Seca na barragem revelou a história dos colonos que viveram no local

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Seca na barragem revelou a história dos colonos que viveram no local

Com a estiagem que castigou o Estado nas últimas semanas e com a baixa vazão na represa do Passaúna, em Araucária, alguns objetos antigos ficaram à mostra e revelaram um pouco da história que ficou submersa. A secura do lago relembrou aos moradores da região que uma vila existiu no local antes da construção da represa. A Colônia Tomás Coelho, que foi fundada em 1876, e estava incorporada ao município de São José dos Pinhais. Em 1890, com a criação do município de Araucária, Tomás Coelho foi incorporada a este. Na vila vieram morar inicialmente, 270 famílias, dentro de um plano do então governo do Paraná de atrair novas populações para a região de Curitiba, através da imigração europeia, para trabalhar na lavoura de subsistência, já que não havia mão de obra suficiente por aqui. A ideia era fixar os colonos em pequenas propriedades, das quais eram proprietários, nas proximidades das estradas já existentes, para facilitar o escoamento e comercialização da produção agrícola.

Entre os anos de 1982 e 1985 foi construída a barragem do Passaúna, na então Vila Tomás Coelho. Na ocasião, cerca de 20 famílias ainda moravam na área, entre elas a Família Jaramiski. A neta dos imigrantes Simão e Eva Jaramiski, Marli Bernieri, relembra que foi uma época difícil. “Minha família sempre morou lá, onde hoje é a represa, os meus avós vieram da Ucrânia por volta de 1926 e meu pai nasceu aqui, em 1929. Então o terreno, de aproximadamente 8 alqueires, já pertencia à nossa família, que sempre viveu da agricultura. Tudo que eles plantavam era vendido, os produtos eram levados de carroça para o centro de Curitiba e para o bairro Portão”, recorda.

Seca na barragem revelou a história dos colonos que viveram no local
O casal Miguel e Maria Jaramisk morou na Colônia Tomás Coelho até a construção da represa

Com relação à chegada da represa, Marli lembra que levou em torno de 10 anos para ficar pronta, desde o momento em que procuraram as famílias para negociar os terrenos. Ela diz que sua família saiu de lá, para morar em um terreno próximo, numa área mais alta, onde seu pai faleceu um ano e oito meses depois. “Na época, eles indenizaram nossa família, assim como todas as demais famílias daquela área, algumas não aceitaram os valores propostos e entraram na justiça, mas até hoje não receberam. Meu pai recebeu uma quantia, porém, eles falaram que iriam fazer a mudança de todas as residências das pessoas, e que iriam construir poços artesianos, mas isso não aconteceu, foi tudo por conta dos próprios moradores. O dinheiro que meu pai recebeu, em função da economia da época, desvalorizou em poucas semanas. Então a gente pode dizer que praticamente doou o terreno para o governo. O lado bom é que até hoje moramos no terreno, que fica na parte mais alta, e dos 8 alqueires lá do início, agora temos 22 mil metros, divididos em quatro filhos do casal Miguel Jaramiski e Maria Jaramiski”, recorda.

Quando conta a história da sua família para outras pessoas, que hoje apreciam a beleza da Represa do Passaúna e do que aquela área se tornou, Marli não faz questão de frisar que ali, debaixo da água, existem muitas histórias tristes. “Foram anos e anos de muito trabalho, muito suor, que ficaram simplesmente submersos no imenso lago da represa, e que a grande maioria da população não tem noção do sofrimento vivido pelos colonos da região”, lamenta.

Texto: Maurenn Bernardo

Foto: Marco Charneski

Publicado na edição 1216 – 11/06/2020

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