Uso de arma de choque pela GM deu o que falar

Vídeos da abordagem e de Tiago contando o ocorrido foram publicados no Facebook. Foto: divulgação
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Uso de arma de choque pela GM deu o que falar
Vídeos da abordagem e de Tiago contando o ocorrido foram publicados no Facebook. Foto: divulgação

 

 

O caso de um empresário araucariense que levou um disparo de arma de choque nesta segunda-feira, 5 de novembro, pela Guarda Municipal, gerou grande repercussão e polêmica nas redes sociais. O empresário em questão é Tiago Vitória, dono de barbearias na cidade. Ele, assim como os agentes de trânsito e guardas municipais envolvidos, contaram suas versões do que teria acontecido.

Segundo Tiago, por volta das 14h30, ele estava seguindo com a motocicleta do seu sócio pela rua Heitor Alves Guimarães, quando percebeu que estava sendo multado por agentes de trânsito que estavam em uma viatura estacionada na via, visto que naquele trecho havia radar móvel de velocidade. Tiago contou que recentemente recebeu multas e, indignado com a situação, por achar que as notificações são feitas com muita frequência e de forma “abusiva”, resolveu parar a moto e conversar com o agente para saber o motivo da nova multa. O agente então teria dito que seria porque a moto estava com o retrovisor recolhido.

“Logo ele começou a procurar algumas coisas na moto para poder me multar e queria apreender o veículo e levá-lo à Delegacia. Com isso, confesso que me alterei e falei que não iria deixar, segurando a chave da moto e tentei pegar o rádio da mão dele. Sei que errei fazendo isso, mas em nenhum momento o ameacei. Cheguei a sair de perto dele e só falei que não iria entregar a moto”, relatou Tiago, dizendo que, em seguida, viaturas da Guarda Municipal chegaram ao local.

O empresário comentou que, no momento em que estava conversando com os guardas, falando da sua indignação por estar sendo multado mais uma vez, foi atingido por disparo de arma de choque. “Foi a situação mais constrangedora e humilhante da minha vida. Eu não estava demonstrando nenhum risco à eles. Em momento algum eu os xinguei, inclusive estava com as mãos para trás, conforme é possível observar em vídeo que está circulando pelo Facebook”, disse. Tiago afirmou que o GM atirou duas vezes contra ele, a segunda vez depois que ele já estava imobilizado no chão. “Agora, já procurei um advogado e vou correr atrás dos meus direitos”, complementou.

Após levar o tiro com a arma de choque, Tiago foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) para que fossem retirados os dardos que são lançados na pele do indivíduo atingido. De acordo com ele, na UPA os médicos queriam que ele ficasse em observação por cerca de 6h, para realizar exames de sangue e receber soro. Porém, Tiago ficou no pronto socorro por 2h. “Os GM’s me tiraram de lá, assinaram um termo que eles se responsabilizavam por mim. Não me deixaram ser atendido, foram contra. Somente depois que fui liberado, retornei à UPA onde realizei os exames que antes haviam sido solicitados”, apontou.

Tiago destacou que acredita ter o direito de questionar o motivo da multa que estava recebendo. “Se o cidadão não reclama, acaba virando uma indústria de multas. Eu tenho comércio na cidade, pago meus impostos, não tenho motivo para fazer algo contra eles, apenas quis saber o porquê e fui agredido. Minha moral foi lá embaixo, me algemaram e me colocaram na viatura como se eu fosse um bandido”, declarou.

O empresário disse ainda que não quer prejudicar a Prefeitura, só não deseja que esse tipo de situação se repita. “Vou entrar com ação por danos morais, porque acho que o que aconteceu é total despreparo do GM. Não estou questionando a corporação, pois acho que ele é uma exceção”, esclareceu.

O OUTRO LADO DA HISTÓRIA

Os agentes de trânsito envolvidos na situação, assim como o coordenador Aranda da Guarda Municipal que estava presente no caso, e também o secretário municipal de Segurança Pública, José Fortes, deram suas versões sobre o ocorrido.

Segundo os dois agentes que estavam na viatura, Tiago passou por três vezes na Heitor Alves Guimarães. Na primeira, um dos agentes tentou ver o número da placa, porque ambos os retrovisores estavam fechados, mas, segundo eles, como tratava-se de “placa aérea”, o que é proibido, não conseguiu anotar. Na segunda vez, o agente tentou novamente, mas ainda não conseguiu ver com clareza a placa. Já na terceira vez, quando teria ouvido a motocicleta subindo pela via, colocou a cabeça para fora da viatura no intuito de enfim conseguir anotar o número da placa. Naquele momento, de acordo com os agentes, Tiago retornou e encostou a moto ao lado da viatura questionando a multa.

“Logo ele começou a nos desacatar e xingar. Quando eu tentei sair da viatura, ele pressionou a porta, impedindo que eu descesse do carro. Ainda, tomou o rádio da minha mão, mas eu consegui pegar novamente. Ele estava muito exaltado e fazendo realmente um desabafo sobre as multas que havia recebido. Devido ao estado mais alterado que ele encontrava-se, pedi prioridade no rádio e em menos de um minuto três viaturas da Guarda Municipal, que estavam naquele momento passando pela região, chegaram ao local”, relatou a agente.

A partir daí, a história foi com a GM. Segundo o coordenador Aranda, os guardas pediram documento da moto e Tiago teria se negado a entregar. “Ele dizia que ali não havia homem para fazê-lo entregar a moto e o documento. Que ninguém o encostaria, nem o algemaria. Ele estava bem alterado, gritando muito. Foi quando demos voz de prisão por desacato”, afirmou.

Fortes explicou que, nesse tipo de situação, a fim de evitar contato físico que pode gerar lesão física ao indivíduo em questão, o indicado é que seja usada a arma de choque, no caso da GM em Araucária, modelo Spark. “Todos os GM’s são treinados para usar a Spark, que é uma arma de choque não letal que dispara um pulso elétrico que imobiliza o alvo. Inclusive, recentemente toda a corporação passou por requalificação e receberam novamente treinamento específico de arma de choque”, apontou.

A ação

Conforme explicou o secretário, há procedimento para uso da arma, até mesmo porque o alvo deve estar próximo a um anteparo, para que, ao cair no chão, não corra o risco de bater a cabeça e se machucar. “Como é possível observar no vídeo que foi filmado por um morador do condomínio naquela rua, o GM só disparou quando notou que o Tiago estava próximo a um portão. Mesmo após o primeiro disparo, quando ele começou a reagir nos segundos seguintes, ainda apresentou resistência para ser algemado. Somente por este motivo foi feito o segundo disparo, e então o Tiago colocou as mãos para trás e obedeceu a ordem. Ali, foi cessada a ação do guarda que estava com a Spark”, disse.

Fortes explicou também que todos os GM’s, durante treinamento, recebem o disparo de choque. De acordo com ele, o efeito dura cerca de 5 segundos e é similar a uma câimbra que se espalha por todo o corpo, fazendo com o que o indivíduo fique esticado no chão.

“Devido à amperagem, sabe-se que essas armas não afetam o coração e não oferecem nenhuma outra reação ao corpo humano. Na UPA, o médico que atendeu o Tiago, talvez não tivesse essa informação e por isso pediu para que ele ficasse em observação por tanto tempo. Mas, como nós conhecemos o equipamento que usamos, sabemos que só é preciso fazer a retirada do dardo que fica na pele do indivíduo, atendimento que o Tiago recebeu”, declarou o secretário.

O GM Aranda enfatizou que os guardas ficaram por volta de 20 a 25 minutos tentando conversar de forma branda com Tiago, que, a todo o momento, mostrava-se muito nervoso. Os agentes de trânsito lembraram também que além dos retrovisores recolhidos, a motocicleta estava com outros acessórios proibidos, como escapamento e a chamada placa aérea, mas ainda assim a multa expedida foi somente pelo retrovisor.

Publicado na edição 1138 – 08/11/18

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