Vi nos últimos dias dezenas de moradores de Araucária colocando nossa cidade alguns degraus abaixo de São José dos Pinhais. As manifestações vieram em resposta a uma capa de O Popular que relatava o fato de termos recuperado a segunda posição no ranking do ICMS paranaense. A vice-liderança sempre fora nossa até 2013 quando a perdemos para SJP, eterno terceiro colocado. A partir do ano que vem, no entanto, as posições voltam a se inverter.
O modo como nossos moradores pintaram Araucária, admito, me surpreendeu um pouco. Interessante também foi ver como essas pessoas terceirizavam a responsabilidade por nossa cidade, na opinião deles, ser pior do que São José dos Pinhais. Poucos assumiram, mesmo que minimamente, um pouco da culpa por estarmos atrás de nossos vizinhos de RMC.
Como de praxe, a maioria das pessoas botou a culpa em nossos políticos, em nossos comerciantes e assim por diante. Fui então dar uma pesquisada no perfil dos agentes públicos de São José dos Pinhais, vai que lá a cidade está sendo gestada por verdadeiros santos, incapazes de deslizes éticos e assim por diante. Qual não foi minha surpresa ao constatar que os espécimes políticos de lá não são em nada diferentes dos que temos aqui. Talvez até piores. Para se ter uma ideia, o atual prefeito de SJP carrega nas costas até condenação por improbidade administrativa. Ora, em Araucária, isso não acontece. Albanor Zezé, que administrou a cidade por muitos anos, nunca teve uma condenação desse tipo. Olizandro, que é o atual prefeito, também não. Do mesmo modo, nenhum dos nossos onze vereadores sequer é processado por crimes contra o erário. Pelo menos em tese, nossos homens públicos são melhores do que os de São José.
Diante da constatação de que São José não é administrada por políticos holandeses, mundialmente conhecidos por sua retidão, me pus a pensar porque cargas d’agua tem morador de Araucária que acha aquela cidade melhor do que a nossa. Formei várias teorias, mas a que me pareceu mais próxima do real talvez seja o perfil do morador de cada cidade. O desenvolvimento da economia de São José é bem mais recente do que o de Araucária. As grandes montadoras de automóveis só foram para lá na década de 1990. Ou seja, depois da redemocratização, depois da queda de um presidente, depois do início do plano Real. Enfim, numa época em que a população em geral já estava mais esperta. Já em Araucária, nossa mina de ouro é da década de 1970. Embora o boom na receita só tenha se dado na década de 1990, a população nem ficou sabendo direito que isto estava acontecendo e não exigiu que o dinheiro que estava entrando fosse aplicado nos setores corretos.
Também ajuda a explicar o desenvolvimento do comércio de São José a quantidade de postos de trabalho gerada por essas montadoras. Foram milhares de vagas que ficaram para os moradores da cidade. Isso fez com que, além do dinheiro dos impostos para o Município, as empresas também gerassem renda para quem reside lá, o que obrigou o comércio a se mexer para atender essa demanda. Em Araucária, de novo, o dinheiro gerado pela Repar não veio acompanhado de postos de trabalho e as poucas vagas geradas e seus altos salários ainda não ficaram com moradores daqui e sim de Curitiba. Prova disso é que não conhecemos muita gente por aí que trabalha na refinaria e mora aqui. Acabamos ficando apenas com os subempregos da Petrobras, os terceirizados e assim por diante. Isso sem contar que, por décadas, fomos apenas uma cidade dormitório de Curitiba, trabalhávamos o dia inteiro lá e à noite vínhamos dormir em Araucária. Isso prejudica o desenvolvimento de qualquer cidade. Essa realidade só começou a se inverter há pouco tempo e mesmo assim isso acontece de maneira lenta. E a prova de que essa mudança começou é que já somos capazes de fazer comparações e de reclamar daquilo que não consideramos bom. O próximo passo será termos a atitude de brigarmos mais por nossa cidade, participarmos de seu dia a dia, ficarmos de olho no que andam aprontando nossos gestores e exigir deles mais comprometimento para com o desenvolvimento de Araucária.
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