O sírio com alma de brasileiro mais elegante da praça

Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
O sírio com alma de brasileiro mais elegante da praça

EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO – 130 ANOS

Badeeh Shahound Tanous tem 92 anos e veio para o Brasil ainda jovem, pois não queria continuar servindo ao exército, e na região onde morava na Síria, o povo estava passando fome.

Seu pai lhe deu dois anéis de ouro, para que começasse a sua vida em outro país. “Na verdade, eu queria ir para a Venezuela, pois naquela época achava que era um país melhor que o Brasil, mas a passagem de navio a vapor era muito cara”, conta Badeeh. Ele decidiu comprar uma passagem para o Brasil mesmo, e ao chegar no porto de Santos seguiu para Curitiba.

Badeeh foi recebido por um familiar que morava no centro de Curitiba e tinha loja de roupas. “Esse meu primo era casado com uma mulher do interior de Guajuvira, foi assim que mais tarde eu soube de Araucária”. O primo lhe hospedou em uma pensão, deu-lhe uma maleta e explicou que no dia seguinte, ele deveria começar a vender roupas como mascate de porta em porta. “Mas como eu vou vender roupas, se eu não sei falar português?”, questionou Badeeh – o primo garantiu que rapidinho ele iria se entender com os brasileiros.

“Na primeira semana eu não vendi nada, e da rua vi uma mulher na sacada de um casario, tentei vender alguma, e ela me respondeu mal-humorada: vá para o inferno seu turco”. Badeeh não sabia o que aquilo significava e ao voltar comentou com a cunhada e ela explicou que aquilo era um xingamento, o primeiro de muitos que ele já levou.

O mascate ficou 40 dias em Curitiba e depois foi para Santa Catarina, onde trabalhou em várias cidades. Anos depois, na cidade de Timbó ele conheceu a família da sua futura esposa, que o hospedava sempre que ele ia para a cidade.

Mais tarde, eles casaram e tiveram dois filhos. Antes de se estabelecerem em Araucária, a família morou em Itajaí e Curitiba. Foi quando a cunhada, sugeriu que eles fossem para Araucária, pois com a chegada da Petrobrás, a cidade iria prosperar.

Era o ano de 1977 e o comerciante montou sua primeira loja de roupas na cidade, a JS Confecção em homenagem aos dois filhos, num imóvel alugado na subida da praça. Depois, mudou para um outro prédio próximo e ficou por 12 anos no imóvel alugado.

Foi um período muito bom economicamente, como havia poucas lojas de roupa na cidade, Badeeh conseguiu juntar dinheiro e comprou o imóvel, de esquina onde até hoje mora a família, em frente à banca da sua grande amiga Aracy, na praça da igreja matriz.

“O imóvel custava $75 milhões de cruzeiros, eu paguei metade e o restante parcelei”, explica. Além de pagar as parcelas, Badeeh começou a construir um sobrado. Mas logo a crise chegou, e ele teve que vender a loja, para pagar a dívida e terminar a obra. Com a conclusão do imóvel, um dos mais bonitos da região, resolveu abrir um restaurante de comida caseira, que ficou conhecido como Bar do Badeeh.

“Durante 28 anos eu trabalhei com o restaurante, mantinha sete funcionários e atendia diariamente com prato comercial”, conta orgulhoso. Há dois anos, convencidos pelos filhos, ele fechou o restaurante e passou alugar as salas, e hoje vive confortavelmente com a renda.Badeeh foi um dos primeiros imigrantes daquela conturbada região a vir para Araucária, e depois vieram outros parentes. Ele lembra que achava a cidade linda e que estava muito feliz em ter decidido morar aqui. “Eu não troco Araucária, o Brasil por nenhum outro lugar do mundo, aqui eu fiz muito muitos amigos e criei meus filhos”.

Sempre elegante, de calça social e terno, o sírio mais brasileiro de todos, passa os seus dias caminhando na praça que tanto ama, conversa com um conversa com outro e assim vê os seus dias passarem com tranquilidade. “As pessoas vem falar comigo, é rico, é pobre, velho ou jovem, eles dizem: Oh seu Badeeh, eu paro converso, mas nem empre lembram quem são”, conta entre risos.

Texto: Rosana Claudia Alberti

Foto: Marco Charneski

Compartilhar
PUBLICIDADE