O brasileiro cordial: mito ou realidade?

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Aceita por muitos e ao longo de anos, a figura do povo alegre, hospitaleiro e pouco afeito a brigas, vem recebendo críticas de estudiosos que se dedicam ao estudo da nossa personalidade individual e coletiva. Mesmo admitindo nossa índole pacífica, muito mais presente entre os que se consideram semelhantes, a concepção do brasileiro como povo cordial começa a ser deixada de lado. Estudiosos apontam que a polarização das últimas eleições presidenciais trouxe à tona reações verdadeiramente incompatíveis com a noção de cordialidade, por mínima que seja. É que no afã de vencer a disputa pelo poder, as correntes políticas opostas atraíram para junto de si o que há de pior no plano das ideias, visando demonizar o adversário. Talvez por imaturidade política, boa parte dos brasileiros se deixou envolver pelo calor da disputa e não mais ouvia os argumentos opostos a sua crença. O resultado é que houve significativa queda no nível dos debates e as acusações e injúrias mútuas chegaram a tal nível que, cegada pela raiva ao oponente, boa parte dos brasileiros só conseguia ver a existência de duas correntes políticas: petralhas e coxinhas. A ameaça de crise econômica, somada aos escândalos de corrupção em todos os níveis e setores estampados nos meios de comunicação, tiveram o condão de acalmar um pouco os ânimos e mostrar aos mais exaltados a dura realidade da política. Ela não é polarizada na disputa do bem contra o mal e há sempre muito mais detalhes a considerar. Inegavelmente, as ideias e os candidatos que defendemos estão sujeitos a erros como todos os demais. Não sei se o aprendizado é assim tão profundo, mas as manifestações na grande mídia e nas denominadas redes sociais parecem que tiveram a fúria e a parcialidade dos juízos e registros emitidos diminuídas. Para descartar de vez o mito da cordialidade, basta olhar para os dados divulgados pelo IBGE(1980-2000) que colocam o Brasil como palco de cerca de 10 % das mortes por causas externas (suicídio e homicídio) no planeta, aproximadamente 50.000 por ano e um total de 2 milhões de vidas ceifadas sem enfrentarmos guerra declarada. Considerando que dez mulheres são assassinadas por ano e que o autor quase sempre é pessoa de seu relacionamento, penso que é difícil dizer que somos cordiais, simpáticos e etc… Nunca é tarde para avaliarmos nosso comportamento e tentarmos aperfeiçoá-lo. Afinal, o que recebemos é reflexo das ideias que defendemos e das atitudes que tomamos.

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