O que me dá o direito de opinar?!

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Meu pai é nordestino, do Piauí, e veio pra Araucária trabalhar na Petrobras. Conheceu minha mãe, de uma família que sempre trabalhou para as famílias tradicionais do munícipio. Quando menina morou com a Dona Tuta e Seu Sebastião Pilatto, mais tarde trabalhou para Cieli Franceschi. Logo depois que eu nasci conseguiram uma casa da COHAB e fomos morar no Conjunto Manoel Bandeira. Isso é só para mostrar um pouco a forma real como Araucária foi sendo construída e que infelizmente parece ainda não estar nos livros, fazendo com que a gente pense que não pertence, que essa cidade não é nossa.

Estudei no Archelau, no David Carneiro, no Werka. Participei de quase todas as atividades oferecidas por políticas públicas da Prefeitura. Vôlei, aeróbica, capoeira, desenho, frequentei o Clube de Ciências. Descobri o Teatro da Praça. Dei aula de teatro para metade da cidade. Califórnia, Thomaz Coelho, Tupy, Costeira, Maranhão, Centro. Engravidei. Meu filho nasceu no Hospital São Vicente de Paulo. Passei num concurso público. Fui maltratada por algumas administrações. Tive que recorrer à justiça para voltar a ter direito de entrar nas salas e acessar computadores no órgão público para o qual prestei concurso. Trabalho há 19 anos na prefeitura de Araucária, há 15 como empregada pública concursada.

Li outro dia um comentário que dizia algo mais ou menos assim: “Está insatisfeito? Candidate-se, ganhe a eleição e administre a cidade como quiser”. Não era para mim, mas me deixou alerta, pois há um grande equívoco nessa afirmação. Ninguém tem o direito de administrar a cidade que eu ajudei e ajudo a construir do jeito que quiser. Ganhar uma eleição não significa ganhar uma cidade. Significa ganhar a responsabilidade de administrar o que é nosso.

Não tenho nada contra o atual prefeito, torço muito para que consiga fazer uma boa administração. Tenho me dedicado como funcionária pública para fazer o melhor, mas tenho refletido também sobre os caminhos adotados. Estamos em plena luta contra a corrupção e talvez essa seja realmente a nossa única salvação. Mas até agora, nas medidas tomadas, só vi trabalhadores sendo sacrificados e empresários saindo ilesos. Tudo que leio sobre gestão pública diz que não devemos usar a mesma métrica do mundo privado. Gerir uma cidade não consiste apenas em gerir dinheiro. Trata-se de algo muito maior. Administra-se dinheiro público e em situações difíceis é necessário consultar as pessoas previamente sobre o que fazer, para isso existem os Conselhos e a possibilidade de consultas públicas. Além de se administrar verbas públicas, que já estão condicionadas à legislação vigente, administra-se pessoas que atendem pessoas. Pessoas que estão há anos em seus setores, com alguns vícios sim, mas também com muito conhecimento. Um administrador público precisa exercitar constantemente a escuta. O servidor é o serviço público. Do guarda municipal ao médico. Do fiscal ao instrutor de teatro. Os professores.

Ouvi falar de cargos escolhidos pelo prefeito questionando a remuneração de funcionários de carreira, sem questionar a própria remuneração. Um funcionário público tem aumentos em seu salário por tempo de serviço e por qualificação profissional na área em que atua. O que dizer de quem chegou agora, sem qualificação nenhuma, já sentando na janela?! Precisamos olhar os próprios rabos.

E nós, enquanto cidadãos, precisamos nos empoderar das instâncias de participação. Precisamos dizer para o prefeito o que queremos para nossa cidade. Temos sim que ter respeito pelo administrador, gestor, que elegemos, assim como por qualquer cidadão. Sinto que algumas pessoas, alguns funcionários, gente da própria equipe do prefeito, têm um certo medo dele. Pois não devemos ter. Nasci aqui, dediquei minha vida para essa cidade, crio meu filho aqui e aqui pago meus impostos. Isso me dá o direito de opinar. E aposto que se você revisitar sua história em Araucária, também terá certeza do seu direito de opinar e participar das decisões, mesmo não tendo sido eleito para nada, pois você é a força motriz que faz essa cidade continuar existindo.

Quem eu penso que sou?!

Sou Ana Paula Frazão, cidadã araucariense, que você respeita.

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