. De cara, já chamamos todos os proprietários desses espaços para uma renegociação, pedimos um desconto no valor do aluguel. Afinal, os tempos são de crise também no mercado de locações, então nada mais justo do que sentarmos para conversar. E essas conversas foram muito boas. Todos entenderam a situação do Município e concordaram em reduzir o valor que cobravam.
Outra ação importante que fizemos foi com a reunião de vários serviços da área de saúde, que estão espalhados pelo centro da cidade num único prédio. Estamos criando assim uma espécie de complexo administrativo dos serviços de saúde ali na rua prefeito Odorico. Para se ter uma ideia da economia que geramos com isso. Os serviços que abrigaremos nesse prédio consumiam quase R$ 55 mil mensais em aluguéis. Estamos locando o novo espaço por R$ 22 mil e ainda ganhamos três meses de carência do proprietário. E essa é a economia que já pudemos calcular, pois economizaremos muito mais com telefone, água, luz, segurança, entre outros com essa unificação.
Mas, para resumir isso, só com locações de prédios feitos pela Prefeitura, nós gastávamos R$ 212 mil por mês. Quando todas essas mudanças forem efetivadas, passaremos a gastar R$ 115 mil. Ou seja, anualmente a economia será de quase R$ 1,2 milhão.
Trânsito
Também fizemos várias mudanças no trânsito da cidade. E é claro que, como toda mudança em sentido de ruas, fiscalização e coisas do gênero, essas geram um pouco de reclamações no início. Mas todas foram feitas para melhorar a mobilidade e embasadas em estudos da Secretaria de Urbanismo. E continuaremos trabalhando nesse sentido. Já iniciamos, por exemplo, a fase interna da licitação para implantação das lombadas eletrônicas, também vamos fazer concurso público para contratar mais agentes de trânsito e estamos estudando mudanças no EstaR.
Gestão
Estamos trabalhando muito, em todas as áreas. E ainda há muito que ser feito. Araucária estava parada no tempo e estamos implantando uma nova dinâmica no jeito de administrá-la. Eu, por exemplo, transformei meu gabinete numa imensa sala de reuniões e abri o quarto andar da Prefeitura. Aquilo não é mais um labirinto, onde as portas ficavam todas fechadas. Contratamos até o momento o mínimo possível de cargos em comissão.
Também estamos procurando dar mais agilidade à resolução de questões administrativas. Criamos as rodadas de gestão, onde várias secretárias se reúnem num mesmo dia para sacramentar de uma vez essa ou aquela questão. Nos próximos dias também devemos enviar à Câmara um projeto de lei reestruturando a questão dos cargos em comissão. Também estamos controlando nossa execução do orçamento mensalmente. Sentamos lá e vemos quanto é a previsão de dinheiro para entrar e quanto são as dívidas que precisamos pagar naquele mês. Deste modo, conseguimos ver onde dá para apertar, o que precisa ser cortado naquele mês e assim por diante. Não esperamos o dinheiro faltar para agir.
Investimentos
O momento é de apertar o cinto, mas tudo o que conseguirmos economizar será reinvestido na cidade. Lembro que em meu discurso de posse disse que a situação da cidade não era fácil e que o remédio para resolver os problemas seria amargo. Estamos aplicando o remédio e acredito que muito em breve já poderemos ver o resultado desse trabalho em novos investimentos, em todas as áreas. Uma boa notícia, por exemplo, é que, com a economia que estamos fazendo já consegui reservar R$ 5 milhões para a pavimentação da estrada do Tietê, uma antiga reivindicação de quem mora na área rural. A licitação deve ser lançada nas próximas semanas.
Texto: Waldiclei Barboza / Foto: Everson Santos

Compartilhar
PUBLICIDADE