Mulheres contam experiências vividas após receber o diagnóstico

Foto: Marco Charneski
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Mulheres contam experiências vividas após receber o diagnóstico
Foto: Marco Charneski

 

Não importa o quanto a Medicina tenha avançado nas últimas décadas, receber o diagnóstico do câncer de mama ainda é assustador para muitas mulheres. Mas a verdade é que o diagnóstico de câncer não é mais uma sentença de morte. A descoberta prematura e o tratamento rápido, eficiente e adequado, aumentam cada vez mais as chances de cura. E esta cura depende muito da reação e das atitudes de cada paciente.

É por isso que a realização do “Outubro Rosa” representa hoje uma ferramenta importante de conscientização entre o público feminino, para que a doença seja descoberta logo no início. A campanha destaca a importância do auto-exame, dos check-ups de rotina e, principalmente, da divulgação de informações corretas para derrubar mitos sobre a doença.

O Jornal O Popular selecionou cinco relatos de mulheres em tratamento contra o câncer de mama, que revelam como a doença impactou suas vidas.

A professora Beatriz Skraba, 49 anos, é uma delas e conta que faz exames de rotina todos os anos, sem falhar, principalmente porque em 2016 já ficou sismada com um cisto no seio direito. Em abril deste anos fez novamente os exames de rotina, como mamografia e ecografia. “No momento da ecografia, percebi no médico um semblante de preocupação, e quando ao examinar minha mama esquerda, demorou mais do que o habitual, parecia que queria se certificar do que estava vendo. Inclusive pediu para sua secretaria agendar uma consulta o quanto antes com a minha médica. Ali já fiquei muito assustada, e quando peguei o resultado, o laudo sugeria a biópsia. No comecinho de maio levei os exames e, apesar de o nódulo ter apenas alguns milímetros, era suspeito, então fui encaminhada para o Erasto Gaertner. Consultei com um mastologista, fiz vários outros exames e o diagnóstico, enfim veio. Chorei muito, porque perdi meu pai devido a um câncer. Ajudei a cuidar dele até o final da sua vida. Isso me marcou muito, e ao saber que agora eu teria que enfrentar esta doença, perdi meu chão. Mas passado o susto, estou lidando melhor com a doença, e hoje troco experiências com amigas e pacientes lá do Erasto, e isso tem me ajudado bastante”.

Em julho Beatriz fez a cirurgia para retirada parcial da mama esquerda e esvaziamento das axilas. Depois fez sessões de quimioterapia, nesse meio tempo fez tomografia e cintilografia óssea, que descartaram a hipótese de metástase. Agora deverá iniciar um tratamento de imunoterapia, com uma medicação muito forte. Depois vai enfrentar sessões de radioterapia. “Hoje o que me incomoda é o olhar de algumas pessoas, um olhar de pena, de condenação, mas tudo isso tenho encarado como um aprendizado, porque o câncer me fez perceber o amor das pessoas e o cuidado delas por mim. Percebi que sou importante para muitos. Passei a dar valor a coisas que antes não dava, me tornei uma pessoa melhor. Meus ex-alunos, por exemplo, me enchem de mensagens positivas todos os dias, eles estão sendo muito importantes nessa fase. E hoje afirmo, com toda certeza, que toda essa minha força vem de Deus”.

Rosângela Bergmann, 54 anos, descobriu a doença há cerca de dois anos, desde que veio morar em Araucária. Ela conta que pouco antes de sair de Santa Catarina, fez uma mamografia de rotina e o médico, ao ver o resultado, disse que não era nada. Mas ela não ficou sossegada, e já em Araucária, procurou o médico em um posto de saúde, mostrou o exame, e já saiu de lá com encaminhamento para o Hospital Erasto Gartner.

“Nesse momento já desconfiei que o caso era grave. Fiz uma biópsia, que acusou nódulos nos dois seios, e infelizmente eram malignos. Hoje acredito que foi Deus quem me trouxe pra cá. Em agosto do ano passado fiz cirurgia de retirada dos dois seios e a reconstrução dos mesmos, porém, um deles deu rejeição e tive que retirá-lo novamente em dezembro. Agora estou fazendo quimioterapia via oral e aguardando para reconstruir o seio. E quando vou ao Erasto, acabo ficando mais forte, pois lá vejo mulheres em situação pior que a minha. Não reclamo mais da vida, apenas sigo em frente, um dia de cada vez”, declarou. Para as mulheres que estão recebendo o diagnóstico da doença, ela dá um recado: “Lutem pela vida porque vale a pena. Sigam todas as etapas do tratamento, não desistam, porque isso é muito importante!”

Idalina de Oliveira, 33 anos, a mais jovem entre todas, descobriu um nódulo no seio logo que engravidou, há cerca de três anos. O seio inchou de repente e ela procurou um médico, que teria dito que o inchaço era devido a gravidez. Depois de cerca de um ano e meio, quando desmamou seu bebê, o seio novamente inchou e, desta vez, ficou maior do que na ocasião anterior. Ela relata que ficou desesperada e procurou um médico, que a encaminhou para uma ecografia. Fez o exame particular, porque até hoje o SUS não liberou, e também não fez mamografia porque o SUS não autoriza o procedimento em mulheres abaixo de 35 anos. “Com ajuda dos irmão da igreja, consegui pagar o exame, e quando o médico viu o resultado, já me encaminhou para o Erasto. Lá fiz vários outros exames e na biópsia acusou que era maligno, e de um tipo bem raro. Já estava no terceiro estágio, então fiz quimioterapia, e em agosto desse ano retirei uma das mamas. Agora estou fazendo fisioterapia e vou começar a radioterapia. A reconstrução da mama só poderá ser feita após o tratamento. No começo foi desesperador, mas depois vi mulheres em situação pior, e encarei de frente a doença. No começo é difícil, muito difícil, mas suportável. O que posso afirmar, com toda certeza, é que viver é sempre a melhor escolha, devemos levantar a cabeça e seguir em frente”. Atualmente Idalina é a dona do título de 2ª princesa do concurso Miss EVA (Espaço Vida Araucária).

Para a professora Sônia Avellar, 44 anos, hoje dona do título de rainha do concurso Miss EVA, o diagnóstico do câncer trouxe um impacto ainda maior. Ela sempre foi uma pessoa bem ativa, participava de competições de mountain bike, fazia academia, e pedalava muito, pois isso sempre foi sua grande paixão. O câncer de mama foi descoberto há cerca de um ano. “Em outubro de 2017, quando tomava banho, percebi um nódulo no seio, procurei um médico, fiz vários exames, e em dezembro, recebi o diagnóstico de que era maligno, um carcinoma ductal infiltrante que, quanto maior a idade da paciente, mais rápido ele avança. Comecei logo a quimioterapia, meu seio inchou bastante, fiz sessões mais fortes, e posso dizer que nenhum dia é igual ao outro. Em junho deste ano retirei o seio esquerdo, e na mesma cirurgia fiz uma abdominoplastia, onde parte do que foi retirado, foi usado na reconstrução da mama. A recuperação foi bem difícil, mas em momento algum pensei em desistir. Hoje inclusive, me sinto bem melhor e aos poucos estou retomando as pedaladas”, disse.

Sônia também fez sessões de radioterapia, e como o convênio não liberou a quimioterapia via oral, terá que fazer mais algumas sessões via catéter. O tratamento segue até abril do ano que vem. Diante dessa experiência que está vivendo, a professora dá um conselho para as mulheres.

“Primeiramente conheça seu corpo, se toque, não tenha medo de perceber algo diferente. Se algo for encontrado, existe tratamento, seja pelo SUS ou por convênios. Acredite nas pessoas ao teu redor, tenha muita fé, e nunca se culpe. Ao invés de se perguntar ‘por que eu?’, pergunte ‘por que não eu? Faça o tratamento, confie e obedeça seus médicos, mas primeiramente confie em Deus”, aconselha.

Fabiana da Rosa, 42 anos, já enfrentou um câncer no rim em 2011, fez cirurgia e acompanhou durante cinco anos. Descobriu o câncer de mama em maio deste ano, na véspera do dia das mães. “Foi a pior notícia que eu já recebi na vida. Era um nódulo que eu vinha acompanhando há muito tempo e os médicos dizendo que não era nada, e eu por conta própria, resolvi investigar mais. Então, o médico me examinou e viu na hora que era um câncer.

Descobri me tocando e pelo fato da minha mama ter uma secreção, que era clara e se tornou escura. E aquilo foi me preocupando, porque o nódulo não diminuía, só aumentava. Estou indo para o 2° ciclo de quimioterapia, depois terei que fazer a cirurgia e, provavelmente, a radioterapia. Muitas pessoas perguntam se já questionei Deus, e respondo que em nenhum momento fiz isso, porque Deus está me dando uma segunda chance de vida. Eu estava em uma fase ruim, me recolhi, não estava vivendo para mim, e Deus chegou e mostrou essa doença, e falou ‘levanta e vai, que a sua cura esta aí, nas suas mãos’. Agradeço todos os dias por estar passando por isso, porque doente eu não estou, estou em tratamento”.

Apoio às famílias

Adri Ribeiro, presidente da ONG Espaço Vida Araucária (EVA), que assiste as pacientes em tratamento contra o câncer e suas famílias, disse que sabe bem o que o diagnóstico de câncer representa na vida de uma mulher. Ela perdeu a mãe em função da doença e, desde então, decidiu fundar a ONG para ajudar pessoas na mesma condição. “Me sinto grata a Deus por ter sido escolhida para ajudar estas mulheres, e nossa luta na busca de um espaço para poder recebê-las e permitir a troca de experiências continua, pois o apoio entre elas ajuda muito no tratamento”, comentou.

Médica oncologista explica sobre o tratamento da doença

“Nenhuma mulher está blindada contra o câncer de mama”. A declaração é da médica oncologista Marcela Bonalumi dos Santos, que atua em várias clinicas e hospitais de Curitiba, e atende pacientes de Araucária. Segundo ela, existem fatores de risco que não há como se modificar, e o maior fator de risco ocorre apenas por ser mulher e envelhecer a cada dia. “No Brasil, cerca de 60 mil mulheres serão diagnosticadas com câncer de mama apenas no ano de 2018. Ou seja, uma a cada oito mulheres será diagnosticada. Por isso, a importância desse mês de outubro quanto a conscientização do câncer de mama, porque a informação e o diagnóstico precoce são fundamentais para aumentar as chances de cura”, explicou.

O auto exame, na opinião da médica, é importante principalmente por ser um ato que permite a mulher conhecer o próprio corpo, por meio dele é possível identificar alterações já perceptíveis pelo tato na mama. No entanto, quando estas alterações já estão presentes, podemos afirmar que se trata de alterações mais avançadas. “As chances de cura são diretamente relacionadas ao quão precoce está a doença no momento do diagnóstico, por esse motivo, a mamografia é indispensável, ela permite identificar alterações patológicas mais iniciais que o auto exame. Quando diagnosticado precocemente, as chances de cura são próximas a 98 %. A Sociedade Brasileira de Mastologia e Cirurgia Oncológica preconiza a mamografia anual acima dos 40 anos, como exame de rastreamento. A ecografia pode ser utilizada como exame complementar”, esclarece.

De acordo com a doutora Marcela, existem vários tipos de câncer de mama. O subtipo mais comum é o câncer de mama ductal invasivo com receptores hormonais presentes, mais comum em mulheres acima dos 50 anos. O tratamento deve ser individualizado, de acordo com as particularidades de cada paciente e sempre deve ser tratado em ambiente multidisciplinar, onde a presença do mastologista/cirurgião oncológico, oncologista clinico e radioterapeuta são indispensáveis. “Para esse tratamento ser individualizado e adequado, é necessário levar em conta diversas informações, entre elas a idade da paciente, status menopausal, subtipo do câncer, o quão avançado ele se encontra e quais são as chances dele voltar. As opções de tratamento são a quimioterapia, cirurgia, radioterapia, hormonioterapia, anticorpos monoclonais e mais atualmente a imunoterapia”.

A médica ressaltou ainda que cada paciente responde de uma maneira ao tratamento, no geral, hoje em dia, existem recursos para amenizar muito os efeitos colaterais. Algumas pacientes toleram melhor, outras não. Por isso, a importância do acompanhamento médico adequado para ajustar o tratamento e toxicidade, de acordo com cada uma. “Em casos mais avançados a expectativa de cura diminui, porém, hoje temos uma gama de tratamentos para pacientes já metastáticas, com pouca toxicidade e altas expectativas de vida, elas podem viver bem e com a doença controlada”, esclarece.

 

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Publicado na edição 1135 – 18/10/18

 

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