‘Viu, sentiu compaixão e cuidou dele’ (Lc 10, 33-34)

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A Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja Católica durante o tempo da quaresma, há mais de cinco décadas, aprofunda um tema relevante para a conversão pessoal e, consequentemente, para a mudança da sociedade. Neste ano, somos convidados a olhar, de modo mais atento e detalhado, para a vida. A refletir sobre o significado mais profundo da vida e a encontrar caminhos para que esse sentido seja fortalecido e, algumas vezes reencontrado. Ela nos interpelará a respeito do sentido que estamos, na prática, atribuindo à vida nas suas diversas dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica.

A Campanha da Fraternidade de 2020 proclama: a vida é Dom e Compromisso! Seu sentido consiste em ver, solidarizar-se e cuidar. A vida é essencialmente samaritana, tal qual o homem que interrompeu a sua rotina de vida, para cuidar de quem estava caído à beira do caminho. Não se pode viver a vida passando ao largo das dores dos irmãos e irmãs. Nós somos interpelados a recuperar o valor do compromisso. Assustados pela indiferença torna-se urgente testemunhar e estimular a solidariedade. A Santa Dulce dos pobres é um verdadeiro exemplo e testemunho de que a vida é dom e compromisso. Irmã Dulce que via e se compadecia e cuidava do próximo.

Diante de um mundo marcado pela indiferença, o texto do bom samaritano nos convida a fazer esta pergunta: ‘quem é o meu próximo?’ O próximo não é apenas alguém com quem possuímos vínculos, mas todo aquele de quem nos aproximamos. É todo aquele que sofre diante de nós. Não é a lei que estabelece prioridades, mas o comportamento cheio de compaixão que impulsiona a fazer pelo outro aquilo que é possível, rompendo desta forma, com a indiferença. A fé leva necessariamente à ação, à fraternidade e à caridade.

Não se deve questionar quem é o destinatário do amor. Importa identificar quem deve amar e não tanto quem deve ser amado, pois todos devem ser amados sem distinção. A medida do amor é estabelecida pela necessidade do outro, acolhendo como próximo qualquer pessoa de quem se possa acercar com amor generoso. Isso abre uma nova perspectiva nos relacionamentos, excluindo a indiferença diante da dor alheia. É a pessoa em situação de necessidade a quem devemos reconhecer como próximo e usar de misericórdia para com ela.

Diz o papa Francisco que devemos: ‘Ser capazes de sentir compaixão: essa é a chave. Essa é a nossa chave. Se, diante de uma pessoa necessitada, você não sente compaixão, o seu coração não se comove, significa que algo não funciona. Fique atento, estejamos atentos. Não nos deixemos levar pela insensibilidade egoística. A capacidade de compaixão se tornou a medida do cristão, ou melhor, do ensinamento de Jesus’.

O rompimento da indiferença torna o samaritano mais humano. A compaixão expressa o zelo aos moldes de Deus: aproximar-se e fazer-se útil ao outro e servi-lo. Quaresma é este tempo especial para sairmos de nossa alienação existencial causada pelo pecado e aprender com Jesus que é o modelo por excelência de quem sai de si mesmo para dar a vida pelo outro. Ele é o bom samaritano que se aproxima dos homens e das mulheres que sofrem e, por compaixão, lhes restitui a dignidade perdida. Ver, sentir compaixão e cuidar serão os verbos de ação que nos conduzirão neste tempo quaresmal. Que possamos nos dispor a uma profunda conversão da cultura da morte para a cultura da vida.

Publicado na edição 1201 – 27/02/2020

‘Viu, sentiu compaixão e cuidou dele’ (Lc 10, 33-34)
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