Sem motivos para comemorar

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O 28 de outubro é Dia do Funcionário Público. Por acaso, foi ontem. Eis aí uma profissão muito cobiçada no Brasil de hoje. Prova disso são as milhares de pessoas que tão logo um edital de concurso público é publicado, se matam de estudar na tentativa de conseguir uma vaga numa repartição, seja ela municipal, estadual ou federal. Essa busca louca pelo emprego público, principalmente por conta da estabilidade que ele oferece, no entanto, tem feito com que muitas pessoas esqueçam a razão maior da existência dessa categoria: servir a população. E isso é preocupante.

O funcionário público não é um trabalhador qualquer, logo suas responsabilidades são muito maiores do que a de um funcionário da iniciativa privada. Enquanto servidor público desde os meus vinte anos, posso dizer, de cátedra, que temos direitos demais e muitos de nós não o fazemos por merecer. Temos estabilidade, salários acima da média do trabalhador comum, progressões salarias a cada período de tempo, licenças prêmios de noventa dias a cada cinco anos trabalhados, emendamos feriados a torto e a direito, trabalhamos, no máximo, quarenta horas semanais enquanto na iniciativa privada essa jornada é, em muitos casos, de 44 horas. E apesar de todas essas vantagens, muitos de nós estão sempre reclamando.

É justamente por isso que, neste ano, decidi não celebrar o Dia do Funcionário Público. Estou, confesso, meio envergonhado da classe. E olha que, particulamente, não deveria, pois não me encaixo na fatia dos que sempre acham uma justificativa para reclamar. Mesmo assim, sinto a tal da vergonha alheia…sabem? Afinal, convenhamos, não dá vergonha de pertencer a uma classe que tem uma companheira que passou quase um ano licenciada de maneira ilegal e que ainda tem a cara de pau de admitir que sabia disso, mas que não correu atrás para regularizar a situação porque não seria vantajoso para ela? Do mesmo modo, não dá vergonha de saber que outro servidor, por mais que ele seja servidor público temporário, ao invés de trabalhar ficava a perambular em outras cidades para resolver interesses particulares? Ato contínuo, não é de rachar a cara em ouvir um funcionário público admitir que recebia horas extras sem fazê-las, mas que nunca considerou isso anormal porque essa era uma maneira de compensá-lo? Por fim, não dá vontade de se jogar de uma ponte ao vermos muitos servidores comemorarem porque fizeram uma greve? Exatamente, comemorarem um movimento que por mais de uma semana interrompeu justamente a razão da existência do serviço público, que é atender a população.

Por tudo isso, e muito mais que acontece em muitas repartições públicas por aí, que esse ano não comemorei o Dia do Funcionário Público. Ou melhor, vou celebrá-lo juntamente com outro feriado: o de Finados. Porque é isso que alguns de nós está fazendo com essa carreira: matando-a e reforçando cada vez mais o discurso daqueles que pregam a terceirização daquilo que fazemo hoje.

Comentários são bem vindos. Até semana que vem!

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