Entenda como e porque aconteceram os crimes nesta segunda-feira

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Entenda como e porque aconteceram os crimes nesta segunda-feira

 

A tarde desta segunda-feira, 30 de julho, foi bastante agitada no meio policial em Araucária. O desfecho trágico, com indivíduos assassinados e uma mulher baleada, aconteceu devido à uma rixa de gangues na cidade, ambas com envolvimento no tráfico de drogas, conforme apontaram as investigações da polícia.

Conforme boletim de ocorrência registrado e também de acordo com informações de testemunhas e da Polícia Civil e Militar, por volta das 13h40, Chrytopher Tavares Nassif Langner, 19 anos, conhecido como “Kizo”, Kalahan James Lhano Simões, 25 anos, e Alexsandro Pereira da Silva, 26 anos, conhecido como “Paraguayo”, foram em uma casa na rua Joaquina Tonchak, no Porto das Laranjeiras. Segundo informações, eles chegaram em um VW Gol branco invadindo a residência e dizendo que eram policiais. Contudo, o trio, na verdade, chegou para cometer homicídios e estava fortemente armado para isso. Além, ainda, de estarem com coletes a prova de balas e gorros tipo balaclava.

Os três bateram na porta e foram atendidos pela mãe da família, Luciana Pereira de Souza, 41 anos. Ao abrir a porta, ela já foi baleada no tórax e no braço. Seu filho, Daymon Eduardo Lima de Souza, 22 anos, também foi baleado, mas ainda assim conseguiu fugir cerca de uma quadra para uma mercearia próxima. Já o amigo de Daymon, Renan Alves de Oliveira, 30 anos, tentou correr para o porão da casa, mas Kizo foi atrás dele e o executou lá mesmo com tiros na cabeça e no pescoço. Um dos cachorros da família, Fred, no intuito de defender o que considerava como seu território e também seus donos, acabou avançando em Kizo e mordeu sua mão. O bandido, então, atirou contra o inocente cão, que ficou também próximo ao corpo de Renan, no porão da casa, agonizando.

Kizo, Kalahan e Paraguayo, entraram novamente no Gol e foram atrás de Daymon. Por cerca de uma quadra, eles deram mais alguns tiros e encontraram o outro alvo sentado na mercearia. Acredita-se que Daymon já não conseguia mais correr para fugir, justamente porque já havia sido baleado na casa.

Conforme mostram as imagens das câmeras de segurança da mercearia, o trio desceu do Gol e Kalahan atirou, sem dó nem piedade, em Daymon. Dali, eles entraram no carro e fugiram. O que a polícia acredita é que nos instantes após o homicídio de Daymon, ficaram no Gol Paraguayo e Kalahan, mas Kizo embarcou em um Fiat Punto.

Os assassinos não contavam, no entanto, que dariam de cara com a polícia. Na avenida Independência, próximo a loja de materiais de construção Gai, houve uma perseguição entre viatura policial e o Gol. Kalahan e Paraguayo atiraram por diversas vezes contra os policiais, tanto que a viatura ficou com muitas marcas de tiro.

Na esquina da loja Gai, Kalahan desceu do Gol e tentou se esconder atrás de um carro que estava estacionado. Contudo, também nesta esquina há um Cmei e dentro deste carro havia quatro crianças, conforme contou uma das professoras. Na outra rua, uma mulher seguia em seu veículo com seus filhos, mas o policial conseguiu vê-la, e, imaginando que Kalahan pudesse tentar detê-la, indicou à mulher para que desse a ré.

De acordo com testemunhas, mais de 20 tiros foram ouvidos naquela esquina, provocando muito desespero e pavor nos que passavam por ali e moram na região, principalmente por se tratar se um local onde há o tráfego de crianças no Cmei. Por sorte, nenhum inocente foi ferido. Mas Kalahan foi atingindo na troca de tiros com os policiais e caiu morto na esquina. Já Paraguayo e um outro elemento, de acordo com os PM’s, conseguiram fugir em direção ao Condor. Paraguayo ficou escondido em uma oficina chamada Cristal, na av. Independência. Mas, a partir de denúncia anônima, poucas horas depois os policiais também o encontraram e o levaram preso. Já o outro indivíduo não foi encontrado.

Ainda, outros moradores da região, mas próximo a casa onde os crimes em sequência se iniciaram, comentaram que ouviram inúmeros disparos. Foi possível ouvir no local populares dizendo que o trio “veio fazer o serviço na família toda e primeiramente atiraram na mulher”.

Em paralelo a toda essa ação, o Punto em que estava Kizo foi encontrado em alta velocidade por outra viatura policial. Momento em que também foi iniciada uma perseguição e troca de tiros pelo centro da cidade. Kizo efetuou diversas manobras perigosas, atingindo carros estacionados nas ruas. A perseguição terminou somente na avenida Dr. Victor do Amaral, quase em frente à panificadora Pão e Vinho, quando Kizo subiu na calçada com o veículo e invadiu a loja Lady Bi, indo em direção à uma das vendedoras. Ele foi detido e disse aos policiais que havia ido acertar contas com um elemento no Porto das Laranjeiras que teria o jurado de morte. Ainda, foi constatado que já havia contra Kizo um mandado de prisão em aberto por homicídio.

Renan, Daymon e Kalahan morreram na hora. Luciane, a mãe de Daymon, foi socorrida pelo Siate e levada ao Hospital do Trabalhador, em Curitiba, onde passou por cirurgias e segue se recuperando sem risco de morte. Já o cão, Fred, não teve a mesma sorte. Apesar de ter sido retirado do porão da casa e levado à uma clínica veterinária, não resistiu às perfurações e acabou morrendo antes mesmo de realizar exames para verificar se o projétil estava instalado em seu corpo.

A polícia apreendeu três coletes balísticos, uma submetralhadora 9mm com numeração suprimida (que estava com Kizo), duas pistolas 9mm (que estavam com Kalahan e Paraguayo), munições intactas, além de carregadores com capacidade para 30 disparos e uma balaclava.

O veículo Punto estava com as placas adulteradas, sendo que as originais constavam alerta de roubo.

A motivação

Conforme explicou a Delegacia de Polícia Civil de Araucária, onde estão presos Kizo e Paraguayo, os crimes que aconteceram na segunda-feira são, na verdade, oriundos de uma briga entre gangues rivais, ambas envolvidas com o tráfico, sendo que uma delas era “comandada” por Kalahan James, que morreu em frente à loja Gai, e a outra por Rodrigo de Oliveira Camargo, 29 anos, conhecido como “Gago”.

Gago está preso desde o último dia 19 de julho, após o roubo de um carro. Naquela situação, houve uma perseguição aonde uma viatura policial veio a capotar. Gago estava no carro roubado com um segundo indivíduo, que foi baleado após troca de tiros com a polícia e que fugiu para um matagal próximo à PR-423. A DP suspeita que o homem que estava com Gago e conseguiu fugir era Daymon, morto na segunda-feira, ou o irmão de Daymon.

Após desavenças entre os grupos, na noite de 2 de janeiro deste ano a esposa e a filha de Gago, uma criança de 4 anos, foram mortas dentro do carro que Gago estava dirigindo, depois de uma perseguição no bairro Capela Velha. Segundo a polícia, Kalahan seria o autor do assassinato da esposa e da filha. Ainda, conforme laudos periciais, as duas vítimas teriam sido executadas e não vítimas de bala perdida.

Naquela ocasião, Gago, ainda que baleado, fugiu do local e ficou desaparecido após receber alta médica. Conforme informações, depois da sua recuperação, ele teria afirmado que iria se vingar pela morte da sua família.

Daymon e Renan seriam amigos de Gago e iriam ajudá-lo a consumar a vingança. Há informações, inclusive, de que haveria um áudio de Daymon ameaçando Kalahan, afirmando que se ele não aparecesse até o fim da semana, Daymon iria até a casa do desafeto e mataria toda a sua família. Acredita-se que, por isso, Kalahan resolveu se antecipar para mostrar o grupo que mais “teria força”.

Já Renan, que era amigo de Daymon e frequentava sua casa diariamente, seria pastor de uma igreja evangélica. No entanto, os membros da sua igreja jamais poderiam imaginar o lado obscuro da vida do pastor. A Polícia Civil, após investigações, acredita que foi Renan o autor do duplo homicídio dos irmãos, Richard Wesley Frediani, 20 anos, e Matheus Felipe Frediani, 18 anos, em 16 de julho, no Capela Velha. Isto porque, os irmãos seriam amigos de Kalahan.

Toda essa história de ódio e mortes violentas pode ainda não ter chego ao fim, conforme afirmaram populares na região em que aconteceram os homicídios. A DP continua investigando os crimes e segue tentando ligar toda a estrutura criminosa para tentar colocar um ponto final nesse conflito das quadrilhas.

Fotos: divulgação

Publicado na edição 1124 – 02/08/18

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