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O valor pago é justo?

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A discussão quanto a remunerar ou não os políticos é algo há muito debatido pela sociedade. Há algum tempo, o jornalista Paulo Nogueira, no site Diário do Centro Mundo, fez uma análise interessante sobre o tema.

Nogueira lembra que, no século 17, assim que o rei absolutista Carlos I foi executado e, por conta disso, o parlamento inglês começou a ter maior relevância, a discussão sobre o tema de remunerar ou não os políticos entrou em pauta. O país acabou optando por remunerá-los, isso há mais de cem anos. A lógica usada pelos ingleses foi a de que era uma forma de tornar o parlamento acessível às classes menos privilegiadas.

Paulo segue lembrando que o filósofo liberal John Stuart Mill, na segunda metade do século seguinte condenou a remuneração. Segundo ele, a política se tornaria uma profissão como as outras, onde o olhar recai “principalmente sobre as questões pecuniárias”. Um político da época de Mill afirmou o receio de que o salário destruiria o ideal do “serviço público gratuito”. O condutor do processo foi o primeiro ministro liberal David lloyd George que dizia: “Não é uma remuneração, não é uma recompensa, não é nem mesmo um salário”, afirmou ele. “É apenas uma ajuda de custo”.

Compensou, vistas as coisas 100 anos depois? O historiador Dominic Sandbrook discutiu isso num artigo na revista History, da BBC. A resposta dele é não. Remunerar os políticos, diz ele, se revelou um “fracasso profundo”.

Conforme bem citou o historiador, a política continuou basicamente a ser exercida por uma casta privilegiada, oriunda das melhores faculdades e de redutos da elite do país. Mesmo lá naquele desenvolvido país, os ingleses ainda se recompõem do “Escândalo das Despesas”. Uma investigação sobre os gastos dos parlamentares revelou coisas bizarras. Um deles se ressarciu da construção de uma casa para patos. Outro da afinação de um piano. Um chegou a receber de volta o dinheiro que dera de ajuda numa missa. Para não falar de outra política que inadvertidamente colocou na conta do contribuinte o dinheiro que o marido gastara com o aluguel de fitas pornográficas. Comparados a nossos políticos brasileiros, ainda mais em tempo de Petrolão, isso é como uma criança roubar o doce da outra na hora do recreio.

E Paulo questiona ainda em sua análise: e no Brasil, como seria esta discussão? Ao contrário do caso inglês, os salários abriram a política a pessoas sem fortuna. Lula é um exemplo. O próprio Fernando Henrique, professor, é outro.

Fracasso na Inglaterra, sucesso no Brasil. O problema é que por aqui ocorreu exatamente o que temia o filósofo Mill. Nossos políticos parecem estar muito mais interessados no quanto vão ganhar, na quantidade de assessores que poderão nomear, do que no trabalho que poderão realizar, motivo para o qual deveriam ter se candidatado.

Por isso que toda vez que alguém quer discutir aumento de vencimentos dos políticos, como o mostrado na reportagem da página quatro desta edição, o questionamento sobre se é o valor justo ou não vem à tona. Pense nisso e boa leitura.