Médicos e especialistas em trânsito analisam os recentes acidentes ocorridos em Araucária

Os acidentes ocorridos recentemente em Araucária levantaram à importância da educação no trânsito. Foto: Marco Charneski
Facebook
LinkedIn
WhatsApp
Telegram
Email
Médicos e especialistas em trânsito analisam os recentes acidentes ocorridos em Araucária
Os acidentes ocorridos recentemente em Araucária levantaram à importância da educação no trânsito. Foto: Marco Charneski

De 1º de janeiro a 9 de março deste ano, Araucária já registrou 7 mortes em acidentes de trânsito, conforme estatísticas do Corpo de Bombeiros. No mesmo período do ano passado, foram apenas 3 óbitos. Somente no mês de janeiro deste ano, foram registrados 46 acidentes, entre colisões, atropelamentos, capotamentos, choque com anteparos e queda de veículos, com 4 óbitos. Em fevereiro, foram 49 acidentes com 2 óbitos, (dos irmãos Carlos e Moacir Rybinski), e em março, até o dia 9, foram 9 acidentes e um óbito, praticamente um acidente por dia. O que agrava ainda mais este cenário é que quando se trata de trânsito, geralmente a imprudência aparece em cerca de 90% das motivações. As vias onde foram registrados os recentes sinistros com óbitos, contam com sinalização adequada, o que reforça a tese de que os motoristas desrespeitaram as leis de trânsito e em algumas situações, estavam dirigindo sob efeito de álcool.

Homens lideram o ranking

Ainda conforme as estatísticas dos bombeiros, os homens continuam liderando o ranking das vítimas de trânsito. Em janeiro foram 33 vítimas masculinas, contra 14 do sexo feminino, e duas crianças. Em fevereiro, a diferença foi ainda maior, com 46 vítimas homens e 8 mulheres, e duas crianças. Em março, até a presente data, foram 4 vítimas do sexo masculino e 3 do sexo feminino, e uma criança. Importante ressaltar que se somarmos o número de vítimas não vai bater com o total de acidentes no mês, pois tem situações em que há mais de uma pessoa no veículo.
Os pedestres seguem sendo muito impactados nos acidentes de trânsito. Em janeiro foram registrados em Araucária cinco atropelamentos, em fevereiro foram seis e em março (até agora), uma pessoa foi atropelada.

Para o mestre em Educação e Novas Tecnologias, Valdilson Aparecido Lopes, que dedicou grande parte de sua vida ao estudo da mobilidade urbana e, principalmente, da gestão do trânsito brasileiro, a mesma sensação de euforia que temos ao assistir a uma corrida de veículos pode ter o efeito inverso, em caso de acidente de trânsito. De acordo com ele, o condutor, na condição de infrator, ao assumir o risco e colocar-se na frente do volante, subestima as dificuldades, ignora os perigos, perde noção da velocidade, percebe tarde demais os riscos e principalmente a distância de seguimento e frenagem.

“As consequências são ainda mais agravantes quando o indivíduo faz o uso de álcool e drogas, alterando o seu estado psicomotor, perdendo o campo de visão, reação e percepção. Para que se ocorra um acidente, devemos levar em consideração os possíveis fatores: negligência por parte do órgão com jurisdição sobre a via que deixou de garantir a segurança aos seus usuários, imprudência do usuário em não cumprir com o seu dever de cidadão cometendo atitudes inaceitáveis como beber e dirigir, transitar com excesso de velocidade, não guardar distância do veículo que vai à frente, combinação de direção e celular, não utilização da sinalização que indicam as intenções de manobras, entre outras. Consideramos também, a imperícia diante das situações adversas encontradas na direção. Nesses conceitos, lamentavelmente o trânsito é um dos principais fatores de morte não natural no Brasil”, aponta.

O especialista faz um comparativo para entender melhor a situação do trânsito no país. “Se um avião de pequeno porte cai e dois tripulantes entram em óbito, é uma tragédia, se ocorrer um acidente com dois veículos em trânsito e morrem duas pessoas, é apenas mais um acidente aos olhos dos usuários do Sistema Nacional de Trânsito. Triste realidade que devemos mudar com a educação para o trânsito” e a educação do trânsito”, pontua. Valdilson vai lançar um livro sobre trânsito neste mês de março.

Também estudioso sobre questões ligadas ao trânsito, o coronel da reserva Amaury Soares Vieira Júnior, destacou que todas as vezes que uma tragédia acontece no trânsito, costuma fazer uma análise dos sete pontos a respeito do motorista que o provocou: 1º Cumpriu a lei? 2º Estava em boas condições de saúde? 3º O veículo estava com a manutenção em dia? 4º As condições da via eram adequadas? 5º Estava concentrado em dirigir? 6º Foi prudente? 7º Respeitou os demais motoristas? “Em 100% das vezes as respostas para uma ou mais destas sete perguntas foi NÃO. No caso dos irmãos Rybinski, as investigações estão em curso e logo saberemos se houve imperícia, imprudência ou negligência, fatores agravantes para um sinistro acontecer. Fico triste pelas famílias das vítimas, que Deus as conforte e que a justiça seja feita”, lamentou o coronel. Ele também é autor de um livro sobre trânsito.

Balanço dos acidentes no trimestre

Médicos e especialistas em trânsito analisam os recentes acidentes ocorridos em Araucária

O perigo da combinação “álcool e direção”

A médica psiquiatra Kelly Juliane Silva dos Santos, da Clínica São Vicente, explicou os danos que o álcool acarreta ao ser humano. “A bebida alcoólica afeta o cérebro em duas regiões importantes. No córtex frontal causa prejuízo na coordenação motora e na contenção de impulsos. A pessoa fica mais impulsiva e imprudente, ao mesmo tempo em que afeta o cerebelo, provocando alterações no equilíbrio e na capacidade de avaliação espacial. É a fórmula perfeita para os acidentes”, elucida.

A psiquiatra lembra que o álcool, muitas vezes, é utilizado como uma forma de automedicação por pessoas que têm sintomas depressivos, ansiosos, e bastante comumente fóbicos-sociais. “E como o álcool gera dependência e acaba agravando estes sintomas a longo prazo, temos assim a fórmula para a instalação do alcoolismo. Gostaria de salientar o momento em que estamos vivendo, que acentuou bastante os problemas relacionados ao consumo de álcool. Temos visto muitas pessoas utilizando o álcool mais do que era comum antes da pandemia. É importante observar que isto é um sintoma de que algo não vai bem e que a pessoa precisa buscar auxílio especializado para frear as consequências que geram este hábito”, orientou.

Texto: Maurenn Bernardo

Publicado na edição 1252 – 11/03/2021

Compartilhar
PUBLICIDADE