Idosos tentam driblar a solidão em tempos de isolamento social

Foto tirada em maios de 2020. Foto: Everson Santos
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Idosos tentam driblar a solidão em tempos de isolamento social

Os idosos, que estão entre os principais grupos de risco para a pandemia do coronavírus, estão também entre os que mais sofrem com o isolamento social. Não é raro eles reclamarem de solidão, de ansiedade e mesmo de um sentimento de incapacidade, já que muitos tinham uma vida social ativa e foram forçados ao confinamento. É o caso do seu Antônio Dybas, de 83 anos, que antes da pandemia era muito ativo, trabalhava como jardineiro, e agora está “preso” em casa, sentindo muita falta de ir para a rua. “Eu me divertia cuidando dos jardins das casas, das plantas e das flores, conversava com todo mundo na rua, e assim eram meus dias, bem alegres. Agora fico dentro de casa e o mais longe que saio é no quintal. Apesar de morar com outros familiares, me sinto um pouco sozinho, porque eles têm os afazeres deles”, lamenta. Seu Dybas conta que tem assistido muita televisão, acompanhado as notícias, mas as horas custam a passar. “A solidão se torna amena quando brinco com meus dois cãezinhos, eles me fazem companhia e me alegram”, disse.

A dona Maria de Lourdes, de 81 anos, mora sozinha desde que perdeu a irmã, de 75 anos, há cerca de oito meses. Apesar da idade avançada, ela também tinha uma vida social ativa, ia ao mercado, bancos, e não parava quieta. Com a pandemia, ela se viu obrigada a parar com tudo isso e agora depende de uma sobrinha para fazer as compras, pagar suas contas e outras coisas que necessita. “Eu e minha irmã nunca nos casamos, sempre moramos juntas, e eu cuidei dela até partir, assim como cuidei do meu pai e da minha mãe. Agora me sinto um pouco sozinha, mas graças a Deus tenho conseguido controlar minha ansiedade, sempre procuro achar algum servicinho pra fazer dentro de casa, converso de longe com os vizinhos e também com os meus dois gatos, que são a minha melhor companhia nesse isolamento”, comentou.

Escolhas que podem ajudar

Para amenizar esses sentimentos e a dificuldade de encarar o confinamento provocado pela doença, a psicóloga Angelica Soraya Krzyzanovski, que também é especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva e tem mestrado em Psicologia, sugere que o idoso crie uma rotina em casa, evite tantas notícias sobre a doença e procure atividades que lhes dê prazer, como jardinagem, artesanato, crochê. O ato de cuidar de animais de estimação também pode ser uma atividade prazerosa. “Eu tenho percebido entre os pacientes idosos, um aumento no quadro de ansiedade, focada na perda de várias atividades que eles faziam, na perda da autonomia, que é algo muito importante para eles. E vejo os filhos precisam ficar bem atentos a isso, encontrar atividades diferentes para os pais se entreterem, para não deixar o sentimento de incapacidade tomar conta, evitando assim uma depressão ou um quadro de ansiedade muito maior. Uma das coisas que reduz os quadros ansiosos e depressivos é a atividade física, e isso também ficou restrito pra eles por conta da pandemia, por isso, a importância de encontrar atividades que eles possam desenvolver dentro de casa”, explicou.

A psicóloga citou ainda a questão dos idosos que moram com os filhos ou outros parentes, quando estes precisam sair para trabalhar. Os idosos acabam ficando um pouco mais sozinhos, sem o contato social da conversa, e isso também pode gerar um quadro depressivo. “Quando estão em casa sozinhos, os idosos ficam muito mais focados no jornal, e como eles não estão saindo, acabam não tendo a total noção do que está acontecendo na cidade, desconhecem que Araucária está em situação melhor com relação a outros municípios. Eles assistem pela TV o grande número de pessoas morrendo pela Covid 19 todos os dias, e isso pode afetá-los emocionalmente, e vem o medo da contaminação, principalmente entre aqueles que tem filhos saindo para trabalhar, e que voltam para casa todo final de dia”, esclarece.

Outro ponto importante que a profissional aborda em seus atendimentos é o fato de trabalhar com o paciente, o controle dos pensamentos ruins, tentando tirar deles o foco nas mortes, de que com o vírus por aí tudo é muito perigoso, que não se tem controle, fazê-los pensar em coisas que podem ser controladas e o que eles podem fazer para se proteger. “Também é muito importante que os filhos ensinem os idosos a lidarem com a tecnologia, porque quando se sentirem sozinhos, podem fazer uma ligação, talvez enviar mensagem pelo WhatsApp ou uma ligação de vídeo. Mas acima de tudo isso, é importante lembrar sempre que o idoso quer ser acolhido e ouvido”, recomendou a psicóloga.

Texto: Maurenn Bernardo

Foto: Everson Santos

Publicado na edição 1214 – 28/05/2020

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