Pra garantir altos vencimentos a assessores, vereadores tramam dobrar os próprios salários pra R$ 12 mil

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Proposta ainda estaria sendo debatida por comissão especial nomeada pela Presidência da Casa
Proposta ainda estaria sendo debatida por comissão especial nomeada pela
Presidência da Casa

Um dos absurdos que sempre despertou muitos questionamentos naqueles que acompanham o dia a dia da Câmara é o fato de os vereadores de Araucária ganhar pouco mais de R$ 5 mil por mês e seus assessores receberem praticamente R$ 8 mil.

O alto salário dos assessores, aliás, foi um dos pontos questionados pelo Ministério Público da cidade em recente recomendação encaminhada ao presidente da Casa de Leis, Wilson Roberto David Mota (PSD). Em razão dessa manifestação do MP, aliás, a Câmara discute agora uma reestruturação administrativa em seu quadro de cargos em comissão e, segundo apurou nossa reportagem, um dos pontos que têm feito os edis baterem cabeça é justamente como justificar os vencimentos dos assessores.

A opção mais aceitável para o caso seria simplesmente que os vereadores estipulassem que os vencimentos dos assessores fossem inferiores aos seus próprios, na casa dos R$ 3 ou R$ 4 mil mensais, o que – convenhamos – é um bom salário. Isto, porém, não é o que alguns parlamentares da Casa estariam defendendo.

Para resolver o “problema”, esta turma estaria é tramando aumentar o valor dos próprios salários para o teto permitido pela legislação brasileira, ou seja, 50% do que ganha um deputado estadual, o que corresponderia a R$ 12.661,12. Resumindo: há vereadores que defendem que seus salários sejam reajustados em mais de 120% a partir de 2017. Isto em tempos que o número de desempregados no Brasil ultrapassa a casa dos 10 milhões de cidadãos e o país se encontra em recessão.

Para esse grupo do “aumentão”, caso a manobra do reajuste dos próprios salários se efetive, os vereadores conseguiriam justificar que seus assessores continuassem ganhando praticamente R$ 9 mil mensais, já que o valor passaria a ser menor do que os dos edis.

Embora a possibilidade de reajustar os próprios subsídios esteja mesmo sendo discutida pela Casa, oficialmente o projeto ainda não foi protocolado. Nossa repor­tagem conversou com vários integrantes do parlamento a respeito do assunto e todos confirmaram que existe mesmo esta intenção. Eles, no entanto, não admitem que essa seria uma estratégia para dar legitimidade ao valor dos vencimentos de seus assessores e sim apenas garantir um salário justo aos vereadores.

Betão diz que decisão sobre aumento será proposta por comissão

Betão garante que é contra o aumento, mas que decisão  caberá à comissão
Betão garante que é contra o aumento, mas que decisão caberá à comissão

Questionado por nossa repor­tagem acerca das notícias de que os vereadores estariam na iminência de propor um aumento em seus próprios salários, o presidente da Casa, Wilson Roberto David Mota (PSD), explica que existe hoje na Câmara uma comissão especial encarregada de discutir uma reforma administrativa. O grupo é composto de quatro vereadores: Paulo Horácio (PMDB), Vanderlei Cabeleireiro (DEM), Francisco Carlos Cabrini (PP) e Josué Kersten (PDT). Conforme Beto, é das mãos destes edis que deve sair ou não uma proposta de aumento dos salários. “Esta comissão irá elaborar uma proposta de reforma administrativa, que inclui também o novo quadro de cargos em comissão, entre outras coisas. O projeto que eles me apresentarem será levado aos demais vereadores”, explica.

Ainda conforme Beto, não será ele quem irá propor o aumento no salário dos vereadores. O presidente também destacou que seu salário atualmente nem é pago pela Câmara e sim pela Prefeitura, já que é servidor público concursado. “Um eventual aumento no salário dos vereadores não me beneficia e, por enquanto, não há qualquer proposta neste sentido. O que existe são conversas, até porque é preciso reconhecer que o subsídio hoje dos vereadores é muito baixo. Eles estão há oito anos sem reajuste. Então, a gente não pode ser hipócrita de achar que o vereador ganha bem”, opinou.

Beto disse ainda que não existe qualquer relação entre o corte dos cargos em comissão da Câmara e uma eventual proposta de reajuste no salário dos vereadores. “Tem gente dizendo que isso seria uma forma de compensar os cargos perdidos, mas uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Com outras palavras, o presidente disse ainda que atualmente os vereadores estão sendo vítimas de uma espécie de bullying. “Parece que existem algumas pessoas que querem que ganhemos menos do que seus próprios assessores somente para fazer chacota do vereador”, ponderou.

O presidente também afirmou que hoje a imprensa pega demais no pé dos vereadores. “Porque vocês não dizem que o prefeito ganha R$ 18 mil por mês, que o Rui ganha R$ 15 mil, que um secretário e um diretor de companhia ganha R$ 13 mil. Agora, é justo que um vereador ganhe um terço do que ganha, por exemplo, o Caetano (Saliba Oliveira, presidente da COHAB)?”, desabafou.

Por fim, Beto disse que a imprensa e a população têm é que elogiar a coragem que os vereadores estão tendo de fazer uma reforma administrativa que, no final das contas, vai possibilitar que a Câmara economize R$ 15 milhões por legislatura. Embora não tenha dito especificamente como se daria essa economia, O Popular apurou que ela viria do corte de 29 cargos em comissão, a substituição dos seguranças da Casa, que hoje são terceirizados, por pessoal efetivo e também uma reforma administrativa no quadro de funcionários concursados, que resultaria no corte de gratificações e diminuição de comissões, que hoje são dadas sem muito critério.

Texto: Waldiclei Barboza / FOTO: EVERSON SANTOS / Marco Charneski

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